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Cotidiano

ENEM será totalmente reformulado, terá duas fases e questões dissertativas

Entre as novidades na aplicação da prova está o uso de inteligência artificial para propor questões conforme o nível de dificuldade dos estudantes

09/12/2021 às 19:14  atualizado em 09/12/2021 às 19:41

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Movimentação de candidatos em local de aplicação do ENEM

Movimentação de candidatos em local de aplicação do ENEM | MARCELLO CASAL/AGÊNCIA BRASIL

O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) deve passar por uma reformulação profunda e ganhar etapa adicional no processo avaliativo, passando a contar, portanto, com duas fases, assim como ocorre em muitos vestibulares de universidades públicas do País.

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Conhecido como a principal forma de entrada no ensino superior, o ENEM será modificado para se adaptar ao novo modelo de ensino médio, que será obrigatório no Brasil já a partir do ano que vem. A proposta do novo ensino médio contempla os chamados Itinerários Formativos (IF's) que são disciplinas de caráter mais profissionalizante e que devem ajudar a nortear a escolha de carreira dos estudantes. Assim o ENEM passaria a englobar as características esta nova proposta de ensino.

Atualmente, o ENEM é composto de 180 perguntas de múltipla escola, mais uma redação com o limite máximo de 30 linhas. É uma prova cansativa, que tem sua aplicação realizada em 2 dias, com um intervalo de uma semana. O Exame é utilizado por estudantes de todo o país não só como instrumento de avaliação da qualidade de ensino nos últimos anos da formação básica, mas também para o ingresso destes concluintes no ensino superior.

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A Veja teve acesso à emenda que define o novo modelo da prova. Entre as mudanças propostas, está a realização da prova em duas fases, assim como ocorre em vestibulares concorridos como o da Universidade de São Paulo, por exemplo.

Na primeira fase, seriam avaliadas as competências de literatura, Inglês e linguagens, além da redação, que será mantida no processo. Esta primeira fase seria obrigatória a todos os candidatos. De acordo com a ementa, o intuito desta fase da prova é “solução de problemas básicos que auxiliem a medir a capacidade de raciocínio e argumentação do estudante, saindo do foco conteudista que pauta o exame atualmente”.

A segunda etapa do ENEM, prevista no projeto, prevê uma avaliação mais focada e que poderá ter quatro sub-áreas de avaliação, conforme a escolha do candidato. São elas:

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  • Ciências, tecnologia, engenharia e matemática: prova que avaliaria os alunos que têm interesse nas carreiras de engenharia, química, matemática e afins.
  • Ciências sociais aplicadas: destinada a alunos interessados em cursar direito, administração, economia, ciências sociais, e outros.
  • Humanidades, Linguagens e Artes: nesta sub-prova seriam avaliados, principalmente, os candidatos aos cursos de licenciatura como história, geografia, filosofia, pedagogia, letras, etc.
  • Ciências biológicas e saúde: esta é a prova que alunos interessados em cursos como medicina, biologia, enfermagem e gerontologia devem realizar.

"A segunda etapa do ENEM deverá avaliar os itinerários formativos do ensino médio, observando os eixos estruturantes dos itinerários e o aprofundamento das competências e habilidades da BNCC pelos estudantes em suas áreas de interesse relacionados ao seu projeto de vida e sua opção de estudos em nível superior" (Maria Helena Castro, relatora da proposta de mudanças no ENEM)

Ainda segundo a ementa, ficaria a cargo das universidades que participam do Sisu - o Sistema de Seleção Unificada, que usa a nota do ENEM para conceder vagas aos estudantes nas instituições - a forma como as notas dessas provas de segunda fase serão utilizadas como critério de avaliação.

Outra mudança importante no Exame é o uso de perguntas dissertativas que atualmente não compõem a forma de avaliação do ENEM. Para decidir incluir questões deste tipo, a comissão informou que analisou os sistemas de seleção de universidades em países como Estados Unidos, Alemanha, China e Reino Unido.

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“Observou-se um certo consenso acerca da necessidade de incluir questões dissertativas no exame para avaliar uma formação com ênfase no desenvolvimento de competências como propõe a Base Nacional Comum Curricular", define o documento. Com isso, o ENEM se assemelharia a provas concorridas como a da Universidade de Campinas, em São Paulo e outras universidades brasileiras.

Mas novidades propostas para a Prova não param por aí. O ENEM deve também contar com inteligência artificial no processo de correção das respostas dos candidatos. Ocorre que, o uso de questões dissertativas, segundo a comissão, aumentaria o tempo de correção e também os custos de execução do Exame. Sem falar no prazo para divulgação dos resultados.

A mesma tecnologia de inteligência seria utilizada também na Teoria de Resposta ao Item (TRI), um artifício que já existe no ENEM atualmente. O TRI calcula o grau de dificuldade atribuído a determinada questão e o desempenho dos candidatos naquela pergunta de modo a balancear a pontuação atribuída àquele item. Com a mudança, o TRI seria calculado ainda durante a realização da prova, a fim de que a próxima questão apresentada ao candidato seja mais efetiva.

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" apresentado um item a ele, a partir da resposta é feito o cálculo da proficiência, que elege o item seguinte. O estudante vai percorrendo os itens até que se chegue à proficiência <br>" (Afirma o documento)

No entanto, para usar este tipo de tecnologia na Prova, algumas mudanças estruturais teriam de ser feitas. A primeira delas é que o Exame teria de ser 100% digital, para todos os candidatos. Além disso, as questões não poderiam ser divulgadas após a aplicação da Prova - atualmente, os alunos têm livre acesso às questões após a sua realização.

Outro empecilho que está no radar da comissão que fez a proposta é a carência de novas perguntas para o banco de questões do ENEM. Assim, uma prova que cobra conteúdos de forma dinâmica necessitaria, em tese, que uma mesma pergunta pudesse ser utilizada mais de uma vez, defende a ementa. Como benefício, o número de questões no teste poderia ser reduzido pela metade.

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O plano para reformulação do principal vestibular do país tem como um de seus referenciais, o SAT, prova similar ao ENEM que é utilizada nos Estados Unidos. A novidade emprestada do modelo americano é a aplicação da prova três vezes ao ano. Assim, os estudantes brasileiros teriam quatro chances de ingressar na universidade, ao longo de doze meses.

Outro teste usado pelos especialistas daqui para criar o novo ENEM é o PISA, prova internacional usada pelos países membros da OCDE para avaliar a qualidade de ensino nestas nações.

O novo ENEM já tem sua proposta aprovada na comissão especial e agora segue para homologação do Ministério da Educação. O texto ainda deve passar por votação do CNE em janeiro, que tem caráter apenas consultivo. Para se tornar realidade, o novo modelo de teste deve ser aprovado pelo ministro Milton Ribeiro. Caso isso aconteça, o maior vestibular do país deve passar por sua maior reformulação nos próximos anos, passando a valer, neste novo molde, em 2024.

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