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Uma espécie de ave, chamada de Tapicuru, se espalhou pelo litoral de São Paulo e tem conquistado a atenção dos moradores | Charles J. Sharp/Wikimedia Commons
Uma espécie de ave se espalhou pelo litoral de São Paulo e tem conquistado a atenção dos moradores. Trata-se do Tapicuru (Phimosus infuscatus), que dominou a região.
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A espécie se tornou muito comum no dia a dia dos moradores da Baixada Santista e foi aparecendo cada vez mais a partir de 2020. Entenda.
Cruzando o caminho de diversos pedestres durante o trajeto para casa, escola ou trabalho, a ave é de porte grande, em comparação a um bem-te-vi, por exemplo. Tem o bico longo, fino, ligeiramente curvado e de cor amarelo alaranjado que contrasta com o corpo negro.
Renee Leutz Lopes de Oliveira, bióloga e membro do Clube de Observadores de Aves de Santos (COA), contou que o pássaro, que tem plumagem preta, patas vermelhas, cara amarelada e um pouco rosada, também é chamado de maçarico-de-cara-pelada.
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"O comprimento varia entre 46 e 54 centímetros e a massa chega a 600 gramas. É uma espécie sem dimorfismo sexual, ou seja, macho e fêmea não se distinguem a olho nu", disse a bióloga.
Contudo, a espécie era raramente encontrada por estas terras e começou a ser vista mais frequentemente após o período de pandemia. O biólogo Bruno Lima afirmou ao portal g1 que isso se deve ao desmatamento.
"Como é uma espécie típica de alagados, arrozais e várzeas, o tapicuru tem se aproveitado dos desmatamentos para ir colonizando novas áreas", explicou.
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O pássaro é considerado primo do famoso guará-vermelho (Eudocimus ruber) e também possui o curvo longo como ele. "Enfia o bico na lama à procura de minhocas e outros bichinhos. Vive normalmente em bandos", completou Bruno.
Renee Leutz falou que, em Santos, o lugar mais fácil para observar o pássaro é nos Jardins da Orla. A especialista tenta explicar a razão que fez essa ave se espalhar pela região.
"Aqui em Santos, eles começaram a aparecer com mais frequência após o período de pandemia, principalmente nos Jardins da Orla. Em conversa com meu amigo, Leonardo Casadei, cogitamos o fato da 'ausência' humana fazê-los dominarem as ruas da Baixada Santista".
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Pode ser encontrado, além de em todas as regiões do Brasil, na Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Com a diminuição de florestas cada vez mais agravada com o passar dos anos, e, consequentemente, o aumento de áreas mais abertas e desmatadas, cada vez torna-se mais comum encontrar os tapicurus. A ave é vista com frequência em gramados, praias, poças, valas e canais.
"Essa alteração ambiental vai tornando a ocupação cada vez mais propícia, de forma que eles avancem e se estabeleçam em novas áreas. Aqui em Santos, o maçarico-de-cara-pelada, encontrou no Jardim da Orla o ambiente perfeito para sua colonização. Além daqui, ele também achou morada em Bertioga e Praia Grande", explicou a bióloga Renee Leutz.
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A bióloga disse também que o aparecimento dos tapicurus pela região deve estar diretamente relacionado ao desmatamento.
"Em Santa Catarina, por exemplo, o aumento populacional vem acontecendo em locais nos quais a Floresta Ombrófila deu lugar às pastagens e campos de arroz, favorecendo, de certa forma, a distribuição da espécie. Embora pareça muito interessante e 'bonitinho' avistar uma espécie nova com cada vez mais frequência, nem sempre é positivo, uma vez que está, infelizmente, ligada à degradação ambiental".
Presente na outra ponta da Baixada, o biólogo e ornitólogo, Bruno Lima, também falou que a espécie está presente em praticamente todos os lugares de Peruíbe e também tenta entender o motivo que fez com que a ave se destacasse.
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"Eles começaram a ficar mais comuns durante a pandemia e é possível encontrá-los no jardim da praia, gramados, valas e campos de futebol. Como tem mais áreas abertas e desmatadas, essa espécie vai se espalhando."
Segundo Bruno, as aves mostram muito sobre a saúde do meio ambiente. "Como o bioma predominante do litoral paulista é a Mata Atlântica, a presença de aves de áreas abertas é uma indicação de que estamos perdendo floresta".
Uma cidade também do litoral de São Paulo chegou uma outra espécie de ave, considerada mais rara, andando pela calçada.
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O também biólogo e guia de observação de aves, Miguel Malta Magro, que mora em Santo André, revelou que a ave também se espalhou pela cidade onde mora e compartilhou uma teoria interessante a respeito da aparição em massa da espécie.
Além do aumento do desmatamento, ele frisou que a ave pode ter pegado um nicho que as outras aves da família, como o Curicaca (Theristicus caudatus) e o Coró-coró (Mesembrinibis cayennensis) não pegaram.
“Quando o Tapicuru chegou na cidade, ele acabou se adaptando para um nicho onde nenhuma outra ave da família dele é adaptada, então ele não concorre com ninguém, não compete com ninguém, não tem um significativo para conter a população", iniciou.
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O fator do tamanho da ave também pode ter ajudado. "Como é uma ave grande, ele acaba se reproduzindo muito rapidamente e tem uma oferta de alimento muito grande também, porque os vermes dos quais ele se alimenta, os passeriformes e outras aves urbanas não conseguem alcançar a profundidade que o Tapicuru consegue", concluiu.
Dominando o litoral e o ABC Paulista, a espécie vem se tornando uma ave símbolo do Estado.
O estado de conservação do Tapicuru está classificado como pouco preocupante na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) das espécies ameaçadas.
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