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Cotidiano

EUA atuam para Bolsonaro cancelar viagem à Rússia em meio a crise na Ucrânia

Na avaliação da Casa Branca, a recepção de Bolsonaro por Putin passaria a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin

Gustavo Cavalcante

31/01/2022 às 18:03

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O presidente Jair Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro | Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os Estados Unidos têm pressionado o governo de Jair Bolsonaro (PL) a cancelar a viagem do presidente brasileiro a Moscou, programada para ocorrer em meados de fevereiro, em mais uma ação para tentar isolar o líder russo, Vladimir Putin, em meio à escalada de tensões na fronteira com a Ucrânia.

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Diplomatas americanos expressaram preocupação com o "timing" da visita. Na avaliação da Casa Branca, a recepção de Bolsonaro por Putin passaria a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin no Leste europeu, dando legitimidade a algo que os EUA consideram uma violação do direito internacional.

Para o governo de Joe Biden, o cancelamento seria mais uma forma de mostrar a Putin que ele enfrentará isolamento diplomático caso não reduza a presença militar nas fronteiras ucranianas. O mesmo recado foi transmitido à Argentina, cujo presidente, Alberto Fernández, visita a Rússia nesta semana.

A crise foi desencadeada depois de o Kremlin mobilizar de 100 mil a 175 mil soldados em zonas próximas às fronteiras com a Ucrânia. Os Estados Unidos e aliados da Otan, a aliança militar ocidental, acusam Putin de preparar uma invasão do país vizinho, como fez em 2014, quando anexou a Crimeia.

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Moscou, por sua vez, rejeita a expansão da Otan sobre territórios próximos à Rússia e quer a garantia de que a Ucrânia jamais fará parte do grupo. Putin nega qualquer intenção de promover uma invasão militar.

Segundo interlocutores, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, durante conversa por telefone neste domingo (30) com o chanceler Carlos França, levantou novamente preocupações de que a viagem de Bolsonaro à Rússia seja interpretada como sinal de que o Brasil está tomando um lado no conflito.

Embora nas conversas não exista um pedido explícito de cancelamento da agenda, os argumentos americanos deixam claro que Washington atua para que a viagem não vá adiante e seja ao menos adiada.

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Ainda de acordo com pessoas que acompanham o tema, o Itamaraty tem destacado aos interlocutores americanos que a passagem por Moscou não representará um respaldo de Bolsonaro a qualquer um dos lados. Afirmam ainda que as reuniões do presidente serão centradas na extensa pauta das relações bilaterais do Brasil com a Rússia –um parceiro do Brics (bloco também formado por Índia, China e África do Sul)–, que nada têm a ver com a situação geopolítica no Leste da Europa.

Diplomatas brasileiros dizem que, até agora, não há qualquer disposição em cancelar a ida a Moscou.
Nesta segunda (21), em entrevista à TV Record, Bolsonaro adotou o discurso do Itamaraty e afirmou que não pretende tratar da crise ucraniana com Putin. "A gente espera que tudo se resolva no maior clima de tranquilidade e harmonia, o Brasil é um país pacífico. Obviamente, se esse assunto [crise na Ucrânia] vier à pauta, será por parte do presidente Putin. Não da nossa parte", disse o líder brasileiro.

O convite a Bolsonaro para ir a Moscou e o recém-iniciado mandato do Brasil no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) colocaram o Itamaraty no radar de Washington no esforço para isolar Putin. Blinken, por exemplo, tratou do tema com França em telefonema anterior, em 10 de janeiro.

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Além de manifestar receio em relação à viagem, o responsável pela diplomacia americana pediu na conversa deste domingo que o Brasil se aliasse aos EUA no Conselho de Segurança da ONU e votasse pela realização, nesta segunda, de uma reunião no órgão sobre paz e segurança na Ucrânia. A Rússia, com o apoio da China, foi contra o encontro. No entanto, dez membros do colegiado (incluindo EUA, França, Reino Unido e Brasil) votaram a favor da convocação. Índia, Quênia e Gabão se abstiveram.

Durante a sessão, o embaixador do Brasil junto à ONU, Ronaldo Costa Filho, fez um discurso em que tentou se equilibrar entre os dois lados da disputa, sem se alinhar com um ou com outro. O país é contra intervenção em assuntos internos e ameaças de agressão contra uma nação, por um lado, mas também se opõe a sanções unilaterais –como americanos e aliados sinalizam que podem adotar contra a Rússia.

"A proibição do uso da força e a resolução pacífica de disputas e o princípio de soberania e integridade territorial e a proteção de direitos humanos são pilares do nosso sistema coletivo de segurança. O Brasil também ressalta a necessidade de boa-fé com o objetivo de abordar as preocupações de segurança legítimas de todas as partes, inclusive as da Rússia e da Ucrânia", afirmou o diplomata brasileiro.

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Procurada, a embaixada americana em Brasília afirmou que os EUA e diversos outros países estão preocupados "com o papel desestabilizador que a Rússia está desempenhando na região [Leste europeu]". "EUA, Brasil e outras nações democráticas têm a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, além de reforçar esta mensagem à Rússia em toda oportunidade."

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