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Cotidiano
Em uma reunião por vídeo, o chinês deu seu apoio ao russo na crise da Ucrânia, e ouviu de volta críticas compartilhadas à expansão militar americana
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Evento que reuniu membros do Partido Comunista, o debate central foi a consolidação de Xi para discutir rumos da China | / Reprodução/ONU
O líder da China, Xi Jinping, disse nesta quarta (15) que seu país e a Rússia de Vladimir Putin precisam se defender de forma conjunta contra o Ocidente. Em uma reunião por vídeo, o chinês deu seu apoio ao russo na crise da Ucrânia, e ouviu de volta críticas compartilhadas à expansão militar americana no Indo-Pacífico.
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A aproximação entre o país herdeiro da União Soviética e o gigante comunista acelerou-se desde o início da pandemia, em 2020, ante a maior agressividade de Washington na busca por conter os adversários.
Os relatos da segunda videoconferência entre Xi e Putin neste ano, somando ao todo 36 encontros desde que o chinês ascendeu ao poder em 2012, foram feitos de forma indireta pelo Kremlin e pela imprensa estatal em Pequim.
Segundo eles, a situação internacional está "muito tensa" e Moscou está sendo sujeita a "uma muito, muito agressiva retórica" por parte dos Estados Unidos e da Otan, aliança em si imersa em contradições e crise próprias.
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Isso ocorre em meio à renovada crise na Ucrânia. Putin posicionou quase 100 mil soldados perto da fronteira do vizinho, em uma demonstração de força que visa buscar uma solução permanente para o que percebe como um desafio geopolítico: a eventual adesão de Kiev à Otan e outras estruturas ocidentais.
Desde 2014, o leste ucraniano vive uma guerra civil que ora está congelada. Rebeldes pró-Rússia, incentivados por Moscou, controlam parte do chamado Donbass –naquele ano, Putin já havia anexado a Crimeia como forma de desestabilizar Kiev, onde o governo simpático ao Kremlin havia sido derrubado e trocado por um pró-Ocidente.
Putin agora quer garantias por escrito dos EUA e da Otan de que o clube militar não irá expandir-se ao leste, e isso inclui países como a Geórgia e a Moldova, que têm também questões territoriais inconclusas com Moscou.
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Em conversa com o russo na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, havia rechaçado isso. Nesta quarta, o vice-chanceler russo, Dmitri Riabkov, apresentou seu plano pedindo isso e termos para evitar a instalação de mísseis nucleares de alcance intermediário na Europa à secretária-assistente de Estado, Karen Donfried, em Moscou.
Xi apoiou o pleito de Putin. Em troca, ouviu do colega a condenação e o compartilhamento de "visões negativas" sobre a criação da aliança militar Aukus (EUA-Reino Unido-Austrália, no acrônimo das iniciais em inglês), patrocinada por Biden como forma de pressionar Pequim em seu quintal marítimo.
A Rússia já vinha dando suporte a demonstrações chinesas de contrariedade na região, como em exercícios navais conjuntos em torno do Japão, e em patrulhas aéreas conjuntas.
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Na chamada Guerra Fria 2.0, iniciada em 2017 em diversas áreas pelo antecessor de Biden, Donald Trump, a China se viu desafiada na economia, na política e na área militar. O democrata acelerou esse processo, namorando os independentistas de Taiwan, ilha que Pequim considera sua.
O resultado foi um acréscimo enorme na atividade militar em torno de Taipé, com incursões e sugestões de invasão que geraram alarme regional. Os EUA, por sua vez, aumentaram o trânsito de navios de guerra em torno a China.
Voltando ao teatro europeu, também nesta quarta o novo primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, disse que a Rússia "não iria dividir a Europa", uma instância aparentemente mais rígida do que a de sua antecessora Angela Merkel, que ao longo de 16 anos foi uma adversária de Putin que sempre buscou acomodação com o russo.
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Já o premiê britânico, Boris Johnson, voltou à carga ao dizer que uma invasão da Ucrânia, que Putin nega ter intenção de executar, seria "desastrosa".
E a União Europeia promoveu uma reunião na qual justamente os países ex-soviéticos que mais preocupam o Kremlin em sua busca por ocidentalização, Ucrânia, Geórgia e Moldova, voltaram a pedir para serem aceitos no bloco. Por ora, tudo retórica, ante a paralisação dos países da região na crise.
Isso é bastante difícil, assim como no caso da Otan, por serem países com grandes inviabilidades –a começar pelas áreas de maioria pró-russa que são autônomas em seus territórios. Críticos do Kremlin dizem que Putin deliberadamente sabota os vizinhos para evitar que eles adiram ao Ocidente.
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Xi e Putin compartilham o que o russo chamou de "novo modelo de relação internacional". Céticos veem nisso uma defesa de autocracias, mas a ironia é que a base da relação de ambos é a promoção de valores de multilateralismo contra o que o chinês classificou de "interferência de certa nação" –os EUA.
Historicamente, Rússia e China são adversárias. Quase foram à guerra nos anos 1960, e Putin sempre investiu no Extremo Oriente russo temendo a influência e eventual apropriação chinesa da região.
Isso dito, o antagonismo aos EUA aproximou os países, que já haviam aumentado sua bastante significativa cooperação militar. A Rússia ainda é uma potência nuclear superior à China, apesar de Pequim prever estar em paridade com os EUA em 2049.
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Economicamente, a distância entre os países é enorme: os chineses têm a segunda economia do mundo, e os russos lutam contra anos de dificuldades. Isso leva à cautela de diplomatas e analistas na Rússia acerca de tal aliança, já que Moscou tenderia a ser engolida por Pequim.
Na prática, contudo, o discurso é cada vez mais unificado, e se o objetivo é assustar o Ocidente, pode estar funcionando. Não foi acaso o assessor de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, ter tido de responder na semana passada a uma questão acerca da hipótese de uma invasão conjunta de Taiwan e da Ucrânia em entrevista coletiva.
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