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Uma equipe de cientistas brasileiros busca com a Calixcoca inibir os impactos da cocaína e combater a dependência | Divulgação
O consumo de cocaína cresceu a ponto de estabelecer um novo recorde. De acordo com os cálculos das Nações Unidas, em todo o mundo, cerca de 22 milhões de pessoas consumiram a substância em 2021.
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Esse número é maior do que a totalidade de habitantes das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Na Europa, a cocaína é a segunda droga ilegal mais comum, atrás apenas da maconha.
Considerando tudo isso, uma vacina que inibe os efeitos da cocaína e do crack no cérebro e ajude a abandonar a dependência das drogas começou a ser estudada. Uma equipe de cientistas brasileiros busca com a Calixcoca, uma alternativa terapêutica em desenvolvimento que tem demonstrado resultados promissores em testes iniciais, conseguir este objetivo.
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Em outubro de 2023, o projeto ganhou 500 mil euros (cerca de R$ 2,6 milhões) do prêmio internacional Euro Innovation in Health Latin America, financiado pela farmacêutica Eurofarma.
Os recursos foram destinados para que o time de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avance com o estudo.
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A substância é extraída das folhas do arbusto da coca. A maioria das vezes ela é inalada em pó pelo nariz. Como alternativa, ela também é fumada em um cachimbo, como o crack, que nada mais é do que um tipo de droga produzida a partir da cocaína.
Ao fazer o uso, a substância chega ao cérebro através do sangue. Lá, a droga estimula o corpo a liberar várias substâncias mensageiras, inclusive a dopamina. A sensação predominante é a de intensa euforia.
O corpo passa a ficar hiperativo. O coração bate em sua capacidade máxima, enquanto as artérias se contraem. A pressão arterial aumenta, assim como a temperatura corporal. Necessidades como fome e sede deixam de ser importantes.
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Na, pior das hipóteses, o uso da cocaína pode causar convulsões e até mesmo parada respiratória e cardíaca.
O efeito dura de cinco a 30 minutos. “É como se todos os semáforos estivessem verdes”, disse Hanspeter Eckert, terapeuta em uma associação de Berlim que trabalha com terapia medicamentosa.
“O cérebro memoriza: isso foi intenso e ótimo, quero de novo. O corpo armazena o consumo como essencial para a sobrevivência”, acrescentou.
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O desejo por mais cocaína passa a dominar os pensamentos. O vício é desenvolvido e a saúde, contatos sociais e trabalho ficam para escanteio. As vozes internas que alertam sobre as consequências se tornam mais silenciosas.
Uma vacina contra a cocaína pode ajudar no tratamento da dependência. Após a vacinação, formam-se anticorpos no sangue.
Esses anticorpos se ligam especificamente à cocaína. Portanto, a substância é grande demais para passar pela barreira hematoencefálica. Isso significa que o cérebro não pode ser estimulado, então, não há a sensação causada pela substância.
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As reações cerebrais que normalmente desencadeiam o desejo pela droga são suprimidas. Como resultado, o paciente percebe a droga de forma diferente, é o que explicou Frederico Garcia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"É uma vacina terapêutica. Sua função é ajudar o dependente químico a produzir anticorpos que se ligam à droga e impedem que ela entre no cérebro", completou.
Mais de três mil brasileiros já contataram a equipe de Garcia para se voluntariar nos testes.
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Na prática, a vacina busca bloquear a sensação gratificante que a cocaína provoca quando ativa a região do cérebro conhecida como “área de recompensa”.
Ao quebrar esse ciclo, que leva à compulsão por drogas e, consequentemente, à dependência, a dose “aumenta as chances” de que os usuários consigam largar a substância, disse o cientista.
O terapeuta Hanspeter Eckert, que atua em uma associação de Berlim mostrou-se cético sobre a vacina, frisando que ainda assim o paciente teria que passar pelo processo de terapia.
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"É necessário pelo menos um ano para que viciados aprendam a entender seu corpo e sua psique. Por meio desse processo, eles ganham mais controle sobre suas vidas", explicou Eckert.
A vacinação não é pensada como uma medida preventiva ou para usuários ocasionais. O terapeuta advertiu que existe o risco de overdose entre os vacinados porque a vacina bloqueia o inebriamento.
Assim, o usuário pode buscar uma dose mais alta, o que pode sobrecarregar a circulação – o resultado pode ser uma parada cardíaca e respiratória.
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Contudo, ele é favorável sobre a tentativa da pesquisa: “Se não houver o inebriamento, a mente pode descansar. O corpo pode se libertar da irritação constante. As pessoas podem ter experiências positivas e perceber que a boa sensação se deve a elas mesmas e não à droga”.
Outra especialista a falar sobre o tema, Marica Ferri, do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), apresentou outras ponderações:
“A substância em si não é um problema isolado. Todos os problemas não são resolvidos automaticamente com a interrupção do uso de cocaína. Os danos físicos precisam ser curados, assim como a saúde mental. A terapia também envolve trabalhar a psique e o ambiente social. Isso leva tempo”, pontuou.
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Marica Ferri concluiu dizendo que a vacinação é adequada para uma pequena proporção de usuários que já estão na terapia. Ela também defendeu o aumento do número de locais que ofecerem terapia.
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