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Cotidiano

Otan disfarça a própria crise com novo plano contra a Rússia

Após reunião em Bruxelas, a aliança militar ocidental concordou em colocar em prática um plano para tentar resistir ao que chamam de agressão russa nas regiões dos mares Báltico e Negro

Maria Eduarda Guimarães

22/10/2021 às 17:23

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Reunião ministerial de defesa da OTAN em Bruxelas Bélgica

Reunião ministerial de defesa da OTAN em Bruxelas Bélgica | DoD de Chad J. McNeeley

Em meio a uma crise de liderança de seu principal membro, os Estados Unidos, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) lançou mão do seu motivo de existência para mostrar alguma unidade no primeiro encontro presencial de seus ministros de Defesa desde a pandemia.

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Após um encontro de dois dias, encerrado nesta sexta (22) em Bruxelas, a aliança militar ocidental concordou em colocar em prática um plano para tentar resistir ao que chamam de agressão russa nas regiões dos mares Báltico e Negro.

Nada foi revelado, mas foi vazado à imprensa que os preparativos incluíam a previsão de ataques com armas nucleares, guerra cibernética e tecnologia espacial. Nada além do que já está no cardápio do clube criado para conter a União Soviética na Europa em 1949, o que reforça o caráter de tergiversação do anúncio.

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"Isso confirma vivamente a correção da decisão russa, adotada vários dias atrás, acerca de encerrar o diálogo oficial [com a Otan]. Qualquer diálogo sob tais condições é simplesmente desnecessário", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O corte de relações ocorreu após a Otan determinar que a missão russa junto à aliança fosse reduzida de 20 para 10 pessoas, e expulsando 8 diplomatas acusados de espionagem. No dia 18, a Rússia suspendeu a sua missão em Bruxelas e mandou fechar o escritório do grupo em Moscou.

Ao jogar holofotes sobre seus problemas com o país de Vladimir Putin, que também nesta sexta criticou duramente o que chamou de valores "monstruosos" do Ocidente numa conferência, a Otan buscou disfarçar sua crise interna.

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Apesar das promessas do governo de Joe Biden de reatar os laços esgarçados pela turbulenta Presidência de Donald Trump, os EUA são hoje vistos com extrema desconfiança pelos aliados europeus.

No centro disso está a retirada americana do Afeganistão. Ainda que prevista num acordo com o Talibã assinado no ano passado, ela foi uma decisão exclusiva dos EUA, que tinham no país menos da metade do número de soldados que seus aliados da Otan mantinham.

O resultado foi a retirada caótica e com centenas de vítimas registrada em Cabul, além da retomada militar do Afeganistão pelo grupo fundamentalista que havia sido expulso pelos mesmos ocidentais do poder em 2001.

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Naturalmente, isso não transpareceu em comunicados oficiais. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, afirmou após a reunião que seu país segue comprometido com a aliança atlântica, mas passou mais tempo botando panos quentes sobre a declaração de Biden acerca do compromisso de defender Taiwan da China.

Antes do começo do encontro, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, havia dito que a missão ocidental no Afeganistão não havia sido um fracasso. Mas admitiu que havia divergência de percepção da retirada entre europeus e americanos, e que o encontro permitiria debater isso de forma franca.

Outro tema central é o foco norte-americano no Indo-Pacífico, que ganhou intensidade nos últimos meses, a começar pelo fim do dispêndio de energia no caso afegão.

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A Otan já concordou que a China é uma possível adversária, mas vários de seus integrantes são contrários à uma posição mais agressiva ante Pequim por serem parceiros comerciais do gigante asiático.

O pacto militar de Washington e Londres com a Austrália, por exemplo, gerou enorme desconforto nos franceses, que perderam um bilionário acordo para venda de submarinos à nação na Oceania.

Novamente, em público nada se falou sobre isso. O bode, contudo, segue na sala. Em uma reunião preparatória para o encontro, realizada há algumas semanas em Riga (Letônia), diplomatas franceses deixaram a mesa numa discussão sobre o caso australiano com americanos e britânicos.

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A França também provocou tremores dentro da aliança ao firmar uma pacto bilateral com a Grécia mirando outro membro da Otan, a Turquia. Atenas é rival histórica de Ancara, e Paris também alimenta grande antipatia no governo de Recep Tayyip Erdogan.

Ao permitir uma defesa mútua em caso de ataque por outro membro da Otan, o princípio de proteção externa comum a todos os integrantes da aliança foi desafiado. De quebra, Erdogan tem estreitado laços militares com o Kremlin.

Com tudo isso, mais fácil falar mal do velho inimigo de todos, a sempre assertiva Rússia. Se não há detalhes ainda sobre o que o plano de contenção trará, nem tampouco é segredo que as relações com Moscou estão no pior nível desde o fim da Guerra Fria.

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Além do corte de contatos, há a questão da aproximação da Ucrânia com a Otan, as disputas fronteiriças entre a aliada de Moscou Belarus e membros da Otan como a Polônia, a intensificação de abordagens mútuas justamente no Báltico e no mar Negro - uma fragata britânica recebeu tiros de advertência na costa da Crimeia em julho.

E os russos têm avançado em diversas áreas, como no desenvolvimento de mísseis hipersônicos e em exercícios militares elaborados. Segundo a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, o plano "é o caminho da dissuasão". Ninguém falou, contudo, em qualquer risco de conflito iminente.

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