Uma vila francesa no centro de São Paulo

A Vila Normanda foi construída no centro novo da cidade de São Paulo em 1938 pelo Conde Silvio Alvares Penteado e projetada para funcionar como um “apart-hotel”. 

O conceito era uma inovação para a época. tinha uma cozinha com um chef francês contratado especialmente para cozinhar para os moradores dos apartamentos. Eles podiam tomar café, almoçar e jantar no “restaurante” do condomínio e as salas de estar eram todas coletivas como num clube. 

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A vila era tão inovadora que o conceito de “apart-Hotel” só ficou popular na França e nos EUA nos anos 1960. Até mesmo no Brasil o conceito só começou a se popularizar nos anos 1980.

Onde ficava a vila francesa em São Paulo

A Vila Normanda foi construída num terreno que começava na avenida São Luís e ia até onde hoje é o edifício Copan. O dono era o Conde Silvio Alvares Penteado, que também morava na avenida São Luís, onde hoje é o edifício que leva o seu nome. 

Silvio contratou o arquiteto Júlio de Abreu Junior, formado na Escola de Belas-Artes de Paris, na época, a mais famosa escola de arquitetura do mundo. O projeto provavelmente teria sido uma homenagem para a esposa.

Júlio apresentou o projeto “Vila Normanda” em 1924. Mas ela só foi inaugurada em 1938. Era composta por dois prédios de apartamentos e um conjunto de quatro pares de casas geminadas. O programa previa cozinha e salas coletivas que funcionavam nos moldes dos atuais apart-hotéis.   

Estilo único e atraente

O projeto arquitetônico tinha estilo gótico escandinavo, com fachada adornada em madeira e tetos inclinados. A arquitetura Normanda teve seu apogeu entre os séculos XI e XII.

A Vila Normanda tinha um “porte-cochère”, que em tradução livre do francês significa “varanda de carruagem” um tipo de solução adotada pelos palacetes e hotéis da época para proteger as pessoas das intempéries do clima. 

A ruazinha interna era pavimentada com pedras bem alinhadas e as luminárias foram desenhadas exclusivamente para dar um “ar” característicos de uma vila medieval.

As fachadas tinham características típicas normandas, até as plaquetas de comunicação, foram cuidadosamente pensadas para dar uma atmosfera medieval à Vila Normanda. 

Numa das casas da Vila funcionava também o famoso restaurante francês, aberto ao público, o "La Popotte", que tinha em sua entrada uma tabuleta de identificação de madeira em estilo medieval. 

Vila se tornou alvo de críticas e especulação

Numa época em que a cultura modernista impregnava a cidade de São Paulo, a Vila passou a ser alvo de artistas e arquitetos que desdenhavam da Vila Normanda como um lugar “fake” para atender os desejos fantasiosos de uma elite que gostava de se sentir na França.   

Mas não era só isso, a cidade começava a verticalizar e aquele lugar pitoresco ocupava um dos locais mais valorizados da cidade. O mercado imobiliário não via a hora de demolir e construir prédios por lá. 

De fato, houve muitas tentativas de descaracterizar a Vila Normanda e nenhuma outra vila da cidade enfrentou tantas pressões.

Anúncios do fim

Em 1946, o Jornal Correio Paulistano publicou que a Vila Normanda seria desapropriada e demolida para criação de um jardim de infância para substituir o jardim de infância da escola Caetano de Campos que havia sido demolida.

No dia 24 de janeiro de 1948, o jornal Correio Paulistano publicou que, em comemoração ao aniversário do Capitão Porfírio da Paz, ex-prefeito da cidade e fundador do São Paulo Futebol Clube, a vila teria seu nome alterado para Vila São Paulo Futebol Clube. 

Em 1951 o mesmo jornal publicou mais uma vez que a Vila Normanda seria demolida para construção do maior Hotel da América Latina, que seria financiada por uma grande corporação dos EUA. O hotel se chamaria Intercontinental Hotel Corporation.

Com tantas especulações nos anos 50 e 60, a área da Vila Normandia se tornou o lugar mais valorizado da cidade e o mais disputado pelo setor imobiliário.

O que restou da Vila Normanda até hoje

Não resistindo mais às pressões imobiliárias, as casas da Vila Normanda junto à avenida São Luís foram demolidas para a construção do prédio de apartamentos da construtora CNI.

Da antiga Vila Normanda restaram apenas os prédios que levam o nome de Vila Normanda e Conde Silvio Alvares Penteado. A ideia da porte-cochère permaneceu e hoje é a principal ligação entre o edifíco Copan e a avenida São Luís. 

O Conde Silvio Alvares Penteado faleceu em 1956, ele era um dos últimos expoentes da aristocracia paulista do século XIX, da era dos “Barões do Café” e com ele morreu também o sonho de uma vila francesa no centro da cidade de São Paulo.