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Cotidiano
Em comunicado, os líderes xiitas atribuíram a autoria dos disparos a homens armados recrutados pelo partido cristão Forças Libanesas
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Ao menos seis pessoas foram mortas e mais de 30 ficaram feridas em um tiroteio em Beirute. | HASSAN AMMAR/ASSOCIATED PRESS
Ao menos seis pessoas foram mortas e mais de 30 ficaram feridas nesta quinta-feira (14) em Beirute, capital do Líbano, em um tiroteio que, segundo as autoridades, foi um ataque contra apoiadores dos grupos xiitas Hizbullah e Amal. Eles estavam se dirigindo a uma manifestação pela remoção do juiz que investigava a megaexplosão que praticamente destruiu a cidade em agosto do ano passado.
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Em comunicado, os líderes xiitas atribuíram a autoria dos disparos a homens armados recrutados pelo partido cristão Forças Libanesas, o que a legenda nega. Segundo a declaração, havia franco-atiradores posicionados sobre telhados de edifícios para matar pessoas - relato reforçado mais tarde pelo Ministério do Interior - e arrastar o país para um conflito mais amplo.
O Exército anunciou a prisão de nove pessoas, incluindo um cidadão sírio, após patrulhas em busca dos atiradores. Segundo os militares, os disparos atingiram os manifestantes enquanto eles passavam por uma região dividida entre bairros cristãos e xiitas, não muito longe do Palácio da Justiça, onde centenas de pessoas vestidas de preto, algumas armadas, protestavam contra as decisões do magistrado encarregado do inquérito.
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O premiê Najib Mikati, indicado ao cargo em setembro depois de 13 meses em que o país ficou sem comando formal, pediu desculpas e calma à população, e decretou luto oficial nesta sexta-feira (15). O ataque, porém, considerado um dos piores conflitos civis do Líbano em anos, destaca o aprofundamento das múltiplas crises que atingem o país, em especial o impasse político acerca da investigação da explosão catastrófica em Beirute.
Em entrevista à agência de notícias Reuters, Mikati disse que o Líbano está passando por uma "fase difícil, como um paciente na sala de emergência de um hospital". O premiê afirmou ainda que o Exército provou ser capaz de manter a segurança nas ruas e que a remoção do juiz criticado pelos manifestantes não é uma decisão que cabe à classe política do país.
Emissoras locais transmitiram imagens com sons de disparos, balas ricocheteando em construções, pessoas correndo para se proteger e outras arrastando um cadáver pelas ruas. Não fossem os mais de 30 anos de diferença, as cenas remeteriam à guerra civil que assolou o Líbano de 1975 a 1990.
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Uma TV que pertence ao Hizbullah se referiu às vítimas como "mártires", indicando que mortos e feridos eram muçulmanos xiitas, o que faria do ataque o episódio mais recente da escalada de tensões entre os diferentes grupos religiosos do país.
Segundo relatos de testemunhas à Reuters, barulhos de tiros foram ouvidos na região do bairro Ain el-Remmaneh durante várias horas, além dos sons de explosões que pareciam ser foguetes disparados.
Nas escolas, os professores instruíram as crianças a deitar no chão com as mãos na cabeça para se protegerem de eventuais projéteis. Um dos mortos era uma mulher atingida dentro de casa por um tiro.
O Exército libanês deslocou um grande contingente para a área. Com tanques na ruas, a Força disse que abriria fogo contra qualquer pessoa armada na região. Assim, as ruas se esvaziaram rapidamente, e os libaneses se refugiaram em suas casas, revivendo momentos de guerras passadas que, para parte da atual geração, estavam limitados aos livros de história.
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"O que aconteceu em Beirute nos trouxe de volta à memória as imagens odiosas da guerra civil", escreveu no Twitter Saad Hariri, que foi quatro vezes premiê, incluindo a fracassada tentativa de formar um governo no ano passado, dois meses depois da explosão na capital. "Apelamos a todos para que adotem o diálogo como forma de resolver problemas e se recusem a cair em sedições que podem arrastar o país a consequências inimagináveis."
