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Cotidiano

Transtorno narcisista atinge relações entre pais e filhos e não tem cura

Após semanas acompanhando a polêmica entre Larissa Manoela e seus pais, o Diário do Litoral conversa com a psicóloga Mônica Minder sobre como a doença pode afetar relacionamentos

Luana Fernandes

27/08/2023 às 09:00

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Mônica Minder é psicólogo e atende em consultório no Guarujá

Mônica Minder é psicólogo e atende em consultório no Guarujá | Divulgação

A polêmica envolvendo a família da atriz e cantora Larissa Manoela, de 22 anos, movimentou as redes sociais e os programas de televisão nas últimas semanas. A filha artista precisou romper com os pais após descobrir irregularidades em suas empresas e não ter acesso ao próprio patrimônio, construído em 18 anos de carreira. Fãs ou não, quem acompanhou a entrevista da artista no Fantástico ficou assustado com a relação entre pais e filha. Vários foram os comentários e as especulações, a favor ou contra a situação, mas Silvana Taques e Gilberto Elias receberam a ‘plaquinha’ de pais narcisistas.

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Para falar sobre a situação, a bancada do Diário Kiss recebeu a psicóloga Mônica Minder, que atua na Região e já analisou vários jovens que sofrem com o narcisismo praticado por quem deveria proteger e cuidar. Segundo ela, as pessoas estão mais conscientes em procurar ajuda psicológica quando têm algum problema. 
“A gente que trabalha com psicologia desde a pandemia, a gente tem observado uma movimentação diferente acontecendo. A psicologia precisa e está sendo desmistificada. Não é mais coisa de louco. Nunca foi na verdade. Então, a gente vem observando desde crianças e adolescentes que me chamam no instagram ou no whatsapp querendo saber como faz. E também vê um movimento dos mais velhos, dos idosos, buscando ajuda compreendendo que não precisam estar sós. Eu acho que a pandemia trouxe um pouco disso. Da gente olhar que não precisa estar só, do quanto a nossa saúde mental ela é fundamental para estarmos bem”, explica.

Mesmo com uma maior procura, ainda há pessoas que resistem na hora de buscar tratamento, principalmente na relação pais e filhos. “Geralmente, os pais têm aquela resistência. Talvez, muitas vezes, por considerar que levar um filho ao psicólogo é admitir que falharam. Talvez eles tenham esse receio de achar que estão falhando em alguma forma e que não estão conseguindo. Vai muito daquela fantasia que os pais criam de serem perfeitos”, comenta a psicóloga.

Na sala de terapia é possível encontrar muitos pacientes que culpam os pais por conta dos problemas atuais. Muito também se fala sobre educação positiva e sem traumas para que a criança se torne um adulto mentalmente saudável. Mas será que, assim como cantava Renato Russo, “você culpa seus pais por tudo”? “Não vou dizer que eles são culpados por tudo, mas eles são responsáveis por bastante coisa. Hoje, adultos, nós somos reflexos muito daquilo que os nossos pais nos trouxeram. A questão da culpa entra no sentido do que você vai fazer com isso: passar a vida inteira culpando os seus pais por eles não terem sido perfeitos ou se você vai buscar uma melhor uma evolução, um tratamento e sair disso”, complementa Mônica.

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A relação pais e filhos não está só retratada na música da Legião Urbana, mas é a pauta principal de muitas rodas de conversa, grupos de whatsapp e páginas nas redes sociais. É possível encontrar até coaches que falam sobre o assunto e prometem ajudar a melhorar o relacionamento e forma de se educar um filho. Com o caso da Larissa Manoela, os debates ocuparam uma esfera nacional. Mas, você sabe o que são pais narcisistas? Mônica responde: “na verdade, as pessoas tendem a associar muito o narcisismo com as questões de vaidade e tudo mais. Não tem nada a ver com isso. O narcisismo é um transtorno psíquico. Ele está lá no DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e é um transtorno de personalidade”.

O trabalho de um psicólogo, que neste domingo (27) celebra a data comemorativa da profissão, é essencial para identificar o transtorno e também para quem sobre com a ação do narcisista. “A Larissa Manoela deve entender que seus pais são narcisistas através do próprio terapeuta. O narcisista em si não busca psicólogo, ele só busca quando ele quer afirmar para outro ‘não eu vou melhorar’, quando ele está querendo manipular ali de alguma forma. Então, ele vai em busca de ajuda quando ele tá querendo manipular a pessoa”, explica Mônica.

Segundo a psicóloga, que atende em consultório no Guarujá, a pessoa que tem transtorno narcisista acha que é o detentor de toda a verdade e as pessoas têm que estar ali para servi-lo e serem espelhos. “Já vem do mito de Narciso que fica preso ali na própria imagem quando ele se vê refletido no rio. Então, o narcisista espera que o outro reflita seus próprios desejos. Quando a pessoa não faz é a hora que ela é atacada. No caso da Larissa Manoela, por exemplo, enquanto ela está ali servindo os pais, ok. No momento que ela diz um não para os pais é o momento onde ela é atacada verbalmente, psicologicamente. Em alguns casos pode acontecer fisicamente também”, completa.

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Ainda segundo Mônica, não há algo concreto sobre a origem deste transtorno - se é hereditário ou se é gerado através do meio em que se vive. “Existem filhos de narcisistas que vão se tornar narcisistas assim como vão ter filhos de narcisistas que jamais se tornaram narcisistas. É uma combinação de fatores. Por exemplo, pode acontecer de cuidadores que tenham sido excessivamente críticos e criado um filho ali com narcisismo ou também pode ser pais que elogiaram demais, que serviram demais, que endeusaram”, comenta a médica.

A vida de quem convive e precisa lidar com um narcisista é complicada, o que gera não só problemas emocionais como também pode causar outros transtornos, como a ansiedade e a depressão. “O narcisista manipula para que o outro se sinta culpado. Você pede desculpas mesmo estando certo, você aceita os gritos e tudo mais que você recebe do outro mesmo sabendo que você não está errado e você se sente culpado. Então, filhos de narcisistas são pessoas com baixa autoestima, inseguras e com muita dificuldade para se relacionar, tanto em relacionamentos amorosos quanto em outros tipos de relacionamento. A vítima do narcisista tem dificuldade de se posicionar na vida. Eu acho que a gente entra muito já numa questão social mesmo, o quanto a nossa cultura ela traz os pais como algo sagrado. Na cultura, na religião, os pais são sagrados então se considera que os filhos têm que amar e respeitar os pais acima de qualquer coisa. Porém, isso não significa aceitar qualquer coisa. É importante que um filho de narcisista consiga impor limites, se colocar enquanto um ser que merece respeito. A gente vê a Larissa Manoela recebendo muitas críticas, não só pelo fato de ter aberto mão de tanto dinheiro, mas, principalmente, pelo rompimento com os pais. Mas, a verdade é que talvez essa seja a única forma dela continuar vivendo. Porque a relação com narcisista leva a ansiedade e a depressão”.

O transtorno de personalidade narcisista tem subtipos, como explica a psicóloga Mônica Minder em entrevista ao Diário Kiss disponível na página do Diário do Litoral no Youtube. “Então, você imagina, uma mãe narcisista de uma filha que é muito famosa, que ganha muito dinheiro, como ela vai controlar isso? Dentro do narcisismo existem subtipos. Avaliando (a mãe da Larissa Manoela), a gente poderia dizer que é do tipo tirana, que é aquele tipo onde ela quer ter total controle. Ela precisa disso. Então essa mãe busca a dominação e a única forma dela conseguir isso com essa filha aqui é manipulando através do dinheiro. Essa mãe sabe que a partir do momento que essa filha tiver acesso a sua fortuna, ela perde controle”

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Mesmo tentando amenizar os sintomas com terapia, o narcisista não tem cura. É um transtorno crônico que causa dor tanto para o oprimido quanto para o opressor. “O transtorno do narcisista não tem cura. Ele é crônico, mas também é importante destacar que a pessoa narcisista sofre com aquilo, porque ela nunca está satisfeita, ela nunca está feliz, ela não consegue encontrar a felicidade real. Existem formas de tentar diminuir os sintomas, então a terapia funciona nesse sentido de tentar amenizar os sintomas e fazê-lo enxergar o comportamento. Trazer alguma clareza para ele a respeito daquele comportamento e assim tentar diminuir um pouco aqueles excessos”, argumenta.

A entrevista completa com a psicóloga Mônica Minder no Diário Kiss está disponível na íntegra, na página do Diário do Litoral no Youtube.

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