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O Ato Institucional número 5 (AI-5) inaugurou a fase mais sombria da ditadura militar brasileira (1964-1985). Assinado em 13 de dezembro de 1968, o decreto fechou o Congresso, cassou mandatos políticos e suspendeu garantias constitucionais. Boa parte dos adversários do governo foi presa e torturada ou precisou se esconder no exílio. Professores universitários foram perseguidos. Centenas de reportagens, livros, músicas e peças de teatro, censurados. O regime, definitivamente, havia endurecido. Sem sombra de ternura.
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A promulgação do AI-5 foi uma decisão difícil até para parte dos militares. "Eu confesso que é com verdadeira violência aos meus princípios e ideias que adoto uma medida como esta", disse o presidente Costa e Silva, que acreditava que o AI-5 duraria "de oito a nove meses". Durou 10 anos. A democracia só começou a dar as caras novamente com a campanha da anistia.
Nesta semana, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - eleito democraticamente - disse que, se houver uma radicalização da esquerda no Brasil, "a gente vai precisar ter uma resposta e uma resposta pode ser via um novo AI-5". Eduardo é o mesmo que, no ano passado, garantiu que bastava um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal.
A frase sobre o AI-5 é grave e perigosa. Eduardo é deputado e filho do presidente da República. Menos mal que a reação das instituições e de políticos de diversas ideologias foi forte e imediata. A fala foi repreendida por deputados de esquerda e de direita, por ministros do STF e até por aliados do governo. Praticamente todas as "hienas" do vídeo que Bolsonaro postou recentemente se manifestaram. Um alento foi ver que há mais hienas democráticas do que leões autoritários.
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Mas, justiça seja feita, Bolsonaro repreendeu a declaração do filho. Sem alternativa, Eduardo se desculpou e disse que foi mal interpretado. A fala ainda pode ter consequências, já que a oposição articula um movimento para que Eduardo perca o cargo de
deputado.
Na edição de 14 de dezembro de 1968, o "Jornal do Brasil" usou o espaço da previsão do tempo para tentar alertar ao leitor o momento que o Brasil havia acabado de entrar: "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos". Algo fundamental para qualquer nação que queira ser moderna é que seus jornais nunca mais precisem usar metáforas para alertar que a democracia está ruindo. Com a democracia não existe direita ou esquerda: apenas não se negocia.
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