Lista de 'jurados de morte' e assassinatos espalha medo em Cruzeiro, no Vale do Paraíba

Uma série de assassinatos que podem ser caracterizadas como execução está deixando em pânico os moradores da cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba. Até mesmo uma lista, com fotos e nomes das vítimas e dos próximos alvos foi divulgada nas redes sociais. O Município está entre as mais violentas de todo o estado de São Paulo.

Somente no mês de janeiro foram registradas quatro mortes. Nos últimos dois meses foram 11 assassinatos na Cidade. A polícia conta com a hipótese da ação do Primeiro Comando da Capital (PCC), e acredita que as mortes estejam relacionadas a disputas entre traficantes de drogas da região. 

O ano de 2021 fechou como sendo o mais violento na história de Cruzeiro nos últimos vinte anos, desde que a estatística da criminalidade passou a ser computada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP). O texto conta com informações do Estadão.

A Cidade de 82,5 mil habitantes, ficou em primeiro lugar no ranking dos municípios mais violentos do interior do estado, de acordo com dados preliminares da Polícia Civil. Em 2020, ficou atrás apenas de cidades litorâneas cujo índice de mortes violentas é influenciado pela população sazonal - Peruíbe, Itanhaém, Ubatuba e Mongaguá. Na ocasião, Cruzeiro amargou a soma de 33 mortes dolosas.

Fotos das vítimas com "X"

Usando o Facebook, criminosos marcavam com um "X" o rosto das vítimas em fotos da rede social, indicando que aquela pessoa havia sido assassinada, conforme investigação da Polícia. A mesma rede foi usada também para divulgar as fotos daqueles que estavam sendo procurados pelos bandidos.

Os policiais afirmam que os criminosos criam perfis falsos na plataforma e assim compartilham as fotos das vítimas e dos procurados sem serem identificados pelas autoridades.

Rixas e drogas

Segundo a delegada seccional de Cruzeiro, Sandra Maria Pinto Vergal, as mortes têm ligação com vinganças entre grupos criminosos dos bairros Vila Romana e Vila Batista, e o tráfico de drogas está quase sempre associado a estes crimes.

"Acontece uma morte de um lado e amigos da vítima vingam, matando alguém do outro lado.", conta. Segundo Sandra, os criminosos um conjunto habitacional popular na Cidade para transformá-lo em uma espécie de "bunker".

"Seis dos homicídios aconteceram lá, mas vigora a lei do silêncio, o que dificulta a investigação. A gente sabe que tem tráfico, recebe denúncia, manda equipe lá e, quando chega, já não acha nada."

O condomínio soma contas de R$ 200 mil desde que a última síndica abandonou o local e a entrada de veículos e pessoas na área ficou sem controle.

"Entra e sai quem quer durante o dia, mas à noite é toque de recolher. Andar por aqui à noite é pedir bala", conta o pai de um rapaz assassinado. "Tem gente que fica 'passando o pano' para os 'tretas' e eles escolhem quem vai morrer. Tem cara que dorme o dia inteiro e sai à noite para 'cumprir tarefa' (matar)", completou.

A polícia teve acesso a conversas de criminosos sobre novos alvos. "Este vai ser só na cara, chefe. Pode pá, que o velório amanhã já vai sair", diz um suspeito. Horas mais tarde, o mesmo homem afirma que matou a pessoa errada. "Não sei quem era o cara, entendeu? Desceu e arrebentou, parça."

A conversa aconteceu em um curto período em que duas pessoas foram assassinadas e outras duas ficaram feridas no condomínio. No Facebook, a polícia também encontrou montagens com as fotos das supostas vítimas, com o recado. "Já foram 2, falta o resto dos comédia (sic)."