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Saiba como escolas de SP pretendem lidar com polarização nas eleições

Colégios prepararam estratégias para evitar conflitos entre alunos

Folhapress

07/04/2022 às 14:46  atualizado em 07/04/2022 às 14:50

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Alunos em frente a uma escola, em São Paulo

Alunos em frente a uma escola, em São Paulo | Paulo Marques/Folhapress

O aumento da polarização no país, com as eleições presidenciais em outubro, já preocupa as escolas particulares de São Paulo. Com o receio de que as atividades em sala de aula se tornem munição política para candidatos, elas buscam estreitar a comunicação com os pais para evitar que discordâncias no ambiente escolar virem embates públicos.

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A solução não é nova: reforçar aos pais o papel da escola na formação política, ética e moral dos alunos. O desafio, no entanto, é fazê-los compreender que esse aprendizado depende de discussões plurais, críticas e que, muitas vezes, podem ser contrárias às posições políticas das famílias.


Para isso, os colégios têm procurado explicar aos pais o currículo, a proposta pedagógica e os valores defendidos pelas instituições.


Dessa forma, acreditam que seja possível evitar polêmicas que ganham força em grupos de WhatsApp e em outras redes sociais –especialmente porque, ao chegar a esses canais, as situações vividas nas escolas têm sido usadas por políticos e militantes para reforçar sua agenda ideológica.

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"Precisamos ter uma relação aberta e de muita franqueza com as famílias para que se sintam à vontade em fazer esses questionamentos dentro do espaço escolar. Isso é saudável e incentivado", diz Talita Marcilia, coordenadora do Colégio Humboldt, em Interlagos, zona sul da capital.


"Os conflitos surgem quando a discussão escapa pelas frestas e ganha proporções que não são boas para ninguém, especialmente para os alunos", completa.


Um desses casos ocorreu nesta semana na escola Avenues, no bairro do Morumbi. Um episódio em sala de aula passou a circular em grupos de pais e depois se espalhou para redes sociais de blogueiros e perfis conservadores que defendem uma "escola sem partido".

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No último dia 28, a escola recebeu a líder indígena Sônia Guajajara, que é pré-candidata a deputada federal pelo PSOL, para uma palestra. A atividade fazia parte de um projeto sobre equidade de gênero. Guajajara falou sobre reforma agrária e foi criticada por um estudante.


Um professor, que conduzia a atividade, repreendeu o aluno por se opor à palestrante. O áudio da fala do docente passou a circular por grupos de pais da escola. Alguns pediram sua demissão e até ameaçaram tirar os filhos do colégio.


Eles se queixaram tanto da postura do professor quanto da escolha da palestrante e dos temas propostos para debate com os alunos.

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O áudio, apenas com a fala do professor, foi divulgado nas redes sociais de blogueiros com histórico de denunciar professores e atividades escolares.


Procurada pela Folha para comentar o episódio, a escola encaminhou um comunicado que também foi enviado aos pais.


Na carta, o diretor da Avenues, Andy Williams, defende a escolha da palestrante e reforça os valores que embasam sua proposta pedagógica. O documento também lamenta que a discussão entre aluno e professor tenha se tornado pública.

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"Na Avenues, quando ocorre um conflito, trabalhamos diretamente com as partes envolvidas, de maneira reservada, para aprendermos juntos e nos respeitarmos. Infelizmente, essa questão veio a público de forma imprópria", diz a carta.


Segundo o comunicado, a escola conversou com professor e aluno. "Continuaremos fazendo isso até que a questão seja resolvida", escreve Williams.


O diretor ainda lembra aos pais que o colégio tem como objetivo "desenvolver estudantes para serem agentes de mudança curiosos, empáticos e engajados com o mundo", por isso, segundo ele, as atividades pedagógicas precisam trazer perspectivas diversas e que deixem "agendas pessoais de lado".

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"Somos uma comunidade que coloca agendas pessoais de lado para que nossos alunos interajam com questões difíceis, explorem críticas ponderadas e informadas e desenvolvam pensamento crítico e empatia dentro de uma estrutura que incentiva sua expressão individual."


A repercussão pública de discussões em sala de aula tem sido recorrente desde que grupos, como o movimento Escola sem Partido, ganharam força. A exposição, e até mesmo a perseguição, tem deixado professores receosos de desenvolver suas atividades.


"Esse clima de vigilância é ruim para o professor e para os alunos. Por isso, é importante que haja um alinhamento e apoio da equipe pedagógica para que todos se sintam seguros em sala de aula", diz Marcilia, do Humboldt.

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Para Debora Vaz, diretora pedagógica do colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, com a intensificação da pauta política no país, será importante ampliar reforçar os espaços de reflexão com pais e alunos para que o trabalho escolar não seja prejudicado.


"É um momento para reforçar e relembrar os princípios da escola como instituição. Nossa escola tem como valores a democracia, a pluralidade, a convivência humana e pacífica. Precisamos reforçar o que sempre balizou nossa atuação", diz.


Vaz entende que algumas vozes e visões expostas aos alunos podem ser divergentes das que as famílias defendem, mas diz que essas experiências são necessárias para desenvolver cidadãos críticos.

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"No Santa Cruz sempre predominou a ideia de uma escola humanística e crítica, que não deixa de abordar os grandes temas da sociedade sem deixar de lado a diversidade de ideias e a defesa dos direitos humanos. Não será diferente neste momento", afirma.

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