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Cotidiano

ONG processa shopping de SP e pede R$ 6 milhões por ofensas de Papai Noel

O homem vestido de papai noel teria dito que crianças negras não poderiam ganhar presentes caros

16/12/2021 às 19:19  atualizado em 16/12/2021 às 19:20

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Foto divulgada pelo Shopping Plaza Sul

Foto divulgada pelo Shopping Plaza Sul | Reprodução/Redes sociais

No último dia 3 uma mulher disse ter passado por uma situação vexatória com seus filhos no Shopping Plaza Sul, na capital paulista, quando um homem vestido de papai noel teria tratado as crianças de forma discriminatória. Agora, uma ONG do movimento negro entrou com uma ação civil pública contra o Shopping uma vez que o homem teria dito que crianças negras não poderiam ganhar presentes caros e que a mãe deles teve muitos filhos por não ter televisão em casa. 

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Para a Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), as declarações do ator são racistas. Por isso, protocolou a ação nesta terça-feira (14) na 4ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo e pede indenização de R$ 6 milhões. 

"O simbolismo presente nesta situação é gravíssimo. Estamos falando de um momento de congraçamento, de paz, de solidariedade, que são sentimentos suscitados pelo Natal. Nem nessa hora, pessoas negras, especialmente crianças, estão livres de atos de racismo. Por isso, as entidades sentiram a necessidade de agir prontamente de forma incisiva contra os réus", diz Márlon Reis, advogado da Educafro. 

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Reis explica que, por ser uma ação civil pública, "o destino dos valores é reparação de danos causada ao povo negro". Por isso, o valor, em caso de ganho de causa, será destinado ao Fundo de Igualdade Racial, que fomenta instituições focadas no combate à desigualdade. 

"Devido a isso, a ação não trata dos direitos individuais da mãe e das crianças, mas, sim, da humilhação imposta ao povo negro representada nesta família", afirma o advogado. 

Após o incidente, a administração do Shopping Plaza Sul afastou o ator contratado para ser Papai Noel. Reis explica que o processo se justifica ainda assim porque a agressão moral já aconteceu. 

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"O shopping será responsabilizado por não ter tido a cautela de contratar o serviço adequado. Demitir o empregado só impede que o fato volte a acontecer, mas não retira o fato já ocorrido. Eles deveriam ter tido muito cuidado antes, dado o treinamento adequado, selecionado a pessoa certa e garantido que isso não acontecesse com antecedência." 

Por meio de nota, o Plaza Sul Shopping informou que lamenta o ocorrido e se solidariza com a família. "A atitude do ator contratado - por empresa terceirizada - está completamente equivocada e não condiz de forma nenhuma com as orientações passadas pelo shopping. O profissional já foi substituído", anunciou a empresa, em nota.
O caso que motivou a ação ocorreu no início deste mês e foi relatado nas redes sociais por Tamires Silva de Oliveira, 29, que trabalha como autônoma. Mãe de quatro filhos, ela contou ter levado a família ao shopping. Quando passaram em frente à decoração de Natal, todos foram convidados a tirar uma foto com o homem fantasiado de Papai Noel. 

Segundo conta Tamires, o Papai Noel chamou seu filho de 6 anos e perguntou o que ele queria ganhar de presente. Após ouvir que a criança queria um skate elétrico, o homem perguntou a ela quanto o pai dela ganhava. Depois, declarou: "Olha, esse presente não condiz com a sua realidade". 

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Após o comentário, segundo afirma Tamires, a criança se afastou. Chegou a vez do menino mais velho, de 12 anos. Após ouvir que o adolescente queria ganhar, o Papai Noel afirmou: "Não, esquece!". 

Quando a família estava saindo do local com seus filhos, diz Tamires, o Papai Noel ainda questionou se os filhos eram dela. Após receber uma resposta positiva, o homem retrucou: "Você não tem televisão?". 

Moradora da comunidade Água Funda, também na zona sul da capital paulista, a família está sendo auxiliada jurídica e psicologicamente pela ONG Novos Herdeiros. O diretor da organização, Marcelo Campos, diz que o Plaza Sul já sinalizou interesse em dialogar e ressarcir à família. 

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"A Tamires tem síndrome do pânico. Com a repercussão do caso em toda a mídia e redes sociais, ela ficou muito abalada. A criança maior é mais quieta e reservada, mas o menino menor tem perguntado se existe outro Papai Noel, para onde foi aquele que estava no shopping." 

"Por causa de todo esse alvoroço, provemos rodas de conversas sobre a questão com as crianças das comunidades. Muitas delas não querem mais ir ao shopping e nem tirar fotos com o Papai Noel", contou Campos. 

A instituição atua com 240 crianças que moram em quatro comunidades no entorno do shopping. No próximo sábado (18), a instituição fará uma festa de Natal para as crianças que terá, pela primeira vez em 21 anos, a presença de um Papai Noel e uma mamãe Noel. 

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A reportagem tentou contato com Tamires, mas não conseguiu. Segundo Campos, ela não falará por orientação de advogados. 

O presidente do Cedine-RJ (Conselho Estadual dos Direitos do Negro), Luiz Eduardo Negrogun, afirma que apoia a ação movida pela Educafro: "O racista só sente o medo e a dor quando bate no bolso dele", comentou. 

"[O caso é] mais um absurdo desse processo enraizado na sociedade, esse câncer que chamamos de racismo, que está em todas as esferas, inclusive, a trabalhadora", emenda Negrogun. 

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Ele diz considerar um absurdo o ator, que deveria ter toda uma sensibilidade para atender o público, principalmente o infantil, ao interpretar uma fantasia que remete aos sonhos das crianças, ter essa posição. "Ele só tem essa posição com crianças negras e pobres", lamenta.

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