O destino do "Jovem Pajem" e sua jornada pelo patrimônio de São Paulo

Após as frequentes inundações que atingiram a Ilha dos Amores, a popularidade do local diminuiu, levando ao abandono da área. Com o tempo, a ilha foi aterrada e a escultura "O Jovem Pajem" foi removida.

Ela encontrou um novo lar na Praça Alfredo Paulino, localizada entre as ruas Frederico Abranches e Sebastião Pereira, onde hoje se encontra o bar "Van Grogui", no bairro de Santa Cecília.

Transferência para o Jardim da Luz

Originalmente, o pedestal da escultura era de alvenaria, mas o Liceu de Artes e Ofícios construiu um novo pedestal em ferro fundido para sustentá-la.

A escultura permaneceu na praça por mais de 30 anos até ser transferida novamente, desta vez para o Jardim da Luz. Esta foi a última localização conhecida da obra, como registrado em livros.

O desaparecimento do Jovem Pajem 

Curiosamente, o destino da "Jovem Pajem" se assemelha ao de outras peças históricas da cidade, como o Chafariz do Tebas, que também foi movido do Largo da Misericórdia para o Largo Santa Cecília, e depois enviado para o depósito da prefeitura, onde desapareceu.

Esses deslocamentos refletem a constante transformação urbana de São Paulo e o desafio de preservar seu patrimônio histórico.

Em busca do "Jovem Pajem"

Decidido a desvendar o destino da escultura "Jovem Pajem" de Mathurin Moreau, comecei minha investigação. Percorri o Jardim da Luz e outros locais mencionados em documentos e livros, mas a obra parecia ter desaparecido.

No Parque da Luz, ninguém conhecia a história da "Ilha dos Amores" ou sabia o que havia acontecido com a escultura. A busca parecia ter chegado a um beco sem saída.

Foi então que descobri que o historiador Carlos Fatorelli já havia feito uma busca semelhante em 2012. Ele revelou que o "Jovem Pajem" havia sido retirado do Jardim da Luz e enviado para um depósito da prefeitura.

Lá, a obra foi separada de sua base original, criada pelo Liceu de Artes e Ofícios. Curiosamente, a base foi enviada para o Marco Zero de Santo Amaro, onde foi colocada outra imagem sobre ela. As razões para essa mudança ainda são um mistério.

Visita ao depósito

Durante uma visita ao depósito, um procurador da Procuradoria Geral do Município identificou uma escultura esquecida em um canto. Após uma pesquisa histórica, ele confirmou que era o "Jovem Pajem".

Apesar de estar em más condições, o procurador tomou a iniciativa de requisitar a obra para restauração e a instalou na sede do Centro de Estudos Jurídicos (CEJUR), na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, nº 42, nos jardins da antiga casa da Baronesa de Limeira.

A escultura permaneceu lá até 2012, quando foi transferida para o edifício Leite de Barros de 1920, localizado no Pateo do Collegio, nº 5.

De acordo com o Centro de Estudos Jurídicos da Procuradoria Geral do Município, o "Jovem Pajem" agora faz parte do acervo do CEJUR e será exposto junto com outros documentos históricos, embora ainda não haja uma data prevista para sua exibição.

O legado de João Teodoro e o "Jovem Pajem"

A figura de João Teodoro, presidente da Província de São Paulo, ainda gera controvérsias entre historiadores. Muitos criticavam seu governo pelos altos gastos em projetos urbanos, que na época eram vistos como desperdício.

No entanto, foi sob sua liderança que São Paulo começou a desenvolver uma estrutura urbana, com ruas, praças e jardins que, embora rudimentares, pavimentaram o caminho para a cidade moderna.

Nos últimos 30 anos do século XIX, São Paulo passou por uma transformação notável, evoluindo de uma província para uma capital em crescimento. Este período trouxe desafios, como a necessidade de pavimentação, calçamento e sistemas de drenagem, que a cidade não possuía até então

. João Teodoro tomou medidas ousadas, alinhando ruas, abrindo avenidas e criando quarteirões, esforços que ainda podem ser vistos na malha viária do centro histórico e no bairro planejado de Santa Efigênia, com suas ruas ortogonais. Esses esforços impulsionaram o desenvolvimento urbano do século XX.

A importância do Jovem Pajem

O "Jovem Pajem" hoje é visto como uma peça de grande importância histórica e cultural para São Paulo. É uma das poucas obras de arte pública do século XIX, ainda existe de uma época de urbanização incipiente.

Representa um período importante na história da cidade, quando os parques públicos começaram a surgir. Naquela época, São Paulo não tinha praças públicas, com o Jardim Botânico sendo transformado no Jardim da Luz em 1838, e a Ilha dos Amores sendo o segundo jardim público. Importada da França em 1874, a escultura rapidamente se tornou um marco da cidade.

A importância do "Jovem Pajem" reside não apenas em sua beleza, mas também em seu papel na materialização de um projeto urbano hoje esquecido: a criação de uma ilha artificial na cidade.

Esta tentativa, embora fracassada, buscou transformar uma área propensa a doenças como a febre amarela em um espaço público, que mais tarde se tornou o atual Parque Dom Pedro II.

É surpreendente que poucos tenham reconhecido a relevância do "Jovem Pajem" para a história dos parques públicos de São Paulo, exceto, é claro, a Procuradoria Geral do município.