O presidente do Líbano, Michel Aoun, prometeu que os autores do ataque desta quinta serão responsabilizados. "É inaceitável que as armas sejam mais uma vez o meio de comunicação entre rivais libaneses", afirmou, durante pronunciamento à nação. "Não permitiremos que ninguém tome o país como refém de seus próprios interesses."
As tensões políticas no Líbano aumentaram nos últimos dias depois de o Hizbullah passar a defender com mais veemência a remoção de Tariq Bitar, o juiz responsável pela investigação da tragédia em Beirute.
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O magistrado procurou interrogar vários políticos e oficiais de segurança suspeitos de negligência, incluindo aliados da facção xiita. Todos negaram irregularidades. O Hizbullah, no entanto, acusa Bitar de conduzir a investigação de forma enviesada e politizada.
Samir Geagea, líder do Forças Libanesas, posicionou-se nesta quarta (13) contra o que descreveu como formas de intimidação promovidas pelo Hizbullah contra Bitar. Ele também conclamou os libaneses a estarem prontos para uma "ação pacífica de ataque" se o "outro lado" tentar impor sua vontade pela força.
Nesta quinta, porém, Geagea condenou a violência, disse que o tiroteio é fruto da falta de controle no acesso às armas e pediu a restauração da paz civil. Acusado de orquestrar o ataque, o Forças Libanesas surgiu nos anos 1970 como um grupo paramilitar e só ingressou na política partidária após a guerra civil.
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Na última terça-feira (12), o inquérito sobre a megaexplosão foi interrompido pela segunda vez em três semanas após novas críticas à conduta do juiz, que havia emitido mandados de prisão para dois parlamentares que não responderam a intimações para interrogatório.
Mais cedo nesta quinta, um tribunal rejeitou mais uma vez as acusações contra Bitar. A decisão permitiu a retomada da investigação, que trabalha com a hipótese de que os deputados sabiam dos riscos de explosão do nitrato de amônio armazenado no porto, mas nada fizeram para impedi-la.
Além disso, as autoridades locais, suspeitas de negligência, recusam-se a autorizar uma investigação internacional e são acusadas pelos familiares das vítimas de obstrução da Justiça.
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A catástrofe deixou mais de 200 mortos, 6.000 feridos e destruiu bairros inteiros da capital libanesa, deixando centenas de milhares de desabrigados. Depois, o país mergulhou em uma espiral de protestos e em uma profunda crise política, social e econômica.
Os impasses em torno da investigação, porém, têm desviado a atenção do gabinete recém-empossado. O novo governo foi formado tendo a recuperação da economia como uma de suas prioridades, mas, em cerca de um mês, não conseguiu apresentar resultados concretos que indiquem que o país pode emergir do colapso que o Banco Mundial descreveu como um dos três piores do mundo desde o século 19.
Nesta quinta, a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, anunciou um pacote de US$ 67 milhões (R$ 369 milhões) em ajuda ao Líbano -a diplomata está em visita oficial ao país. Durante entrevista coletiva, Nuland expressou solidariedade às vítimas do ataque desta quinta e disse que os EUA estão trabalhando em conjunto com as autoridades libanesas para ajudar a encontrar soluções para a crise.
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"O povo libanês não merece menos, e as vítimas e famílias dos perdidos na explosão do porto não merecem menos", disse Nuland. "A inaceitável violência de hoje deixa claro o que está em jogo."
Na França, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores voltou a afirmar que o Judiciário do Líbano deve ser capaz de trabalhar de maneira independente e imparcial na investigação sobre a explosão.
O diálogo com Paris e, mais especificamente, a implementação de projetos apresentados por autoridades francesas são uma das apostas do novo premiê para frear o agravamento da crise.
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O país europeu administrou o Líbano enquanto colônia no início do século 20, e o presidente Emmanuel Macron teve participação ativa nas discussões políticas recentes.
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