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Cachimbo de madeira artisticamente entalhada, embalado em uma caixa apropriada para o seu formato tortuoso que, na verdade, era semelhante ao de um saxofone | Domínio público
Em 1982, depois de haver atuado por alguns anos na Rádio Jornal de Indaiatuba, onde formei uma equipe esportiva para acompanhar os jogos profissionais do Esporte Clube Primavera, fui convidado para participar de um evento promovido pelo Rotary Clube daquela bela cidade paulista. Nessa noite memorável, juntamente com amigos rotarianos de Porto Feliz, fomos recepcionados e participamos de um lauto jantar, em ambiente magnificamente acolhedor. Como sói acontecer nas reuniões rotárias festivas, há um momento especial de confraternização, no qual alguns brindes são sorteados entre os participantes do evento.
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Nessa noite, que para mim se tornou inesquecível, fui agraciado com um belíssimo cachimbo de madeira artisticamente entalhada, embalado em uma caixa apropriada para o seu formato tortuoso que, na verdade, era semelhante ao de um saxofone. O vistoso cachimbo era composto de um “fornilho” ornamentado, para a queima do fumo, e de uma longa “piteira” por onde se aspira o fumo. Era, sem dúvida, uma peça de rara beleza.
Embora eu nunca tenha sido fumante, confesso que fiquei admirado com a forma e com o brilho clássico daquele objeto manualmente trabalhado. Mesmo sabendo que jamais usaria aquele cachimbo, deixei-o muito bem guardado como objeto de enfeite e de recordação de um momento fraterno e feliz.
Em 1984, o saudoso Cônego Humberto Ghizzi, depois de prestar mais de 30 (trinta) anos de serviços preciosos à comunidade católica de Porto Feliz, convocou um grupo de maçons porto-felicenses para uma reunião. Nesse encontro o Cônego Ghizzi comunicou que estava prestes a aposentar-se e que pretendia retornar definitivamente a Itararé, sua terra natal, para viver ao lado dos seus familiares.
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Disse, também, que o único motivo que ainda o prendia a Porto Feliz era o desejo de ver a Cidade dos Velhinhos administrada por pessoas da sua amizade e irrestrita confiança, tamanho o carinho que dedicava àquela nobilíssima instituição.
Sensibilizados com as razões expostas pelo sacerdote, seus convidados comprometeram-se a assumir e de fato assumiram a direção da Cidade dos Velhinhos. Tranquilo por cumprir sua última missão em Porto Feliz, o saudoso Cônego Humberto Ghizzi retornou a Itararé, e os maçons por ele escolhidos abraçaram a direção da importante entidade.
Os anos se passaram e na ensolarada manhã de um sábado, a então Administradora da Cidade dos Velhinhos me ligou, solicitando que fosse até o local, pois um dos internos chorava copiosamente, baldados todos os esforços para agradá-lo. Fui imediatamente conversar com o honorável velhinho e confesso que me emocionei ao encontrá-lo cabisbaixo e inconsolável. Disse-me que a sua única distração era fumar e que, por conta das mãos trêmulas, havia derrubado e quebrado o seu velho cachimbo de barro.
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Não obstante os minutos de tristeza que vivi ao deparar-me com aquele senhor de veneráveis cabelos brancos chorando tal qual a uma criança, um raio de felicidade iluminou minha alma ao lembrar-me do cachimbo de madeira, artisticamente trabalhado, que me fora dado de presente pelo Rotary Clube de Indaiatuba. Num gesto incontido abracei o velhinho e pedi-lhe que aguardasse só alguns minutos, pois eu voltaria com um presente que o faria parar de chorar.
Retornei à minha casa, apanhei o belo cachimbo de madeira entalhada e o levei ao velhinho. Coloquei o cachimbo em suas mãos trêmulas e disse-lhe que aquele cachimbo jamais se quebraria, ainda que por inúmeras vezes viesse a derrubá-lo.
Os olhos do velhinho, visivelmente marejados, me fitaram terna e profundamente como um gesto de gratidão. Suas mãos rapidamente apalparam o cachinho, picaram o fumo, e logo as primeiras baforadas de felicidade se fizeram sentir no recinto. Retirei-me bastante comovido e até hoje agradeço a Deus pela oportunidade que me foi concedida de participar daquele jantar festivo do Rotary Clube de Indaiatuba.
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Eu nunca fui e nem sou fumante, mas confesso que aquele cachimbo me proporcionou um dos momentos mais belos e inesquecíveis da minha vida! Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!
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