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Theatre Bijou: o primeiro cinema da cidade de São Paulo em 1907

O primeiro cinema da cidade de São Paulo foi Theatre Bijou fundado por Francisco Serrador na antiga rua São João e estreou no dia 16 de novembro de 1907

Lincoln Paiva

19/06/2024 às 12:05  atualizado em 07/08/2024 às 14:52

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Theatre Bijou foi o primeiro cinema da cidade de São Paulo idealizado por Francisco Serrador

Theatre Bijou foi o primeiro cinema da cidade de São Paulo idealizado por Francisco Serrador | Casa da Imagem

Charles Chaplin disse uma vez que o tempo é o melhor autor. É verdade, o tempo influencia tudo o que fazemos, mas nem sempre percebemos e quando menos esperamos, o tempo passou e no seu lugar ficaram apenas as memórias.

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É sobre a passagem do tempo que escrevo minha coluna na Gazeta, na verdade, a coluna de hoje fala de outro tempo: o início do cinema paulista em comemoração à semana do cinema brasileiro, para contar histórias e memórias do centro da cidade de São Paulo. 

Entre os dias 19 e 25 de junho é comemorado a semana nacional do cinema, porque há 128 anos, o imigrante italiano Afonso Segreto (1875–1919) filmou pela primeira vez a Baía da Guanabara no Rio de Janeiro quando ele estava a bordo do navio Brèsil em 1896, foi a primeira vez que uma câmara registrou uma paisagem do Brasil, o que deu origem a semana do cinema brasileiro.

Afonso Segreto filmou a Baía da Guanabara que foi considerada o primeiro registro filmado do Brasil, dando origem a semana do cinema brasileiroAfonso Segreto filmou a Baía da Guanabara que foi considerada o primeiro registro filmado do Brasil, dando origem a semana do cinema brasileiro. Foto/Reprodução

O cinema paulista começou com uma Lanterna Mágica, quando em 1889, Benjamin Schalch morador da rua do Príncipe (hoje rua Quintino Bocaiuva) no triângulo histórico do centro da cidade de São Paulo, regressou de uma viagem e trouxe para a cidade uma lanterna Mágica, provavelmente a primeira de São Paulo.

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A lanterna Mágica tinha cerca de 250 discos entre os quais vários de movimento e as exibições eram feitas em família, vizinhos e conhecidos.

O espanhol Francisco Serrador foi um dos pioneiros do cinema brasileiro, chegou em São Paulo em 1907, vindo do Rio de Janeiro, viu uma oportunidade no cinema para se instalar em São Paulo que crescia embalada pela fortuna do Café. 

Francisco Serrador foi responsável pela primeira exibição de filmes de cinema em São Paulo no antigo Teatro Santana na rua Boa Vista em 1907Francisco Serrador foi responsável pela primeira exibição de filmes de cinema em São Paulo no antigo Teatro Santana na rua Boa Vista em 1907. Foto reprodução/Livro Cinelândia

Alugou o antigo Teatro Santana na rua Boa Vista no centro histórico de São Paulo e efetuou 34 sessões de cinema, iniciados no dia 4 de agosto de 1907.  A programação era composta de três partes de cinco filmes de curta-metragem, entre elas várias comedias e dramas.  

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Teatro Santana onde foram exibidos os primeiros filmes por Francisco Serrador Teatro Santana onde foram exibidos os primeiros filmes por Francisco Serrador. Foto reprodução 

A experiência do teatro Santana não deu os resultados esperados e terminado o contrato com Serrador, o teatro Santana foi arrendado pelo empresário Pascoal Segreto, irmão de Afonso Segreto (que deu origem ao cinema brasileiro), pelo espaço de dois anos. Mas as exibições duraram apenas um mês, dando lugar a temporada lírica do Teatro Santana. 

Nessa época o cinema já era uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, mas no Brasil custou a “pegar”. Com o fiasco e o término do contrato com o Teatro Santana, Francisco Serrador planejou abrir um espaço só para exibir filmes de cinema, afinal de contas o negócio do Teatro Santana eram as peças teatrais, os filmes de curta metragens eram exibidos apenas entre um espetáculo de teatro e outro. 

As pessoas iam ao Teatro Santana para ver as peças de teatro e não o cinema. Além disso, Serrador achava que o formato de exibição, peças de teatro e cinema diminuía o valor artístico das obras cinematográficas, então, voltou seu foco para uma nova casa que atraísse a atenção popular. 

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O lugar foi escolhido a dedo, seria na rua São João (depois se tonaria Avenida São João), em frente onde hoje é a Praça das Artes, antes, era o antigo mercado popular, o lugar escolhido para o novo cinema funcionava no antigo Cassino Paulista cujo prédio teria que ser adaptado para o cinema. 

Nasceram o Bijou Theatre e o Bijou Salon o primeiro cinema da cidade de São Paulo, ao lado do teatro de variedades Politheama. Na altura do largo Paissandu o Moulin Rouge que depois se transformaria no cine Avenida e mais adiante no começo da rua Dom José de Barros tinha o Teatro Cassino que depois se transformaria no Cine Opera, décadas mais tarde se transformaria no cine Odeon bem no lugar onde se tornaria a Cinelândia Paulista.

São Paulo nesse começo de século contava com uma população de aproximadamente 250 mil habitantes e a rua São João já era o centro das diversões Paulistanas, não tinha mais como o cinema falhar, a rua São João já era o lugar preferido da população adulta da cidade de São Paulo dada a proximidade com os outros centros de diversões “adultas” nas imediações.

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O primeiro cinema de São Paulo foi Theatre Bijou fundado por Francisco Serrador na antiga rua São João, estreou no dia 16 de novembro de 1907, meses depois do fim do contrato de Serrador com o teatro Santana.

Cine BijuTheatre Bijou foi o primeiro cinema da cidade de São Paulo idealizado por Francisco Serrador. Foto/Casa da Imagem

O Theatre Bijou tinha espaço para 400 lugares, possuía cadeira de palhinha austríaca e exibia filmes curtos de arte, mas novamente não fez muito sucesso, porque os curtas não chamavam a atenção da população, mas quando começaram a chegar os célebres filmes de arte franceses despertaram enorme sucesso.

Projetor na época era na manivela de mão 

No primórdio do cinema paulistano as projeções eram feitas à mão, sendo a câmara colocada atrás da tela geralmente de pano, que necessitava ser molhada constantemente, para evitar que pegassem fogo com as fuligens do carvão. Os aparelhos de projeção ainda não eram elétricos, obrigando os operadores e seus ajudantes a girarem a manivela a mão. 

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De cartazes ao 1º concurso cinematográfico 

Serrador não se limitava ao papel de simples exibidor, fazia de tudo para promover o cinema. Espalhava grandes cartazes pela cidade e estava sempre inventando novas modalidades de interesse para o público e foi ele quem teve a ideia de organizar o primeiro concurso cinematográfico em São Paulo.

Depois da apresentação do filme de Charles Chaplin “O Garoto”, com Jackie Coogan, Serrador promoveu um concurso entre todos os meninos da cidade para premiar aquele que mais se parecesse com o ator mirim Jackie Coogan, mas só ganharia aquele que tivesse um cachorro parecido como o do garoto do filme de The Kid. 

Foi um enorme sucesso que atraiu mais de 100 garotos paulistas e outros tantos cachorros. O evento foi realizado no velho Pathé Palace da praça João Mendes. 

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No Bijou, Serrador organizava estreias contundente com atores e chegou a trazer da Itália a atriz Vitória Lepanto, atriz principal do filme “A dama das Camélias”.

Demolição e reconstrução dos cinemas 

Um dos grandes problemas da cidade de São Paulo sempre foi a falta de preservação física da história, além disso, a cidade de São Paulo foi demolida e reconstruída muitas vezes e isso também aconteceu com os cinemas da cidade de São Paulo, demolia-se um cinema para construir outro cinema ainda maior

Em 1912 o antigo Teatro Santana da rua Boa Vista onde eram exibidos os curtas de Francisco Serrador e depois por Pascoal Segreto foi demolido para fazer o prolongamento da rua Boa vista e a construção do atual viaduto Boa Vista. 

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Para substituir o Teatro Santana a família Alvares Penteado, que era proprietária do teatro, construiu um novo Teatro Santana na rua 24 de maio inaugurado em abril de 1921 no centro novo que também foi demolido depois de um incêndio e hoje é o Sesc 24 de maio. 

O Theatre Bijou foi demolido em 1914 para construção do Cinema Central, que também foi demolido em 1947, quando de fato começou outro período do cinema paulistano: A Cinelândia Paulista, mas aí já é outro tempo e outra história que numa outra coluna eu conto.

Fonte de pesquisa:  Canal Salas de cinema de São Paulo e reportagem Jornal Correio Paulistano de 1954.

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Lincoln Paiva é doutor em Arquitetura e Urbanismo e pesquisador sobre a formação da cidade de São Paulo.

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