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Exclusivo: Mariam Chami fala sobre ser uma influencer muçulmana 'me sinto empoderada usando lenço'

A blogueira, que tem mais de dois milhões de seguidores, explica porque cobre o cabelo e fala sobre a vida no islamismo

Gabriela Barbosa

25/03/2025 às 16:35

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Mariam Chami fala sobre a religião muçulmana nas redes sociais

Mariam Chami fala sobre a religião muçulmana nas redes sociais | Divulgação/Mariam Chami

Quase dois bilhões de pessoas ao redor do globo seguem o islamismo. Apesar de ser a segunda religião mais seguida do mundo, muitos brasileiros não conhecem a cultura muçulmana e replicam preconceitos relacionados a ela.

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Mariam Chami, muçulmana desde seu nascimento, tem um papel fundamental para mudar esse ciclo. A influencer de 34 anos faz vídeos explicando o islamismo para pessoas que não seguem a religião, com uma linguagem simples e divertida.

Mariam tem quase dois milhões de seguidores só no Tik Tok (Foto: Divulgação/Mariam Chami)
Mariam tem quase dois milhões de seguidores só no Tik Tok (Foto: Divulgação/Mariam Chami)
Muçulmanas usam o chamado burkini, roupa de banho que cobre todo o corpo (Foto: Reprodução/Instagram)
Muçulmanas usam o chamado burkini, roupa de banho que cobre todo o corpo (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariam é casada e tem um filho, chamado Abud (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariam é casada e tem um filho, chamado Abud (Foto: Reprodução/Instagram)
A influencer bomba nas redes sociais postando looks estilosos (Foto: Reprodução/Instagram)
A influencer bomba nas redes sociais postando looks estilosos (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariam sempre viaja e posta seus relatos na internet (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariam sempre viaja e posta seus relatos na internet (Foto: Reprodução/Instagram)

“O preconceito vem da falta de informação. Quando você traz informação para as pessoas, você acaba quebrando esses preconceitos que elas têm. É isso que eu procuro fazer na internet”, afirmou a influencer.

Durante entrevista exclusiva à Gazeta, Mariam falou sobre o jejum no mês do Ramadã, a criação de seu filho muçulmano e sua história na internet. Além disso, a influencer também ressaltou a importância dos lenços usados pelas muçulmanas para cobrir o cabelo, o hijab.

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Mariam Chami expõe sua vida para a Gazeta e explica o uso de lenço na cabeça

Gazeta: De onde surgiu a ideia de fazer vídeos sobre a religião muçulmana para pessoas não islâmicas? Como as redes sociais entraram na sua vida?

Mariam Chami: Na verdade, eu comecei fazendo vídeos justamente para os muçulmanos. É a comunidade não-islâmica que abraça todos os conteúdos que eu faço. Minha ideia original era explicar para minhas amigas muçulmanas os conceitos da religião.

Eu tive uma educação religiosa desde pequena muito forte, tanto em casa quanto na escola, pois estudei em um colégio muçulmano em São Paulo. Eu tenho uma amiga que tinha muitas dúvidas sobre os preceitos da religião e eu quis ajudá-la. Comecei a fazer vídeos pensando em pessoas como ela, muçulmanos que precisavam saber mais sobre a religião. 

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Então eu comecei a falar o básico, de uma forma mais séria. Mas foi só quando eu passei a fazer vídeos mais leves sobre maquiagem no Facebook que as coisas começaram a fluir. Os muçulmanos já tinham curiosidade sobre esses fatos básicos, mas quem era de fora teve mais ainda.

Mariam tem uma rotina de orações rígidas, inclusive em viagens de avião (Foto: Reprodução/Instagram)Mariam tem uma rotina de orações rígidas, inclusive em viagens de avião (Foto: Reprodução/Instagram)

Desde pequena eu via minha mãe usando hijab [vestimenta muçulmana com lenço que esconde o cabelo das mulheres]. Quando comecei a usar também, sempre fui muito questionada. Na internet, isso não foi diferente, ao mesmo tempo em que existia o julgamento, existia a curiosidade. Então eu aproveitei isso e fui tirando as dúvidas das pessoas.

Com quantos anos você começou a usar o hijab? Foi na mesma época que você começou a fazer o jejum do Ramadã?

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O uso do hijab se torna obrigatório a partir da primeira menstruação da menina, que é o momento em que ela se torna uma mulher. Mas essa obrigação é pessoal, é uma escolha da mulher. Se ela quiser colocar, coloca, se não quiser, tudo bem.

As meninas também podem usar o lenço para esconder o cabelo antes de menstruar. Muitas delas vêem a mãe ou outras mulheres da família usando e também querem. O importante é entender que o hijab não é só um pano que cobre a cabeça. Usá-lo é representar a religião com o seu corpo, é uma prática, um comportamento.

Eu uso hijab desde criança, porque era obrigatório na minha escola, mas não usava muito fora de lá. Quando eu menstruei, ninguém veio me dizer que naquele momento eu precisaria usar. Era uma coisa que eu já sabia e, pela minha fé, fiquei muito feliz de começar.

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Mariam usa o hijab desde criança (Foto: Divulgação/Mariam Chami)Mariam usa o hijab desde criança (Foto: Divulgação/Mariam Chami)

A mesma coisa acontece com o jejum. Ele não é obrigatório para as crianças, mas muitas, ao ver os pais fazendo, começam a praticar também. Eu mesmo comecei a tentar fazer jejum com seis anos, eu comia de manhã e ficava o máximo de tempo que conseguia sem comer.

Como o uso do hijab, o jejum é obrigatório a partir da menarca para as mulheres e a semenarca — primeira ejaculação dos meninos, geralmente entre 12 e 14 anos — dos homens. 

Você já passou por situações de preconceito por conta da religião? Isso já influenciou algum trabalho ou estudo seu?

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Eu sempre brinco que, antes da internet, usar o hijab era um problema, era um empecilho para conseguir um emprego, mas hoje ele é o meu diferencial, ele faz parte do meu trabalho.

Eu sou formada em nutrição e amava ser nutricionista, atuar nessa área. Eu estagiava em um hospital e ouvi várias vezes de superiores que eu era muito séria para o cargo, por conta da minha aparência com o lenço.

Falavam que eu não poderia ser nutricionista porque nós, mulheres muçulmanas, não cumprimentamos homens com aperto de mão, apenas acenamos sem contato físico.

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Eu nunca consegui trabalhar na minha área, não porque a minha religião me limita, porque ela nunca me limitou a estudar, mas porque me limitaram. Sempre davam esse tipo de desculpa esfarrapada para esconder a intolerância religiosa.

Muitos brasileiros vêem o hijab como uma opressão, mas você já declarou diversas vezes que, na verdade, ele é uma escolha. Como você acha que usar o hijab empodera as mulheres?

Desde que eu comecei a usar o hijab todos os dias, percebi que eu teria que lutar muito mais do que outras mulheres para conseguir as mesmas coisas. Ser uma mulher já traz milhares de desafios para nós, ainda mais quando se é uma mulher muçulmana, muito julgada pela sociedade.

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O que me dá forças é a minha fé. Eu tenho muita certeza do que acredito e, por isso, consigo andar na contramão da sociedade. Num momento onde muitas mulheres querem mostrar o corpo, e são cobradas por isso, eu me cubro completamente.

Eu me sinto muito empoderada usando meu hijab. Eu sinto que não importa o meu corpo, não importa como é o meu cabelo, não importa nada, importa aqui o que eu acredito, o que eu falo, o que eu tenho aqui na minha cabeça. 

Mariam ter orgulho de usar hijab (Foto: Reprodução/Instagram)Mariam ter orgulho de usar hijab (Foto: Reprodução/Instagram)

Quais são as dificuldades de criar um filho muçulmano no Brasil, onde a cultura católica é tão forte? Ele entende o porquê de vocês não comemorarem datas como o Natal?

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Educar não é fácil em nenhuma cultura, em nenhuma religião. Mas, se sua religião não é majoritária, algumas dificuldades maiores vão surgir. 

Eu sou uma pessoa muito didática e sempre tento ensinar o meu filho da maneira mais lúdica possível. Eu converso bastante com ele, explico tudo de uma forma bem infantil. Sempre dou exemplos para ele, tento inseri-lo, mostrando que, apesar da gente não estar num país onde a nossa religião é majoritária, temos diversas coisas tão legais quanto outras religiões.

A religião faz parte de tudo. Ser muçulmano não é só aprender a rezar, temos diversas condutas específicas dentro de casa. Os homens, por exemplo, fazem xixi sentado no vaso. Nós sempre lavamos nossas partes íntimas com água, utilizando a mão esquerda. Nós sempre comemos com a mão direita, nunca com a esquerda, porque a utilizamos para limpar as genitálias.

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Durante o mês do Ramadã, Mariam dá vários presentes a seu filho Abud (Foto: Reprodução/Instagram)Durante o mês do Ramadã, Mariam dá vários presentes a seu filho Abud (Foto: Reprodução/Instagram)

Podemos comparar com a criação de crianças veganas. Alguns pais, adeptos do veganismo, criam seus filhos sem comer carne. A criança naturalmente vai se adaptar ao veganismo.

É a mesma coisa com a religião, eu ensino o Alcorão para meu filho todo dia e também rezo com ele. Hoje, ele já consegue memorizar algumas orações e já entende diversas passagens do Alcorão, tudo de forma muito natural e lúdica.

Nós, muçulmanos, não devemos prestar atenção na opinião dos outros, muito menos querer agradá-los. Nós devemos agradar a Deus, e somente Ele. Não podemos fazer coisas pensando no que outras pessoas vão pensar, se estamos agradando a Deus, já é o suficiente.

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