Gêmeos de pais diferentes? Médicos explicam fenômeno raro retratado em 'Pedaço de Mim'

Estrelada por Juliana Paes, Vladimir Brichta e Felipe Adib a série “Pedaço de Mim”, da Netflix, conta a história de uma mulher que engravida de gêmeos de pais diferentes e, desde sua estreia, em 5 de julho, tem sido um sucesso de audiência.

Segundo números da própria Netflix, até o dia 14 de julho, “Pedaço de Mim”, ou “Desperate Lies”, em inglês, já havia sido vista por 5,8 milhões de espectadores, atingindo o top 10 do streaming em 73 países, incluindo Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha, África do Sul e Turquia.

No Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, Polônia e Eslováquia, a série chegou a ocupar a primeira colocação do ranking.

O sucesso do folhetim fez com que muita gente se perguntasse se é realmente possível a gravidez de gêmeos de pais diferentes. Para a surpresa de muitos, a resposta é positiva.

Gêmeos de pais diferentes: entenda a superfecundação heteroparental

A gravidez de gêmeos de pais diferentes é chamada de superfecundação heteroparental. Para que ela ocorra, contudo, são necessárias algumas condições especiais, conforme explica a ginecologista e obstetra Helga Marquesini, do Hospital Sírio-Libanês.

“A superfecundação heteroparental ocorre quando dois ou mais óvulos diferentes liberados pela mulher são fecundados por espermatozoides de parceiros sexuais diferentes, gerando uma gestação de mais de um bebê”, diz Helga.

Em outras palavras, a mulher precisa liberar mais de um óvulo no mesmo ciclo menstrual e ter relações sexuais com mais de um parceiro em um curto período de tempo, exatamente como na série.

Com que frequência ocorre a superfecundação heteroparental?

Ainda que a possibilidade da gestação de gêmeos de pais diferentes exista, tais casos são extremamente raros.

Para se ter ideia, as chances de gestação de uma mulher, entre os 20 e 30 anos, é de aproximadamente 25% ao mês. Com o avançar da idade, porém, este percentual cai, chegando a 10% para mulheres na faixa dos 40 anos. Quando se trata de gêmeos, os números são ainda menores.

“A chance de uma mulher ter gêmeos varia conforme vários fatores, incluindo idade, genética, e tratamentos de fertilidade. Em gestações naturais, a probabilidade de ter gêmeos fraternos (dizigóticos) é cerca de 1 em 80, enquanto a chance de ter gêmeos idênticos (monozigóticos) é em torno de 1 em 250”, relata a ginecologista e obstetra Loreta Canivilo, do perfil @draloreta.

No que diz respeito à gestação de gêmeos de pais diferentes, Loreta conta que, em uma análise feita em 2021, em um banco de dados de 39.000 registros de testes de paternidade nos Estados Unidos, apenas três casos de superfecundação heteroparental foram encontrados.

Em caso de desconfiança de múltipla paternidade, apenas o teste de DNA pode confirmar ou não as suspeitas. O teste pode ser feito após o nascimento das crianças ou durante a gravidez, conforme orientação médica.

Casos reais de gêmeos de pais diferentes

Até 2022, estima-se que apenas 20 casos de gêmeos de pais diferentes haviam sido registrados. Um destes casos, ocorreu em 2022 no sudoeste de Goiás, em uma cidade chamada Mineiros.

Na ocasião, uma mulher de 19 anos deu à luz a dois meninos gêmeos de pais diferentes. A suspeita da múltipla paternidade surgiu quando os meninos tinham 8 meses e foi confirmada por um teste de DNA. Segundo reportagens da época, o pai de um dos meninos assumiu as duas crianças.