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Cotidiano

Luna Zarattini: 'Renovação do PT' na Câmara de SP defende oposição firme a Ricardo Nunes

Em entrevista à Gazeta, vereadora mais jovem da Câmara de SP fala sobre admiração por Lula, apoio a Boulos e oposição ao prefeito Ricardo Nunes

Bruno Hoffmann

30/06/2023 às 12:10  atualizado em 30/06/2023 às 14:57

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Luna Zarattini, na Câmara Municipal de São Paulo

Luna Zarattini, na Câmara Municipal de São Paulo | Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

O PT sofre com críticas internas de ser um partido com dificuldade de renovar os quadros, mas hoje tem uma vereadora de 29 anos na Câmara Municipal de São Paulo: Luna Zarattini, a segunda mais jovem da Casa, só mais velha do que Fernando Holiday (Novo). Ela era suplente de Reis (PT), e assumiu o cargo após o titular ir para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

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Advogada e cientista social, ela iniciou sua trajetória política ainda no colégio, e depois da Universidade de São Paulo (USP), onde organizou movimentos para que a maior universidade do País começasse a adotar as cotas raciais e sociais para admissão dos alunos. Depois, comandou cursinhos populares para a população de baixa renda, quando conseguiu ampliar sua atuação para além dos muros acadêmicos.

Filiada ao PT desde a adolescência, Luna é sobrinha do deputado federal Carlos Zarattini (PT) e neta de Ricardo Zarattini (“minha maior inspiração política”), uma figura históricas da legenda e exilado durante a ditadura militar – Ricardo esteve entre os presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969, em um dos episódios políticos mais tensos durante o governo militar.

Luna pretende na Câmara Municipal focar na defesa da moradia, dos CEUs e dos direitos da população de rua. Ela também apoia o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) para a prefeitura ano que vem, indo contra alas do partido que querem ter um nome próprio. Sobretudo, afirma, quer fazer “um mandato popular, participativo e de esquerda” em sua primeira experiência no legislativo, sendo uma oposição firme ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). “A Câmara Municipal é mais um instrumento de luta popular”, garante.

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Leia a entrevista completa:

O PT já sofreu críticas internas pela dificuldade de renovar os quadros. Como a sra. vê esse processo na Capital?

A renovação é algo que o PT entende que é preciso, e brigamos para que o partido olhe cada vez mais para isso. A renovação política não se faz apenas pela idade, mas também pelo pensamento político. Obviamente, assim como os outros partidos, também temos dificuldade da renovação, dos jovens e das mulheres estarem na política. O ambiente político não foi feito para as mulheres, então precisamos fazer esse enfrentamento. Na cidade de São Paulo sou a única vereadora da bancada do PT, e a mais jovem de toda a Câmara [entre as mulheres]. A Câmara Municipal é mais um instrumento de luta popular para transformar a cidade, por isso é muito importante ocupar este espaço.

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Acredita que, na cabeça da juventude, o PT ficou identificado como “um partido do poder”, pelos anos no governo federal, e por isso afastou parte da juventude ligada à esquerda para outras siglas, como o PSOL?

Desde os primórdios o PT tinha a discussão de ter um pé na institucionalidade e um pé na mobilização, para nunca se afastar das bases e do real motivo de fazer a luta política, que era incluir o povo nas políticas públicas. O PT foi muito feliz na transformação social: tirou o Brasil da fome, da miséria, aplicou programas sociais que transformaram a realidade do povo. Porém, a gente não pode perder essa perspectiva da mobilização, da luta popular, e por isso que ainda hoje o PT é uma referência da classe trabalhadora. A gente venceu o Bolsonaro mas não venceu o bolsonarismo. A mobilização popular é elemento chave para ter um governo que consiga enfrentar os grandes problemas do Brasil.

Luna Zarattini  Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

Qual a diferença de atuação do PT e do PSOL dentro da Câmara de São Paulo? Percebe-se que o PSOL se une mais contra parte dos projetos do prefeito Ricardo Nunes.

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Não tem como a gente [do PT] ser apoiador da prefeitura do Ricardo Nunes, e nem apoiador do governo de Tarcísio de Freitas. Os dois representam o bolsonarismo na cidade e no estado de São Paulo. Acredito que precisamos ser oposição a prefeituras e governos de estado que não estejam do lado do povo. Essa é a minha opinião sobre a posição que o PT deveria tomar. Não significa que seja votar sempre contra o executivo, mas votar por projetos que são bons para o povo.

Quais são suas críticas principais à gestão Nunes?

Há a questão da vulnerabilidade social, da fome e da miséria. Hoje têm 52 mil pessoas em situação de rua, e vemos o fechamento de equipamentos públicos. Há dificuldade para o acesso a políticas e programas sociais. Tem falta de remédio nas UBSs. Há uma tentativa de higienização social, com a retirada de barracas e pertences da população em situação de rua. Existe também a questão da moradia. Segundo os dados da prefeitura, são 400 mil pessoas sem moradia na cidade, e a solução que a prefeitura dá não resolve esse déficit habitacional, o que leva as pessoas para morar em áreas sem infraestrutura necessária. Há também a questão das privatizações do sistema funerário, das Casas de Cultura e outras. São Paulo tem o maior caixa da história, de R$ 37,5 bilhões, mas diminui a qualidade dos serviços para poder fazer mais privatizações. A gestão municipal impede até ajuda do governo federal para resolver os problemas.

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Como assim?

