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Cotidiano

Condutores de trens da ViaMobilidade reclamam de pouco treinamento para o trabalho

Na semana passada um maquinista da empresa entrou em estado de choque após bater um trem na barreira de contenção da estação Júlio Prestes

16/03/2022 às 16:45  atualizado em 16/03/2022 às 16:52

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Trem metropolitano, em São Paulo

Trem metropolitano, em São Paulo | Divulgação/CPTM

Sobrecarregados, com treinamento considerado insuficiente por colegas mais velhos e ganhando menos do que seus antecessores. Com jornadas diárias de mais de 12 horas de trabalho e quatro meses de aprendizado, novos maquinistas das linhas 8-diamante e 9-esmeralda conduzem trens que chegam a carregar 2.000 pessoas simultaneamente pelos trilhos da Grande São Paulo.

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Na última semana, uma das composições se chocou contra a barreira de contenção da estação Júlio Prestes. As causas do acidente ainda estão em investigação, segundo a Secretaria da Segurança Pública.


Nesta quarta (16), a ViaMobilidade afirmou que o responsável pela condução do trem foi demitido. Segundo a concessionária, não houve "acionamento do sistema de freio no ponto necessário, pelo operador que não faz mais parte do quadro de colaboradores da concessionária". A reportagem não conseguiu contato com o maquinista até a publicação deste texto.


Um condutor ouvido pela reportagem diz que a maioria dos maquinistas não sabe como recolher o trem até a oficina em Presidente Altino, operação que envolve, por exemplo, a mudança de canais de comunicação para evitar acidentes.

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Na tarde desta quarta, representantes da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e da Secretaria dos Transportes Metropolitanos), sob gestão do governador João Doria (PSDB), terão reunião com integrantes da ViaMobilidade. Reportagem mostrou no último dia 3 uma série de falhas nas estações e na operação dos trens das linhas 8 e 9.


A falta de tempo para treinar a mão de obra para a nova atividade é apontada com a vilã da transição. Segundo pessoas ouvidas pela Folha, o treinamento de um novo maquinista da ViaMobilidade dura cerca de quatro meses. Na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), no passado, levava oito meses para aprender, mais dois sob supervisão. Atualmente, segundo a companhia, são cinco meses, mais período de supervisão.


Antes de "passar a pronto", expressão para designar o estágio de quem está preparado para tocar o trem pelos trilhos, o futuro maquinista precisava encarar diversas situações na prática.

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Diante de tantas dificuldades e falhas recorrentes na operação dos trens, a ViaMobilidade passou a adotar o sistema "aponte e fale", quando maquinistas são obrigados a sinalizar e depois verbalizar cada movimento que pretendem fazer na condução.


Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, como os novos ainda não estão plenamente preparados, parte das tarefas cotidianas acaba sobrando para 36 maquinistas "das antigas", que se aposentaram ou entraram no plano de demissão da CPTM e agora estão na ViaMobilidade.


O problema está, também, no salário, pouco atrativo para quem já desempenhou a função anteriormente.

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Segundo maquinistas ouvidos pela reportagem, um condutor da CPTM ganha em torno de R$ 4.000 de salário base, mais adicional de periculosidade e benefícios. Já a ViaMobilidade paga cerca de R$ 3.000, sem os adicionais e com benefícios mais modestos. No fim, a diferença ficaria em torno de R$ 2.000 por mês.


Presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Sorocabana, José Claudinei Messias afirma que a culpa por tantos problemas não é exclusiva da ViaMobilidade, um dos braços do Grupo CCR.


"A concessionária não tinha opção. Teria que colocar em operação no dia 27 de janeiro", afirma ele.

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"Maquinistas foram treinados pela CPTM, mas foi um prazo apertado. Na época, batemos pesado nessa questão da qualificação, do treinamento. O governo estadual tem responsabilidade. Tudo foi feito a toque de caixa."


