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Cotidiano
Atualmente, conhecida por sua efervescência cultural e diversidade de público, a Augusta já foi o endereço da prostituição e sinônimo de decadência
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Rua Augusta possui três quilômetros, tendo início na rua Martinho Prado, na região central, e terminando na rua Estados Unidos | / Marcos Santos /Usp Imagem
“Subi a Rua Augusta a 120 por hora. Botei a turma toda do passeio pra fora. Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina. Parei a quatro dedos da vitrina”. Os versos ao lado fazem parte da canção “Rua Augusta”, composta por Hervé Cordovil, em 1964, e gravada, primeiramente, por Ronnie Cord. A música, que homenageia uma das ruas mais famosas de São Paulo, foi ainda regravada pelo grupo Mutantes e por Raul Seixas.
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Conhecida nos dias atuais pela efervescência cultural, pelo grande número de bares e baladas e pelo fato de atrair pessoas de todos os tipos, na década de 1960, época da composição, a Augusta já era tida como um dos espaços mais descolados do Brasil. Entretanto, a história da via começa muito antes e passa por altos e baixos.
Século 19
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, não se sabe ao certo quando a Rua Augusta foi fundada. Entretanto, no século 19, já havia registros do local. “As primeiras referências encontradas sobre a via datam de 1875. E, na planta cartográfica da Capital de 1897, ela já é grifada com o mesmo nome pelo qual a conhecemos atualmente, Rua Augusta.”
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A origem do nome também é um mistério. Entretanto, a hipótese mais confiável é a de que ela não homenageie ninguém em especial, mas se refira a uma qualidade da via, que seria um lugar digno de respeito e veneração, magnífica, majestosa, visto que ela dava acesso à outra rua importante da cidade.
“Esta hipótese se vale do seguinte fato: o responsável pela abertura da rua, o português Mariano Antonio Vieira, ao abrir uma picada no alto do morro do Caaguaçú, chamou este caminho de Rua da Real Grandeza (hoje corresponde a Avenida Paulista). Ou seja, foi uma escolha livre do então proprietário e que acabou sendo adotada pela Municipalidade”, explica, por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo.
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Transformação
Atualmente, a Rua Augusta possui três quilômetros de comprimento, tendo início na Rua Martinho Prado, na região central, e terminando na Rua Estados Unidos, nos Jardins. Porém, nem sempre a via teve essa configuração, visto que os arquivos da Prefeitura mostram que ela passou por sucessivos prolongamentos entre os anos de 1903 e 1936.
Além do tamanho, a transformação também se deu ao longo dos anos nos costumes. Ainda no final do século 19, surgiram vários colégios na região da Augusta, fazendo com que a rua fosse bastante frequentada por jovens, sobretudo estudantes. Anos mais tarde, com o surgimento dos cinemas de rua na região, a vocação da Augusta para o lazer se confirmou.
Na década de 1950, porém, começam a surgir os edifícios com mais de um pavimento, a maior parte de uso misto, ou seja, com estabelecimentos comerciais no térreo e residências nos andares superiores. A configuração, segundo informações da dissertação de mestrado de Felipe Melo Pissardo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, fez com que a rua abrigasse o comércio de alto luxo e fosse bastante frequentada pela elite paulistana da época.
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Decadência e prostituição
O fim da década de 1960, contudo, deu novo rumo à trajetória da Augusta. O trânsito, o aumento da criminalidade e a chegada dos shoppings centers, como o Iguatemi, aberto em 1966, fizeram com que as pessoas com mais condições financeiras passassem a preferir estes locais para suas compras e passeios, o que levou a uma desvalorização imobiliária na Augusta.
Em entrevista à Agência USP, em 2013, Pissardo conta que a desvalorização fez com que muitos lugares que antes abrigavam comércio, passassem a abrigar casas de prostituição, muitas vezes, frequentadas por executivos que vinham para São Paulo a negócios.
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A virada
Foi no início dos anos 2000 que a Augusta, especialmente a região entre a Paulista e a Rua Martinho Prado, conhecida como “Baixo Augusta”, começou a ter a cara que tem hoje. As “casas de massagens” começaram a sair de cena e dar lugar às casas noturnas, bares, baladas e restaurantes, além de muitos empreendimentos imobiliários que passaram a ficar de olho na região.
Foi nessa época, inclusive, que um dos pontos mais conhecidos da Rua, o bar Ibotirama, foi inaugurado por um baiano da cidade de Ibotirama, que viu na Augusta o lugar ideal para o seu empreendimento. “O bar foi fundado em 2004 e logo depois vendido para os atuais proprietários. Mas, na época, o fundador viu ali uma oportunidade de atrair tanto o público das baladas, como o pessoal dos escritórios da Paulista”, conta João Carlos, gerente do bar, que tem como carro-chefe a picanha na parrila e costumava receber até 350 pessoas por dia, antes da pandemia.
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“Vibe” única
Outro local ícone da nova cara da Rua Augusta é o Retrô Hair. Fundado em 2009 por Rogério Santos, o salão teve a Rua Augusta como inspiração.
“Eu sempre morei na Augusta e, em 2009, a Rua Augusta estava passando por uma transformação comportamental. Naquela época, você tinha todas as tribos frequentando o mesmo espaço. Eu pesquisei sobre a história da Augusta e quis trazer os anos áureos da Rua Augusta de volta, que foi a década de 1950, por isso o nome Retrô, e me inspirei naquele design. Eu quis juntar as melhores épocas da Rua Augusta porque, na minha visão, estávamos novamente vivendo a melhor época da Rua Augusta, com todos vivendo com respeito no mesmo espaço”, finaliza Santos, para quem o salão não teria a mesma “vibe”, se estivesse em outro lugar.
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