A+

A-

Alternar Contraste

Quarta, 18 Setembro 2024

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta Gazeta Mais Seta

Curiosidades

Jovem pajem perdido em São Paulo é redescoberto

Conheça a história da escultura de Mathurin Moreau que sobreviveu ao projeto da Ilha dos Amores e se tornou um marco artístico

Lincoln Paiva

05/08/2024 às 18:29  atualizado em 07/08/2024 às 15:06

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
A escultura do "Jovem Pajem" Mathurin Moreau

A escultura do "Jovem Pajem" Mathurin Moreau | Lincoln Paiva

 Ilha dos Amores
Ilha dos Amores
Mapa com a localização da ilha dos Amores
Mapa com a localização da ilha dos Amores
Ficha catálogo de obras da Val D'osne. O Jovem Pajem é o terceiro da esquerda para a direita.
Ficha catálogo de obras da Val D'osne. O Jovem Pajem é o terceiro da esquerda para a direita.

No século XIX, a cidade de São Paulo abrigou um projeto ambicioso na Várzea do Carmo: a construção da "Ilha dos Amores".

Continua depois da publicidade

No centro desse projeto estava o "Jovem Pajem", uma escultura em ferro fundido criada por Mathurin Moreau, um escultor francês.

A história da escultura "Jovem Pajem"

Originalmente usada como luminária, a peça era parte de um esforço para embelezar espaços públicos, adornando praças e jardins em cidades como Buenos Aires, Paris, e Rio de Janeiro.

Na época, essas esculturas de ferro fundido eram vistas na Europa como obras menores, apesar de sua beleza e funcionalidade.

Continua depois da publicidade

Hoje, porém, as criações de Moreau são apreciadas por sua qualidade artística e histórica. Produzidas em série numa das fundições mais prestigiadas da França, essas obras de Moreau ganharam reconhecimento mundial.

Encomendada pelo presidente do Estado de São Paulo, a escultura do "Jovem Pajem" foi destinada a enfeitar a Ilha dos Amores, um espaço que deixou de existir no início do século XX.

A escultura se tornou o único vestígio remanescente desse empreendimento urbano, representando uma época de urbanização pouco conhecida pelos paulistanos de hoje.

Continua depois da publicidade

Por muito tempo, o "Jovem Pajem" ficou "perdido", ocultando seu papel na história de São Paulo.

A arte do ferro fundido e Mathurin Moreau

A arte do ferro fundido foi uma das grandes maravilhas do século XIX, destacando-se pela sua capacidade de transformar metal em arte funcional.

No livro "Arte Francesa do Ferro no Rio," Eulália Junqueira revela que mais de 200 obras foram encomendadas pela cidade do Rio de Janeiro na famosa fundição Val d’Osne, incluindo fontes, chafarizes e esculturas.

Continua depois da publicidade

Entre essas, 40 eram de Mathurin Moreau, um dos principais escultores da época. Seu talento pode ser visto em obras como o monumental chafariz da praça Mahatma Gandhi e as esculturas no Palácio da República e na Praça Tiradentes.

A região de Champagne, na França, não era conhecida apenas por seus vinhos espumantes, mas também por suas incríveis obras em ferro fundido.

Lá estava localizada a "Fonderies du Val d’Osne", uma das fundições artísticas mais prestigiadas do mundo, reconhecida internacionalmente pela excelência de suas criações.

Continua depois da publicidade

Fundada em 1834, a fundição prosperou durante o Segundo Império, especializando-se na produção em série de peças de arte.

Ampliada em 1873, a fundição encerrou suas atividades em 1986, mas deixou um legado que hoje é considerado um patrimônio histórico da França.

A Transformação da Várzea do Carmo em São Paulo

No livro "São Paulo naquele período: 1895 a 1915," Jorge Americano descreve a Várzea do Carmo, hoje conhecida como Parque Dom Pedro II, como uma região sujeita a inundações durante a época das chuvas.

Continua depois da publicidade

Na estação seca, a paisagem era marcada por dois braços do Rio Tamanduateí, que formavam uma ilha entre o Gasômetro e o Carmo.

Um desses braços corresponde ao leito atual do rio, enquanto o outro corria paralelo à Rua 25 de Março, unindo-se ao primeiro perto do local onde hoje está o mercado.

Naquela época, a Várzea do Carmo era um cenário comum para as lavadeiras, que desciam as colinas da cidade para lavar roupas no rio.

Continua depois da publicidade

Vestidas de maneira prática para o trabalho, elas amarravam suas saias de modo a facilitar os movimentos, criando um visual que se assemelhava a calções bufantes.

Essa rotina continuou até que o governo decidiu intervir, aterrando e transformando a área em um jardim.

Observando o mapa de São Paulo de 1868, podemos ver que a ilha ainda não existia; ela só aparece nos mapas a partir de 1874. Em 1914, a ilha foi aterrada, e, em 1922, a área foi oficialmente transformada no Parque Dom Pedro II, um marco na transformação urbana da cidade.

Continua depois da publicidade

O Papel dos Jardins Públicos na história de São Paulo

Na primeira metade do século XIX, São Paulo era uma cidade com poucos espaços de lazer.

O Jardim da Luz, inaugurado em 1799 como um jardim botânico, era praticamente o único refúgio verde para os paulistanos. Só em 1874 surgiu um novo espaço público, conhecido como "Ilha dos Amores".

Projeto urbano – Ilha artificial

Sob a liderança de João Teodoro, presidente da Província, São Paulo começou a passar por uma modernização. Ele implementou uma série de melhorias urbanas para transformar a capital, visando agradar as classes mais abastadas e dar à cidade um ar cosmopolita, contrastando com seu caráter ainda provincial e colonial.

Continua depois da publicidade

Um dos grandes desafios era lidar com as enchentes na Várzea do Carmo, que se transformavam em um grande lamaçal durante o período de chuvas, trazendo doenças e mosquitos. Para enfrentar esse problema, João Teodoro decidiu aterrar as ilhas naturais formadas pelas cheias do Rio Tamanduateí e redesenhar o curso do rio, criando uma única ilha artificial.

Ele ordenou que essa área fosse ajardinada e que uma ponte fosse construída para dar acesso ao novo espaço de recreação. Com casas de banho, restaurantes e jardins, a "Ilha dos Amores" rapidamente se tornou um dos locais mais populares da cidade.

A obra pública

Para tornar a entrada da Ilha dos Amores ainda mais atraente, o presidente João Theodoro optou por uma ornamentação que era bastante popular na corte do Rio de Janeiro: uma luminária pública criada na renomada fundição francesa Val d’Osne.

Continua depois da publicidade

Essa luminária, conhecida como "O Jovem Pajem" e esculpida por Mathurin Moreau, foi colocada sobre um pedestal de alvenaria. Embora sua iluminação fosse modesta, a escultura rapidamente se tornou um ponto de referência na entrada da Ilha dos Amores.

A "Ilha dos Amores" era, na verdade, o apelido carinhoso para a ilha artificial oficialmente chamada de Jardim Público. Este espaço foi construído próximo a um antigo depósito de lixo, mas sua localização infeliz fez com que a ilha ficasse submersa já nas primeiras chuvas do verão de 1874.

Infelizmente, esse projeto ambicioso não durou muito, mas a escultura "O Jovem Pajem" permaneceu como um lembrete do sonho urbanístico da época.

 

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados