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Você sabia que São Paulo já teve uma Torre de Pisa torta?

Construído em 1872, o Canudo do dr. Teodoro foi demolido em 1900 e transformado em muro no bairro do Bom Retiro

Lincoln Paiva

27/12/2024 às 15:45

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Por erros de engenharia, a torre acabou ficando torta, o que lhe rendeu o apelido em alusão à torre italiana

Por erros de engenharia, a torre acabou ficando torta, o que lhe rendeu o apelido em alusão à torre italiana | Acervo/Alesp

João Theodoro, um visionário do século XIX, transformou São Paulo com obras pioneiras. Entre elas, o mirante do Jardim da Luz, mais conhecido como o Canudo do dr. Teodoro. Apesar de demolido, parte de sua história parece sobreviver em um discreto muro no bairro Bom Retiro.

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Além de modernizar São Paulo com ruas pavimentadas e bondes iluminados, João Theodoro deixou marcas enigmáticas na cidade, como o uso de tijolos do mirante da Luz em uma construção que intriga historiadores até hoje.

A torre acabou ganhando até o apelido de Torre de Pisa de São Paulo. Entenda os detalhes dessa curiosa história.

Quem foi João Theodoro Xavier de Matos

Considerado homem muito à frente de seu tempo no modo de pensar, agir e de se vestir, Matos nasceu em 1828, foi professor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Foi também promotor e presidente da província de São Paulo em 1872, cargo equivalente ao de governador de São Paulo.

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Numa época em que o poder público era exercido pelos barões do café e por altos títulos nobiliários, João Theodoro vinha de família simples e se formou advogado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco pelo próprio esforço e talento. 

Era considerado um homem excêntrico e governava com a ajuda da “opinião pública”, que era invocada todas as vezes que precisava tomar uma decisão importante. Recorria, por exemplo, à opinião de um marceneiro que era seu chefe de gabinete, à quituteira preta Nhá Maria Café, entre outros membros da comunidade. 

João Theodoro foi considerado por especialistas e urbanistas como o primeiro “urbanista” da cidade de São Paulo, por ter estruturado a cidade com uma rede de ruas pavimentadas, parques e jardins públicos.  

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As transformações lideradas por Matos

Até a metade do século XIX, a cidade de São Paulo era pouco desenvolvida. Não tinha infraestrutura urbana e estava diminuindo de tamanho. O município estava estagnado desde 1822, quando Dom Pedro I deu o grito da Independência nas margens do Ipiranga. 

Foi nesse contexto que João Theodoro assumiu a presidência da província de São Paulo e anunciou um plano de melhoramentos para preparar a cidade para o futuro. 

Assim, implementou as primeiras linhas de bondes puxados a burro; as ruas foram calçadas com paralelepípedos e iluminadas a gás. 

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Criou a “Ilha dos Amores”, um projeto urbano resultante da retificação do rio Tamanduateí; e requalificou o Jardim da Luz com estátuas e um mirante, cuja ideia era transformá-lo em um observatório anos mais tarde.  

O Canudo do Dr. João Theodoro - Torre de Pisa de SP

O mirante do Jardim da Luz foi construído com cinco andares e se tornou a maior edificação da cidade. A população achou estranho aquele prédio que parecia mais um farol marítimo e logo o apelidou de “Canudo do Dr. João Theodoro”.  

O mirante do Jardim da Luz foi construído em 1874. A ideia era transformá-lo em um observatório, mas um erro de engenharia fez a estrutura ceder perigosamente para um lado. 

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As pessoas começaram a chamar a torre de canudo de papel, e os imigrantes italianos apelidaram o mirante de Torre de Pisa paulista. 

A torre foi abandonada por anos e começou a servir a outros propósitos não tão edificantes, sendo apelidada de Torre da Luz Vermelha. Foi então que o prefeito Antônio Prado mandou demolir o mirante no início do século XX.  

A ressurreição do canudo

No relatório de prefeitos do ano de 1900, arquivado no Arquivo Histórico do Município, foi registrado que o Mirante da Luz foi demolido e que os tijolos ingleses foram usados para a construção de um muro no início da rua dos Imigrantes, atual José Paulino, no Bom Retiro, região central.

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No ano 2000, durante as obras de restauração do Parque da Luz, foram encontradas as ruínas do alicerce do antigo Mirante da Luz, que podem ser visitadas ainda na forma como foram descobertas durante as escavações.  

O Parque da Luz era, no século XVIII, um antigo terreno da família Arouche, que foi doado para o governo de São Paulo para a criação de um jardim botânico

Uma parte do jardim botânico foi desapropriada para a construção da Estação Ferroviária da Luz e, depois, para a construção da Pinacoteca do Estado, sendo finalmente transformado em jardim público. Atualmente, é o jardim público mais antigo da cidade.

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