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Faixas com ameaças "sujeito a cacete", atribuídas ao PCC, dividem opiniões em São Paulo | Facebook/com edição da Gazeta
A mensagem é clara e direta: “Proibido tirar de giro e chamar no grau. Sujeito a cacete”. Faixas com essas frases se multiplicaram por bairros e cidades periféricos. Há quem diga que são de autoria do PCC. Mas qual a origem da ameaça direcionada a motociclistas?
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Em 2021 a Gazeta mostrou o caso de um homem que foi espancado após, supostamente, ter feito manobras com sua moto que desrespeitaram o aviso.
Para tentar desvendar a origem dessas faixas, a Gazeta fez uma levantamento dos casos em que essas faixas foram flagradas em diversas cidades.
Muitas certezas e incertezas estão em torno da origem desses avisos. Há quem diga que são traficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) quem as pendura pelas ruas. Algumas notícias atribuem a cidadão comuns a atitude de espalhá-las em seus bairros.
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As faixas também dividem opiniões. Nas redes sociais, alguns as defendem, dizendo que deveriam haver mais faixas como estas em todos os bairros. Os que criticam os avisos, dizem que a “regra” está cerceando o divertimento de quem realizou o sonho de ter moto.
Aprovadas ou não pelo público, as faixas com ameaça parecem ter surtido efeito em alguns casos. Há relatos de supostos motociclistas que pararam de fazer suas manobras perigosas e barulhentas com medo de represália.
Para a maioria das pessoas as manobras com moto realizadas em muitas ruas de bairros periféricos são apenas barulho. Mas no mundo de quem quer chamar atenção com sua motocicleta, as acrobacias têm nome certo.
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“Tirar de giro” é acionar a embreagem da moto a ponto de produzir um barulho muito alto com o motor e o escapamento. O estardalhaço chega a parecer uma sequência de tiros.
Já a expressão “chamar no grau” é mais conhecida. Se refere à prática de empinar a moto fazendo o veículo andar somente com uma das rodas.
Independente dos nomes, as manobras são inaceitáveis para o grupo que produz as faixas.
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O grande motivo por trás do surgimento das misteriosas faixas está na segurança. Um homem supostamente pego pelo PCC desobedecendo ao aviso da faixa explicou a finalidade da ameaça.
Em vídeo ele disse que as faixas surgiram "devido à molecada tirando giro, tirando um barato do pessoal, empinando. [Isso] coloca em risco a criançada e idosos [e incomoda] trabalhador que não consegue dormir". Na gravação, ele é espancado pouco antes.
A autenticidade do vídeo é questionável, mas as estatísticas, não. Em 2023, o número de motociclistas internados pelo SUS após acidentes chegou a 141,7 mil.
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Nos dois anos anteriores condutores de motos também lideraram entre os principais grupos de vítimas por acidentes no trânsito que resultaram em internações. Veja os dados abaixo.
Grupos que supostamente seriam autores das faixas afirmam que a consequência para quem infringe à “regra” é violenta.
Um vídeo que, na internet, é atribuído a membros do PCC mostra um homem sendo espancado por desobedecer às ordens. Nas imagens ele aparece recebendo diversos golpes, como socos e chutes.
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A voz de um suposto membro da facção é ouvida ao fundo, instruindo as frases que a vítima do espancamento deve pronunciar. Na gravação, fica claro o recado de que as pessoas pegas “dando grau” seriam também violentadas. Assista a seguir.
#BRASIL PCC PROÍBE EMPINAR MOTO NA PERIFERIA DE SP e ESPANCA QUEM DESOBEDECE Veja vídeos completos https://t.me/pinhaisjovem Em um vídeo de 48 segundos postado nas redes sociais, um motociclista de Osasco (Grande SP) orienta os colegas motorizados sobre a importância do respeito às faixas de trânsito que vêm sendo implantadas pelo PCC nas comunidades da capital e Grande de São Paulo nos últimos dias com os seguintes dizeres: "Proibido tirar de giro e chamar no grau. Sujeito a cacete. Não aceitamos isso na nossa comunidade". "Tirar de giro" é, na "quebrada", a manobra realizada por motociclista que provoca a explosão do escapamento, barulho que se assemelha a disparos de arma de fogo. "Chamar no grau", por sua vez, é empinar a roda da frente da moto para se exibir. "Quero dizer que essas faixas são, sim, para serem respeitadas, entendeu, mano? Quem está colocando é a comunidade, é o crime, em prol da população", diz o rapaz, fazendo, segundo ele mesmo, uma retratação de uma postagem anterior em que aparece "tirando de giro" e desrespeitando uma dessas faixas. Na imagem uma Faixa em Heliópolis, na zona sul da capital, proíbe motociclistas de empinar moto e fazer barulho; mesma mensagem foi vista em outras comunidades da capital ( Foto: Danilo Verpa/Folhapress ). A gravação é acompanhada por homens desconhecidos e, diante deles, o motociclista explica a ordem do crime: "devido à molecada tirando giro, tirando um barato do pessoal, empinando, [isso] coloca em risco a criançada e idosos" e incomoda "trabalhador que não consegue dormir". Sob ameaça de criminosos, ele finaliza dizendo que está postando o vídeo para dar exemplo. "Porque quem vier a fazer isso daí vai ser pego para exemplo, como eu estou sendo", diz ele. Em seguida, é espancado por um homem com chutes, socos e cotoveladas. A Folha apurou que em praticamente todas as regiões de São Paulo essas faixas foram vistas, inclusive em vias importantes de acesso a grandes favelas, como Heliópolis, na zona sul da capital. Também foram identificadas pela reportagem as mesmas faixas em Parelheiros, na zona sul, e em Jaçanã, na zona norte. Em todas essas regiões o crime é monopolizado pelo PCC, maior facção criminosa do país. Assim como na Grande São Paulo, os moradores desses bairros informam que elas foram colocadas nessas vias para aviso aos infratores, que são punidos em eventual desobediência. As punições geralmente ganham publicidade para conseguir o efeito dissuasório. Não está claro nesse código do PCC qual a punição para os reincidentes. O caso vem sendo investigado pela Polícia Civil, que quer descobrir quem colocou as faixas. Em alguns pontos, esses avisos visuais foram removidos por ordem da polícia. Os policiais também identificaram o rapaz espancado em Osasco, que não tinha feito boletim de ocorrência para reclamar do crime. No inquérito, a polícia também realiza diligências para esclarecer todas as circunstâncias do fato. A polícia também diz, em nota, que "a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) do município investiga outros locais na cidade em que possam existir faixas, no intuito de apurar eventuais crimes existentes por trás de tal comportamento". E finaliza: "Com relação às faixas colocadas nas demais regiões, as delegacias das áreas mencionadas iniciaram apuração para verificar se há ligação entre a instalação dessas faixas e criminosos"️ Fonte: Folha UOL
Posted by Junior Caceres Marketing Digital on Friday, December 17, 2021
Em São Paulo, as aparições mais antigas dessas faixas datam de 2021, de acordo com a apuração da Gazeta. As notícias mais antigas referem a faixas estendidas entre postes de luz nas cidades de Guarulhos e Osasco.
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O modelo é o mesmo encontrado até hoje nas periferias de diversas cidades pelo Brasil. Até mesmo em municípios que, teoricamente, não têm atuação do PCC. Nelas, a frase “sujeito a cacete” está sempre em destaque.
A reportagem perguntou à Secretaria de Segurança Pública sobre o começo das aparições desses avisos pelas ruas paulistas e aguarda resposta da pasta.
Na internet os avisos misteriosos dividem opiniões. Quem defende, comemora a expectativa por mais segurança para crianças que brincam nas ruas e que estariam em risco com as manobras com motos.
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“PROIBIDO TIRAR DE GIRO SUJEITO A CACETE”“PROIBIDO TIRAR DE GIRO SUJEITO A CACETE”
Posted by Família do grau on Sunday, December 19, 2021
“Nossa quem colocou esse cartaz deveria ser o governador do nosso país ,pois fala e cumpre. Parabéns”, comentou um internauta em uma das publicações que mostra a faixa.
“Todos os bairros deveria colocar uma faixa assim gostei da ideia”, escreveu outro na sessão de comentários.
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Já quem critica a prática defende que pilotar a moto em apenas uma roda e fazendo barulho é um tipo de diversão que está sendo negada aos jovens, diz uma internauta.
“Os moleques querem, aos fins de semana, distrair a mente dando uns graus, fazendo um barulho, aí tá sujeito a cacete. [Isso] é quer tira a alegria da molecada. Por isso que a favela não vence. Roubar na quebrada pode, né?”, opinou.
Segundo a mulher, quem colocou a faixa, deveria também ameaçar com violência quem é pego roubando os moradores locais.
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A matéria de 2022, a agência de jornalismo, Ponte, revelou que alguns moradores se sentiram aliviados com o surgimento das gravuras em tecido em seus bairros.
“A gente sempre tinha esse problema com os motoqueiros bagunceiros e nunca adiantava morador falar. Mas esse ano quase não vimos nada disso”, afirmou ao portal um comerciante, morador da região do Grajaú.
Ao mesmo jornal, um motociclista que costumava “tirar giro” admitiu que parou com a prática após saber da faixa.
“Mesmo curtindo fazer isso, a gente entendeu que é preciso respeitar os moradores mais velhos que só querem ficar tranquilos, então não podemos atropelar a ordem que foi passada”.
Já na Favela da Ilha, zona leste da Capital, sequer foi preciso observar faixas para que as práticas terminassem.
“Não tinha escrito em lugar nenhum, mas aqui não teve ninguém fazendo barulho com moto. O único que presenciei tirando de giro foi rapidamente interrompido por um rapaz que mora aqui, ouviu um monte, e saiu tremendo”, contou também à Ponte um local.
As primeiras notícias que relatam o surgimento das faixas que ameaçam quem costuma dar grau e tirar giro afirmam que os próprios moradores é que colocaram os avisos.
Posteriormente, vídeos nas redes sociais passaram a ser atribuídos a membros de facções criminosas, como o PCC. As gravações de violência explícita acabaram associadas aos grupos criminosos, sem comprovação.
A Gazeta perguntou à SSP sobre a autoria das faixas e ainda aguarda resposta da autarquia.
Policiais costumam retirar faixas deste tipo quanto as encontram, segundo mostrou matéria da Ponte Jornalismo em 2022.
A publicação mostrou que houve um aumento do número de avisos no fim do ano anterior e que as gravuras foram recolhidas pelos agentes após o período festivo.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, tanto fazer barulho alto com a moto, quanto empinar o veículo são práticas proibidas, na Lei 9.503/1997. Ambas as infrações são passíveis de multas e retenção do veículo. Veja detalhes:
Art. 230. Conduzir o veículo:
XI - com descarga livre ou silenciador de motor de explosão defeituoso, deficiente ou inoperante;
Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta ou ciclomotor:
III - fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em uma roda;
A Gazeta aguarda posicionamento da SSP quanto às medidas tomadas pela polícia e pela Justiça quanto às manobras arriscadas com motos e também quanto à instalação das faixas.
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