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Aposentado, Claudio Veiga, conta como é cicloviajar pelo Nordeste | Joseph Silva/Gazeta de S. Paulo
Aos 74 anos, Claudio Veiga vive uma rotina pouco comum para sua idade. Com uma bicicleta simples, ele desbrava diversas cidades do nordeste do Brasil. “O caminho é o que importa, não a chega”, diz ele em uma entrevista à Gazeta, na qual explica a relação entre as rodovias, as pessoas e a fé.
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Na contramão dos demais ciclistas, Claudio gosta de ir sem pressa. “Não estou preocupado com performance”. Com cerca de 2 mil quilômetros pedalados por ano, gosta de viajar pelas cidades da Paraíba.
Foi em um dos poucos intervalos em que está em casa que o comandante de rebocador aposentado recebeu a reportagem, em João Pessoa. Modesto, ele diz que a hospitalidade demonstrada é a retribuição do carinho que recebe das pessoas na estrada.
Apesar de colecionar recordes impressionantes, percorrer longas distâncias com uma bicicleta nunca foi um hobby para competição.
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“Comecei com a ideia de visitar igrejas para rezar o terço, mas percebi que o caminho era mais importante que o destino”, reflete o esportista católico. Hoje, ele prioriza a jornada, sem pressa, medindo seus limites e valorizando cada aprendizado.
A esposa, Cíntya Veiga, é a grande companheira de estrada. Quando cedeu essa entrevista, em 2022, ela ainda não se aventurava com Claudio. Agora, ambos desbravam o nordeste com suas magrelas e mantêm um canal no YouTube sobre suas jornadas.
Apesar de prazerosas, as cicloviagens exigem jogo de cintura. Ele narra episódios de extremo esforço físico, como o dia em que enfrentou 40 km sob o sol escaldante do Nordeste.
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“Era um trecho sem sombra, sem água, e cheio de ladeiras. Eu já estava desidratado e precisei empurrar a bicicleta”, relembra.
Para ele, o que move o cicloturista não é apenas o corpo, mas também a mente. “Você sobrevive graças à teimosia. Tem dias em que você olha para a bicicleta e sente raiva, mas é preciso insistir. É essa determinação que nos leva adiante”, afirma.
Ao longo do caminho, Claudio e Cíntya têm colecionado histórias de acolhimento e solidariedade.
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Em uma de suas viagens, ao não encontrar lugar para acampar, Claudio pediu autorização para pernoitar em uma casa abandonada. “No meio da noite, os donos vieram nos trazer pão, café com leite e frutas. O acolhimento das pessoas é extraordinário.”
Essas experiências reforçam sua crença na generosidade das pessoas. “A peregrinação só se concretiza no encontro com o próximo. Você percebe o quanto as pessoas estão dispostas a ajudar, mesmo quando não têm muito.”
No entanto, nem sempre tudo é tão simples. Claudio também relata momentos de resistência, como em campings ou postos de gasolina onde foi impedido de ficar. “É raro, mas acontece. Faz parte da jornada lidar com esses contratempos.”
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Para Claudio, o cicloturismo é mais que uma viagem física; é uma jornada espiritual. Ele compara os desafios do percurso ao esforço de Jesus subindo a Via Crucis.
“Enquanto empurrava minha bicicleta em uma subida íngreme, cansado e suado, vi as estações da Via Crucis ao lado da estrada. Foi um momento de conexão. O mínimo, que era eu, encontrou o máximo.”
Esse aprendizado o fez repensar sua relação com o tempo e os objetivos. “A meta é um sonho distante.
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Enquanto estamos no caminho, estamos vivos. Aprendi que o importante não é a chegada, mas o processo.”
Para Claudio, o cicloturismo resgata uma conexão perdida com o que ele chama de “o verdadeiro significado do caminho”. Ele lembra que os primeiros cristãos eram conhecidos como “os seguidores do caminho”.
“Isso mostra que o importante não era o destino, mas o processo. Na nossa cultura, esquecemos disso, mas o cicloturismo nos ajuda a reaprender.”
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Aos 74 anos e com milhares de quilômetros percorridos, Claudio Veiga continua pedalando, acumulando histórias, desafios e lições de vida. “Enquanto estou no caminho, estou vivo. E é isso que importa.”
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