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Cotidiano

Talibã reintroduz execuções e amputações no Afeganistão

"Cortar mãos é muito necessário para a segurança", diz chefe do sistema prisional do país

Maria Eduarda Guimarães

24/09/2021 às 14:11  atualizado em 15/10/2021 às 19:15

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Combatentes do Talibã em Cabul, no Afeganistão

Combatentes do Talibã em Cabul, no Afeganistão | Rahma Gul/Associated Press

Pouco mais de um mês após retomar o poder no Afeganistão, o grupo fundamentalista islâmico Talibã vai reintroduzir um dos símbolos do seu primeiro governo no país, de 1996 a 2001: execuções e amputação de membros de criminosos.

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Foi o que disse à agência Associated Press o mulá Nooruddin Turabi, um dos mais influentes líderes talibãs quando o assunto é administração de sua visão peculiar de justiça, tirada da leitura literal da sharia, a lei islâmica tradicional.

"Todos nos criticavam pelas punições no estádio [Nacional de Futebol, em Cabul], nós nunca dissemos nada sobre as leis dos outros e suas punições. Nós vamos fazer nossas leis a partir do Alcorão", afirmou.

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"Cortar mãos é muito necessário para a segurança", disse Turabi, que hoje é o chefe do sistema prisional do país, ponderando que as medidas funcionam para dissuadir criminosos de agir. Ele disse que está em estudo se as punições serão aplicadas em público, como ocorria no passado, ou não.

Na primeira passagem do grupo pelo poder, Turabi era ministro da Justiça e chefe do temido Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, que administrava aos afegãos a versão peculiar de mundo do grupo.

Mulheres não podiam sair na rua sem a burca [túnica típica da etnia pasthun, que cobre todo o corpo], trabalhar, estudar ou ter acesso livre a serviços públicos. Homens eram obrigados a deixar a barba crescer.

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Os crimes eram punidos no referido Estádio Nacional ou junto à mesquita Eid Gah, no centro da cidade. Ladrões perdiam a mão direita, e também um pé se tivessem atacado comboios em estradas. Condenados por assassinato eram mortos por um parente da vítima, com um tiro na cabeça, podendo ser perdoados se a família aceitasse "dinheiro de sangue" como compensação.

Logo depois da queda do Talibã, expulso do poder pelo Estados Unidos por ter abrigado os terroristas que planejaram os ataques do 11 de Setembro, o local retomou sua rotina de jogos de futebol.

O anúncio da volta da repressão ao modo islâmico medieval, que ocorre também em locais como Arábia Saudita e Irã, em diferentes medidas, é um balde de água fria para aqueles que ainda acreditam que o Talibã pode ser mais moderado em sua busca por reconhecimento e recursos externos.

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O grupo retomou o controle do país no dia 15 de agosto, quando entrou sem resistência em Cabul após duas semanas de uma campanha relâmpago, feita na esteira da retirada das forças ocidentais que ficaram 20 anos no país por decisão do presidente Joe Biden.

Nessas duas décadas, o Talibã manteve controle, maior ou menor, de porções do país. Nelas, seguia aplicando sua lei. O sistema legal paralelo do grupo contava com apoio de comunidades rurais com pouco acesso ao Judiciário centralizado em Cabul sob regramento ocidental.

Talvez buscando um ar moderno para sua revelação à Associated Press, Turabi ressaltou que mulheres poderiam ser juízes sob o novo governo, desde que sigam os preceitos islâmicos adotados pelo Talibã. Resta saber se isso ocorrerá.

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O mulá (clérigo muçulmano) disse também que, diferentemente do regime totalmente fechado dos anos 1990, agora o Talibã permitirá livremente a existência de canais de TV, a venda de telefones celulares e a circulação de fotografias e vídeos, o que ocorria no mercado paralelo antigamente.

"São necessidades do povo", disse, ciente de que todo soldado do grupo é visto com smartphones à mão.

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