Segundo Messias, o alerta a respeito do curto prazo para treinamento de condutores foi feito ainda em fevereiro de 2020, durante as audiências públicas que precederam a concessão.


O presidente do sindicato afirma também que os trens repassados pela CPTM à ViaMobilidade são antigos, com prazo de manutenção ultrapassado, o que prejudica ainda mais o trabalho.

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Questões envolvendo ViaMobilidade e seus funcionários e colaboradores não são novidade para o MPT (Ministério Púbico do Trabalho). Investigação em curso, iniciada em 2021, aponta problemas com equipamentos de proteção individual, veículos de manutenção em péssimas condições, falta de iluminação adequada para a realização do serviço, falta de água potável, entre outros, no pátio Guido Caloi, da linha 5-lilás do metrô, também sob responsabilidade do grupo.


A empresa também é alvo de outra investigação do MPT-SP por expor trabalhadores ao risco de Covid 19.


A CPTM é alvo de ação civil pública que pede R$ 4 milhões em danos morais coletivos e a exigência de regularização do meio ambiente de trabalho, devido a acidentes recorrentes com trabalhadores próprios e terceirizados. As investigações apontam que, em menos de dois anos, de 2009 a 2011, ocorreram 18 acidentes nas instalações da CPTM, nove deles com mortes, segundo o MPT.

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A ViaMobilidade venceu o leilão de concessão das linhas 8 e 9 em abril de 2021, com uma oferta de R$ 980 milhões por 30 anos.


A CPTM afirma que tem a frota mais nova do Brasil e que todos os trens contam com a mais moderna tecnologia disponível no mercado. "O mesmo acontece com os trens que foram emprestados à ViaMobilidade Linhas 8 e 9, cuja idade média da frota é de 11 anos. A vida útil de um trem é de 40 anos", disse, em nota.


Segundo a CPTM, todos os trens passam por manutenção regular para a garantia da segurança dos passageiros e colaboradores.

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Com relação à ação civil pública, a audiência está designada para o primeiro semestre deste ano.


A ViaMobilidade Linhas 8 e 9 afirma que tem seguido todas as determinações previstas no contrato de concessão.


"A transferência de funções, na gestão das Linhas 8 e 9, foi supervisionada por auditoria independente e pelo poder concedente. A validação do processo, assim como os treinamentos realizados pré-assunção, seguiram as determinações do regulamento previsto no edital e no contrato de concessão, cumprindo assim o período de quatro meses de treinamento previsto na preparação dos operadores dos trens", diz em nota.

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Em relação à jornada de trabalho, os operadores de trem seguem diferentes escalas de trabalho, sendo uma delas 12 horas diárias, totalizando em média de 38 horas semanais.


A concessionária disse que conta com política de cargos e salários, o que inclui benefícios como assistência médica e odontológica, vale-transporte, vale-refeição ou alimentação, seguro de vida, programa de remuneração variável, previdência privada, licença maternidade de seis meses e paternidade de 20 dias.


"A média salarial é condizente com o modelo de gestão de talentos da companhia e com valores praticados no mercado", afirmou.

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Sobre os operadores de trens, a concessionária disse que mantém uma equipe composta de cerca de 300 profissionais, oriundos de transferências internas, da CPTM e do mercado.


A respeito da transferência dos trens para as linhas 8 e 9, a concessionária diz que eles foram recebidos nas condições em que operavam sob gestão da CPTM, conforme estabelecido no contrato de concessão, sendo que apenas 23% da frota recebida passou por processo de revisão geral. "O restante passará pelo mesmo processo, agora sob responsabilidade da concessionária", afirma.


"A ViaMobilidade Linhas 5 e 17 e a ViaQuatro já são referências na mobilidade urbana de São Paulo e a ViaMobilidade Linhas 8 e 9 está trabalhando na execução dos investimentos e das modernizações necessárias o quanto antes, ao mesmo tempo em que tem buscado coordenar esse esforço de forma a garantir o menor efeito possível sobre a operação diária", acrescenta a concessionária.

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