Por exemplo, existe um programa chamado Mãos à Obra, do governo Lula, que é de incentivo para municípios terminarem obras paradas. O que que a Prefeitura de São Paulo precisava fazer? Só se inscrever nesse programa. O que a Prefeitura de São Paulo fez? Não se inscreveu. Cinquenta e três centros de educação infantil não vão receber a verba do governo federal para serem terminadas porque a prefeitura não se inscreveu. Quem sai prejudicada é a população.

Luna ZarattiniEttore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

No caso do Plano Diretor, quatro dos oito vereadores do PT votaram a favor da proposta de Nunes. Qual sua visão sobre essa atitude?

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Respeito a divergência política, e preciso ser justa: a bancada do PT foi uma das que mais impediu os retrocessos. Acredito que os companheiros da bancada acreditaram que os recuos que conseguiram já valeram o “sim”. Porém, meu voto foi não porque a proposta não avançou o Plano Diretor do [Fernando] Haddad de 2014.

Quais questões a fez votar negativamente?

Principalmente, as alterações no Fundurb, a ampliação do direito de construir num eixo maior de transporte e tirar a obrigação de estudo de impacto ambiental. Essa proposta aprovada não garante que vai ter a população mais pobre nos eixos de transporte. Pelo contrário: vai continuar expulsando os mais pobres para a periferia.

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Algumas lideranças municipais do PT, como Jilmar Tatto, criticam a ideia de Lula de apoiar Guilherme Boulos nas eleições municipais de 2024. E a senhora?

Defendo o acordo feito pelo Lula, por dirigentes nacionais do PT e pela nossa presidenta Gleisi Hoffmann de apoio ao Boulos como candidato à prefeitura de 2024. Também acredito que o Boulos é uma figura que representa a esquerda, o setor progressista, e que vai saber dialogar junto ao PT, que tem diversas experiências de gestão na cidade de São Paulo. Acredito que essas discussões vão se arrefecer porque se iniciou nacionalmente um grupo de trabalho eleitoral no PT para discutir a tática eleitoral em 2024. Em agosto vai ter a determinação de qual é a nossa tática eleitoral com a nossa organização partidária, e qual é a nossa análise da conjuntura da cidade de São Paulo.

Quais projetos pretende levar à frente como vereadora?

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Como estou na Comissão de Direitos Humanos, tenho grande enfoque na discussão sobre a população em situação de rua. Estamos produzindo um relatório dos equipamentos públicos e das políticas públicas feitas pela prefeitura, e como podemos de fato encontrar soluções, porque a cidade mais rica do País não pode ser a cidade mais desigual. Também faço parte da Comissão de Educação, e temos feito o debate da defesa dos CEUs, inclusive em frentes parlamentares em defesa dos CEUs. Estamos discutindo também projetos de levar a Unifesp para a zona leste, além de uma atenção maior ao aumento da incidência do autismo na cidade.

A sra. acredita que o CEU da gestão da Marta Suplicy foi desvirtuado?

Acredito que sim, porque as obras não terminam nunca, falta acessibilidade, falta uma série de reformas. Os CEUs também eram um espaço aberto e cheio de projetos sociais durante a semana e durante o fim de semana, e isso foi descaracterizado. Por isso eu peço apoio dos vereadores e das vereadoras em uma frente parlamentar em defesa dos CEUs.

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Há outros projetos?

Estamos para aprovar um projeto de co-autoria com as deputada federais Erika Hilton (PSOL) e Juliana Cardoso (PT), que se trata de um dossiê de políticas públicas para as mulheres. Há ainda outros dois em relação a moradia. O primeiro é um de reajuste do auxílio aluguel, e o outro é a criação do chave-a-chave. Ou seja, quem for despejado na cidade por causa da prefeitura vai diretamente para outra casa.

Em âmbito nacional, qual é sua avaliação sobre os primeiros seis meses do governo Lula?

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O Lula tem um diálogo direto com a juventude, porque ele representa, apesar mais velho, uma renovação política, no sentido de retomar diversos programas sociais. O Lula tem feito um giro pelo mundo, reposicionando o Brasil para buscar crescimento econômico junto a crescimento social. Vamos passar por uma reforma tributária. Lula também representa a luta contra o conservadorismo, contra o bolsonarismo. Lula é a grande inspiração política que temos. Lula tem o desafio de atender as emergências climáticas, de avançar em pautas das mulheres, do combate ao racismo, da população LGBTQIA+. Isso será feito com os jovens junto ao Lula.

Luna Zarattini Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

A sra. apoiou o nome de Geraldo Alckmin como vice de Lula?

No Diretório Nacional fui uma das pessoas que votou contra, mas acredito que foi importante fazer uma frente mais ampla e democrática para vencer algo que representa o fascismo. O que Bolsonaro representa é o fascismo, a negação da política, a negação da divergência, a negação dos direitos. Ainda há um ambiente muito polarizado e de sérios riscos para democracia. Foi uma tática [colocar Alckmin como vice], hoje acertada.

Lula disse que não ia revogar, mas “aperfeiçoar” o Novo Ensino Médio. Qual sua opinião?

Temos feito uma discussão dentro e fora do PT de que é preciso a revogação do Novo Ensino Médio, que de novo não tem nada. Lula, tanto agora quanto em seus governos anteriores, tem tido uma postura de investimento na educação, em bolsas de iniciação científica e nas universidades. Vamos fazer esse debate com Lula para a revogação desse Novo Ensino Médio. Acho que o governo está muito mais aberto à escuta. O Partido dos Trabalhadores é um partido muito democrático.

A senhora acredita que seu mandato está puxando o PT mais para a esquerda na cidade de São Paulo?

Acredito que sim. O nosso mandato é um mandato popular, participativo, de esquerda e que está olhando o combate das desigualdades sociais.

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