Francisco Serrador: o pioneiro do cinema sonoro no Brasil

Francisco Serrador foi um empresário espanhol radicado no Brasil. Foi proprietário de hotéis, cassinos, teatros e cinemas em várias cidades brasileiras, principalmente Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. 

Serrador trouxe o encanto e a magia das telas grandes para o cotidiano das pessoas. Também, inovou o mundo da gastronomia brasileira, ele foi o primeiro a trazer o cachorro-quente para o Brasil. 

As transformações de áreas urbanas em polos culturais e seu papel na popularização do cinema no País são apenas alguns dos aspectos que destacam sua importância histórica. 

Logo, a Gazeta te conta quem foi Francisco Serrador, baseados nas informações do site "Salas de cinema de São Paulo", e pelo livro "Cinelândia - Breve História de um Sonho", de João Máximo. Confira:

 

Nascimento

Francisco Serrador Carbonell, nasceu no dia 7 de outubro de 1872, em Valência, Espanha. 

Filho de uma família modesta, Serrador imigrou para a América do Sul em busca de melhores oportunidades, um movimento comum na época devido à instabilidade econômica na Europa. 

 

Chegada ao Brasil e primeiros empreendimentos 

Serrador chegou “remando” ao Brasil, no final do século XIX. Dizem que Francisco chegou remando, pois o navio ancorava aproximadamente 1 quilômetro de distância. Os passageiros deveriam ir para terra a bordo de um pequeno barco, chamado catraia.  

De início, as oportunidades em Santos não pareciam maiores que as de Sevilha ou Madri. Na verdade, faminto e sem dinheiro, o melhor que Serrador encontrou em seu primeiro dia no Brasil foi: trabalho em uma obra de drenagem.  

 

Primeiros empreendimentos

Serrador conseguiu juntar o bastante para tentar a vida em um porto mais ao Sul. Viajou até Paranaguá e, de lá, até Curitiba, onde recomeçaria vendendo peixe.  

Foi em Curitiba que começou a investir em pequenos negócios de entretenimento, como a operação de uma tenda de circo e de cinemas ambulantes.  

Ele foi pioneiro na introdução e popularização do cinema na cidade, abrindo uma série de pequenas salas de exibição que se tornaram populares. 

 

A volta para São Paulo

Com o sucesso de Curitiba, em 1907, Serrador volta para São Paulo para se fixar como exibidor cinematográfico. Na Capital, a máquina chamada Richenbourg foi instalada por um breve período, em 30 de agosto, no Teatro Santana (na Rua Boa Vista) para exibir filmes longos.

As sessões diárias no Santana comportavam de 16 a 19 filmes, divididos em três funções de 5 a 6 películas. Uma orquestra abria os espetáculos e cada uma das sessões era iniciada por uma parte sinfônica. Ainda no mesmo ano, Serrador aluga o Teatro Eldorado.

Depois do sucesso feito pelo Teatro Santana, Serrador inaugura o Bijou Theatre, na Rua São João, sendo o primeiro local da cidade de São Paulo, criado exclusivamente para exibições cinematográficas.

 

Criação das próprias películas

A partir de 1907, Serrador passa a produzir as suas próprias películas. Conhece Alberto Botelho, diretor de cinema, e os dois realizam uma série de cinejornais, registrando os eventos mais importantes da cidade, para serem exibidos em suas salas.  

Depois, no Rio de Janeiro, passa a produzir Filmes Cantares, que eram filmes que contavam com a participação de cantores, que ficavam atrás da tela e faziam intervenções sonoras.  

Neste mesmo período, Serrador consegue a exclusividade dos filmes da marca Pathé para a cidade de São Paulo e Paraná, passando a ser, também, um distribuidor de filmes.

Serrador funda a Empresa Teatral Brasileira para a apresentação de espetáculos variados em seus cinemas e teatros, como complemento aos filmes.

 

Queda dos concorrentes 

Diante do rápido crescimento da empresa Francisco Serrador na importação, distribuição e exibição de filmes, seus mais próximos concorrentes entraram em crise.

Em maio de 1911, os cines Radium e Íris abandonaram a disputa, sendo incorporados pela empresa de Serrador, a Cia. Cinematográfica Brasileira, mais conhecido como Circuito Serrador.  

Logo, Serrador passa a dominar o mercado exibidor paulista em 1914, com 49 cinemas na Capital e 180 salas no Estado de São Paulo e pelo Brasil. 

Francisco Serrador teria se transformado, em pouco tempo, no maior empresário cinematográfico do Brasil segundo o criador da página Salas de cinema de São Paulo, Antônio Ricardo Soriano. 

 

O Quarteirão Serrador

Em 1919, Serrador inicia um projeto chamado "Quarteirão Serrador", que seria construído no terreno de um antigo convento, o Convento da Ajuda, localizado próximo ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 

O projeto inicial era ambicioso, por isso, Serrador não consegue investidores para colocá-lo em prática. Logo, o “Quarteirão” acaba sendo construído por meio de um projeto menor: prédios de oito andares, com cinemas, lojas e salas de escritório.  

Além disso, o lugar contava com pequenos quiosques que vendiam doces e salgados variados. O hot dog, por exemplo, chegou no Brasil em 1926, pelo empresário Francisco Serrador. Que começou a vender o lanche em seus cinemas na região da Cinelândia, no Rio de Janeiro.

Serrador fundou a Companhia Cinematográfica Serrador, que não só operava cinemas, mas também estava envolvida na produção e distribuição de filmes. 

 

Fundação do Cinelândia

Um dos projetos mais ambiciosos de Francisco Serrador foi o "Cinelândia", que se iniciou em 1917. Serrador transformou uma área no centro do Rio de Janeiro em um complexo de teatros e cinemas, conhecido como Cinelândia.  

Este espaço se tornou um marco cultural da cidade, atraindo multidões e servindo de palco para lançamentos de filmes e eventos culturais importantes. 

 

Inovações e legado

Serrador foi um visionário, introduzindo inovações que transformaram o cenário do entretenimento no Brasil. Ele foi um dos primeiros a implementar a exibição de filmes sonoros no país e trouxe grandes produções teatrais e cinematográficas internacionais para o público brasileiro.  

Além do entretenimento, Serrador teve um impacto significativo no urbanismo. Em São Paulo, ele realizou uma série de projetos de modernização e desenvolvimento urbano, incluindo a construção de prédios e melhorias em infraestrutura.  

Francisco Serrador faleceu em 22 de março de 1941, no Rio de Janeiro. Vítima de uma afecção pulmonar, agravada por uma arteriosclerose. 

*Texto sob supervisão de Suzana Rodrigues