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Anomalia no campo magnético da Terra chegou à América do Sul

Cientistas descobriram que fenômeno é recorrente e provocado por variações no fluxo térmico dentro do planeta

Leonardo Sandre

04/09/2024 às 19:42  atualizado em 04/09/2024 às 19:46

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Uma anomalia magnética atinge o Atlântico Sul, fazendo com que a região tenha um campo magnético terrestre anormalmente baixo, o que interfere no funcionamento de satélites artificiais e em voos intercontinentais

Uma anomalia magnética atinge o Atlântico Sul, fazendo com que a região tenha um campo magnético terrestre anormalmente baixo, o que interfere no funcionamento de satélites artificiais e em voos intercontinentais | Tawachai07/Freepik

Uma anomalia magnética atinge o Atlântico Sul, fazendo com que a região tenha um campo magnético terrestre anormalmente baixo, o que interfere no funcionamento de satélites artificiais e em voos intercontinentais. O fenômeno veio da África para a América do Sul e preocupa cientistas.

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Os cientistas descobriram que a anomalia é recorrente, possivelmente originária da África, e provocada por variações no fluxo térmico dentro da Terra.

Os resultados do trabalho são apresentados em artigo da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), nos Estados Unidos, publicado no último dia 10 de dezembro. Saiba mais abaixo.

Entenda o que é o campo magnético terrestre

O campo magnético terrestre é bem parecido com o de um ímã de barras, centralizado no interior do planeta. Ele é gerado no núcleo externo, a partir da lenta movimentação de uma liga metálica rica em ferro, no estado líquido.

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"A anomalia ocupa parte significativa do sul do Atlântico e da América do Sul, sendo a mais importante registrada atualmente", explicou ao Jornal da USP o professor Ricardo Trindade, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP).

"Ela é responsável pela assimetria do campo magnético terrestre, fazendo com que ele seja mais variável do Hemisfério Sul, em relação ao Hemisfério Norte", acrescentou o pesquisador que coordenou o estudo, juntamente com o aluno de doutorado Plinio Jaqueto.

Trindade reforçou ainda que a anomalia é a principal responsável pelos riscos espaciais. "Ela facilita a entrada de partículas carregadas do vento solar de fora da Terra, o que aumenta o perigo de acidentes envolvendo satélites artificiais em órbita, voos espaciais e intercontinentais".

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De acordo com o especialista, o trabalho teve como meta a resposta de três grandes questões:

  • Quando a anomalia surgiu?
  • Qual a sua causa?
  • Ela é recorrente em milhares de anos, sempre vai ocorrer?

Em 2015, o pesquisador norte-americano John Tarduno, levantou a hipótese de que o fenômeno teria surgido em função de uma anomalia térmica na interface entre o manto e o núcleo da Terra, que provocava um maior fluxo magnético.

"Estudos com solos queimados na África mostraram que em certos períodos aconteciam variações muito rápidas do campo magnético", relatou o professor.

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Ele afirmou que para estudar o fenômeno em território sul-americano, havia uma dificuldade causada pela falta de dados, pois não há registros no continente anteriores à chegada dos europeus, no século 16.

Análise de magnetismo de rocha coletada em caverna

Em busca de entender mais sobre o tema, pesquisadores do IAG analisaram o magnetismo de uma rocha coletada na Caverna Pau D’Alho, localizada no estado de Mato Grosso, na região Centro-Oeste.

No trabalho, os especialistas utilizaram um material pouco analisado em outros estudos com foco na evolução do campo magnético terrestre, as estalagmites. "Esse tipo de rocha se forma em cavernas, de baixo para cima" contou Trindade.

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A pesquisa utilizou uma estalagmite da coleção do IGC (Instituto de Geociências) da USP, em colaboração com o grupo do professor Francisco Cruz. "Ela se formou há 1.500 anos, na caverna Pau D’Alho, que fica no município de Rosário Oeste, em Mato Grosso, onde foi coletada".

No IGc, as estalagmites são utilizadas em estudos sobre variações paleoclimáticas, dos quais, por meio de medidas químicas, podem se obter as oscilações do clima na América do Sul nos últimos 500 mil anos.

"Neste trabalho, foi medida a variação do campo magnético, por meio de um magnetômetro muito sensível, já que as amostras possuem pouco material magnético", descreveu o professor do IAG.

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"Com base nas medições, seria possível saber quantas vezes a anomalia ocorreu, se é recorrente".

A análise revelou que as variações rápidas do campo magnético no Atlântico Sul, além de serem recorrentes, acontecem 200 anos depois de seu registro na África.

"A anomalia surge na África, causada pela variação de fluxo na interface do manto com o núcleo terrestre existente sob aquele continente e migra na direção Oeste, para a América do Sul, em função da rotação da Terra", relatou o professor Francisco Cruz.

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Ainda de acordo com o especialista, a partir dos dados obtidos no estudo, será possível melhorar os modelos de previsão de variações anormais do campo magnético numa escala de longo período. "A pesquisa traz um modelo sintético que mostra um mecanismo que geraria a anomalia", diz.

"Compreender sua evolução ajudará a estudar os seus efeitos no futuro e os riscos para satélites e voos intercontinentais e espaciais", concluiu.

* Com informações do Jornal da USP.

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