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Última queda de avião registrada no Brasil aconteceu na última sexta (7/2), em São Paulo | Reprodução/TVGlobo
Mesmo que as estatísticas mostrem que acidentes aéreos são mais raros, o alto índice de quedas entre 2024 e os primeiros meses deste ano tem gerado pânico na população.
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O impacto psicológico deste tipo de ocorrência é profundo não apenas para sobreviventes e familiares das vítimas, mas para o público em geral, conforme explica a psicóloga e psicanalista Luciana Inocêncio.
De acordo com a especialista em transtornos graves das psicoses, pelo Colégio de Psicoanalísis de Madrid (Espanha), as quedas recorrentes de aeronaves se tornaram gatilhos para a ansiedade e a fobia.
Isso faz com que muitos procurem ajuda no consultório para driblar o medo de voar e cumprir agendas profissionais e compromissos pessoais.
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E não é para menos. Em pouco mais de um mês deste ano, somente o Brasil registrou 22 quedas de aeronaves, com 10 mortes, segundo o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) da Força Aérea Brasileira (FAB).
A queda mais recente ocorreu na manhã da última sexta-feira (7), em São Paulo, em movimentada avenida da Barra Funda, matando o dono da aeronave e o piloto.
Nos Estados Unidos, 74 pessoas morreram em dois acidentes aéreos ocorridos neste ano, em Washington e na Filadélfia, incluindo uma colisão entre avião e helicóptero militar.
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Luciana tem percebido aumento de casos de aerofobia. E isso não tem relação, tão somente, com quem já passou por alguma experiência traumática em voo - considerado um dos meios de transporte mais seguros do mundo.
Recente estudo da Cleveland Clinic, centro médico acadêmico americano sem fins lucrativos, com sede em Ohio, mostra que, só nos Estados Unidos, 25 milhões de pessoas estão, hoje, com medo de voar.
O transtorno acomete tanto quem já era acostumado a viajar de helicóptero ou de avião, a passeio ou a trabalho, como aqueles que nunca voaram, mas que estão prestes a embarcar - seja por turismo ou demanda profissional.
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Para que a fobia não se agrave, a psicóloga e psicanalista sugere acompanhamento clínico.
"A natureza inesperada e catastrófica deste tipo de evento desencadeia um sem-número de reações emocionais. Seja o sujeito vítima ou não, ele pode desenvolver aerofobia. Para se ter ideia, se a angústia for muito intensa, a pessoa chega ao ponto de acreditar que estará no próximo acidente", observa Luciana.
Ela já atuou no atendimento a vítimas e a sobreviventes de casos de grande repercussão, como o massacre da Escola Estadual Raul Brasil; a guerra entre Israel e Palestina, na Faixa de Gaza; e a enchente no Rio Grande do Sul.
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A profissional destaca ainda que o bombardeamento midiático e a exposição repetitiva a imagens impactantes ativam o sistema de alerta do cérebro, que, por sua vez, associa a experiência de um voo, que até então era considerada normal, a um perigo iminente.
A pessoa, então, passa a superestimar a probabilidade de novos desastres.
A isso, a psicologia dá o nome de "hiperatenção ao risco" e de "heurística da disponibilidade" - quando eventos de grande impacto emocional são percebidos como mais frequentes do que realmente são.
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"2024 já não foi fácil para a aviação. Muitos acidentes ocorreram. Mas, neste ano, o pouco espaço de tempo entre um desastre e outro mexe com a mente humana e pode desencadear o que chamamos de 'ansiedade antecipatória'. Pessoas que precisam viajar de avião, a passeio ou a trabalho, passam a apresentar sintomas muito antes do horário do embarque, como insônia, sudorese e crises de pânico. É uma agonia sem fim".
Conforme o grau do pavor, só de pensar em subir em um avião, em caso de não reversão do quadro e de desistência sistêmica em voar, o cidadão pode sofrer com frustração e isolamento.
Para os sobreviventes de um acidente aéreo, o impacto emocional pode ser avassalador, de acordo com Luciana, que também é especialista em psicologia hospitalar e em especialidades médicas, pela Universidade de São Paulo (USP) e em psicologia clínica e em Teoria Psicanalítica, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC).
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"Muitos desenvolvem o que chamamos de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), caracterizado por flashbacks, hipervigilância e pesadelos recorrentes. Não podemos nos esquecer, ainda, da 'culpa do sobrevivente' - sentimento de culpa com direito a sofrimento psíquico intenso desencadeado, em regra, quando há perda de outras vidas. E tudo isso se torna ainda pior quando há ausência de corpo de vítimas para as últimas homenagens e enterro".
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