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Em meio ao cenário atual do futebol na América do Sul, nada é tão nocivo quanto a final disputada em campo neutro
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Gabigol, atacante do Flamengo | Alexandre Vidal/Flamengo
Em algumas horas iremos conhecer os mais novos finalistas da Copa Libertadores. Que podem ser novos-velhos finalistas, já que Palmeiras e Flamengo podem reeditar a final de 2021. Mais do que isso, o Verdão pode estar presente em três finais consecutivas, enquanto o Mengo pode chegar a terceira final em quatro anos. Um evidente domínio de times estruturados, com elencos fortes e torcidas apaixonadas.
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A hegemonia pode ser ruim para o futebol sul-americano em termos de competitividade, mas também pode ser um estimulo pra que outros clubes saiam um pouco da zona da mesmice. Mas, em meio ao cenário atual do futebol na América do Sul, nada é tão nocivo quanto a final disputada em campo neutro, pelos país do continente. A última final disputada em dois jogos foi em 2017, quando o Grêmio venceu o Lanús.
De lá pra cá tivemos final em Madri na Espanha (!!!), Lima no Peru, já que o Chile passava por problemas na época, no Maracanã apenas para convidados devido a pandemia e em Montevideo, no último ano.
Em 2022 a final será em Guayaquil no Equador, sem nenhuma equipe equatoriana ter passado nem perto de estar na disputa.
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Diferente da final de 2021, a logística para o torcedor que deseja acompanhar a decisão in loco deve ser das brabas. Alguns voos podem demorar mais de 40 horas, dependendo de escalas. Apenas a passagem aérea pode custar mais de 8 mil reais. Diferente do Uruguai, onde os torcedores puderam optar por viagens de carro, dessa vez vai ser difícil chegar no Equador sem avião. E é aí que o torcedor comum, que tá ali nos bons e maus momentos, começa a ser excluído do momento mais importante de sua equipe na temporada.
Confesso que paguei pra ver essa história de final em campo neutro na América do Sul. O formato importado da Europa, direto da Champions League, realmente tem seu valor. Colocar as duas melhores equipes da competição frente a frente num duelo de vida ou morte é algo bem atrativo para os espectadores. O mundo para pra assistir uma final de Champions, transformando a disputa numa grande celebração ao futebol.
O continente europeu oferece ao torcedor que deseja acompanhar a partida no estádio uma condição razoável pra que ele saia do país para acompanhar sua equipe em alguma cidade longe dali. A cultura de deslocamento existe justamente pela estrutura e a condição de vida por lá. Basicamente o oposto acontece por aqui.
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Em primeiro lugar, diferente da final europeia, uma decisão de Libertadores é acompanhada por bem menos pessoas ao redor do mundo. O que tira um pouco o ar de celebração, pra ser uma disputa entre clubes empurrados pelos torcedores – naturalmente os mais interessados pelo jogo.
Recentemente, o atual presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, deu a seguinte declaração: “As finais da Libertadores eram uma guerra. E hoje são festas”. Uma fala que escancara o pensamento elitista que toma conta do futebol atual. O que Dominguez quis dizer é que, enquanto o futebol era feito por torcedores comuns, o cenário era de guerra. Agora, o esporte mais popular do mundo é consumido e mantido numa bolha apenas por aqueles que tem condições de pagar 10 mil reais em passagens aéreas, e por isso é uma festa.
Aquele torcedor que separa uma parte do salário para apoiar o time nos jogos em casa, que vai em campeonato estadual, jogo no frio, de manhã, de noite, de madrugada e volta pra casa através do transporte público, não é convidado pra festa que ele mesmo ajudou a montar. O seu lugar será ocupado no estádio a 6 mil quilômetros de onde ele está por algum turista que quer aproveitar todo o pacote comprado por ele em uma agência de turismo que comercializa ingresso, passagem e hospedagem.
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Você consegue imaginar um trabalhador brasileiro comum tendo condições de gastar 20 mil reais apenas pra ver uma partida de futebol? E que fique claro: não estou dizendo que o torcedor rico é menos do que aquele que não tem grana. Mas é inegável que o futebol é o esporte com mais apelo popular em todo mundo e vem sofrendo com a elitização ao longo dos últimos anos. Os próprios clubes sentem isso na pele quando necessitam do apoio maciço do torcedor.
O magnata pode consumir todos os produtos licenciados da equipe, pagar o plano PLATINIUM do sócio torcedor e injetar dinheiro no clube –fatores importantes – mas, o apoio incondicional de arquibancada, do estádio transformado em caldeirão, é uma cultura popular em qualquer lugar do mundo.
Um exemplo disso, foi o silêncio do torcedor flamenguista em pleno estádio Centenário na última final da Libertadores. A torcida conhecida por fazer a ‘festa na favela’, foi engolida pelos palmeirenses em menor número no Uruguai, já que a Mancha Verde, organizada do clube, teve mais condições de estar presente, devido a relação estreita com os atuais comandantes do Verdão. A favela ficou no Rio de Janeiro e fez uma falta danada. O dinheiro ainda não comprou a tal cultura de arquibancada, mas o futebol vai caminhando para um cenário definitivo de festa sem a favela.
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