Entre em nosso grupo
2
Cotidiano
Estudo inédito no mundo levou em conta autópsias de 238 paulistanos e concluiu que efeitos do carbono expelido por carros e pela queima de florestas vai além das doenças pulmonares e do câncer
Continua depois da publicidade
Poluição em São Paulo é ainda mais prejudicial do que se imaginava, segundo pesquisa da USP | Rivaldo Gomes/Folhapress
Um novo estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo acaba de descobrir que, além do câncer e doenças pulmonares, a poluição do ar está também diretamente ligada às doenças cardíacas.
Continua depois da publicidade
Inédita, a pesquisa analisou os resultados das autópsias de 238 moradores da Capital Paulista e chegou à conclusão que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada à fibrose cardíaca, doença que provoca a degeneração do tecido natural do miocárdio, causando assim seu endurecimento.
O vilão nessa relação negativa entre a má qualidade do ar e os impactos na saúde coletiva é o carbono negro.
Além das autópsias, os pesquisadores da USP analisaram dados epidemiológicos desses paulistanos para mensurar a relação entre o ar e a fibrose cardíaca. Os cientistas ainda entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão.
Continua depois da publicidade
A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar desses elementos pesquisados, estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões. Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.
Os resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose nos indivíduos estudados. Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a condição.
“Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças", afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva.
Continua depois da publicidade
Ficou constatado que o risco é aumentado para indivíduos hipertensos. Entre eles, a presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes. Entre os não hipertensos, os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.
A hipertensão, ou pressão alta, é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. De acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.
Assim como a hipertensão, a poluição nem sempre está tão à vista de todos. Em alguns casos, no entanto, é possível saber onde ela é mais prejudicial. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas.
Continua depois da publicidade
“Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela”, afirma.
“Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada.”, complementa o especialista.
Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é mais um deles. “A pergunta era ‘a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto?’ Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho”, pontua.
Continua depois da publicidade
Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da FAPESP, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.
A pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal.
A implementação de medidas como a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa são estratégias necessárias na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública.
Continua depois da publicidade
O carbono negro é um material particulado extremamente poluente, produzido a partir da queima incompleta de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, e dos incêndios florestais.
Os resultados da pesquisa acabam de ser publicados na revista científica Environmental Research. A investigação contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade