Aeroporto de Congonhas vive 'caos diário' em embarque, que trava até a 23 de Maio

Era uma quinta-feira, às 10h30 da manhã, quando a reportagem da Gazeta demorou 10 minutos para percorrer 970 metros de carro, o que em situações normais duraria cerca de 60 segundos. O túnel de embarque do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que se inicia na avenida 23 de Maio, apresenta congestionamentos longos todos os dias por causa do afunilamento entre carros comuns e por aplicativo.

“Aqui é um caos diário. Desde que os táxis passaram para a pista de cima a situação piorou muito. Hoje, não vale a pena para a gente vir buscar passageiro”, explicou um motorista por aplicativo, chamado pela plataforma 99, à Gazeta.

Em 2019, a prefeitura decidiu que os táxis deveriam utilizar exclusivamente o piso superior do aeroporto para embarque e desembarque de passageiros. Já os carros particulares e de aplicativos passaram a fazer o desembarque somente pelo piso inferior.

A dificuldade para chamar um carro por aplicativo foi comprovada pela reportagem. Um homem lamentou à Gazeta sobre espera até conseguir um carro. “Estou há mais de 10 minutos aqui e o aplicativo nem localiza um carro. E olha que estou chamando no Black”, explicou ele, sobre a categoria mais cara da Uber.

A Prefeitura de São Paulo e a Aena Brasil, concessionária de origem espanhola que passou a administrar o aeroporto em 2023, prometem a criação de um bolsão voltado para os carros por aplicativo para os próximos meses – só não dão qualquer data para isso acontecer (leia mais abaixo).

O Aeroporto de Congonhas é o segundo com mais movimentação de passageiros do País, atrás apenas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Trânsito pesado na 23 de Maio

Segundo relatos ouvidos pela Gazeta, a situação para os motoristas por aplicativo e para os comuns piorou em 2019, quando o então prefeito Bruno Covas (PSDB) decidiu mudar a ordem no embarque e desembarque. Com isso, os taxistas passaram a ficar com exclusividade na área de cima, mais larga, enquanto os motoristas por aplicativos e as pessoas que levam familiares e amigos ao aeroporto se apertam na pista inferior.

Como reflexo, a avenida 23 de Maio apresenta tráfego pesado diariamente, principalmente no sentido bairro. Quanto mais perto do aeroporto, pior fica a situação, principalmente nas pistas à esquerda.

“Todo dia é assim: eu pego trânsito duro até o aeroporto, causado pela entrada do túnel do embarque. Depois, o trânsito abre totalmente”, contou um publicitário, morador da região de Interlagos, que usa a avenida 23 de Maio diariamente para ir e voltar do trabalho.

Risco de multas

Os motoristas por aplicativo reclamam sobre o risco de tomarem multas ao buscar algum passageiro pela impossibilidade de parar o carro no espaço apertado, o que, por vezes, provoca uma fila dupla involuntária.

“Eles multam mesmo, e muitas vezes a gente não tinha outra possibilidade para buscar o passageiro. O espaço embaixo é muito apertado”, disse um motorista que atua para a 99 e para a Uber.

A prefeitura afirmou que desde o ano passado mais de 35 mil multas foram aplicadas a veículos em movimento, estacionados ou parados de forma irregular em Congonhas.

Promessas desde 2019

Em 2019, a Infraero informou que estudava criar um bolsão para os carros de aplicativos no local. A promessa ainda não saiu do papel, mas continua a ser feita pela Aena Brasil, a atual responsável pela administração do aeroporto.

A concessionária, por meio de nota, informou que o aeroporto “poderá ter em breve” – ou seja, não deixou claro se e quando realmente terá – um bolsão para motoristas por aplicativo. O objetivo seria o de proporcionar um local adequado para que os profissionais possam aguardar novas corridas com segurança, reduzindo o impacto no trânsito local.

“O novo bolsão de espera para motoristas de aplicativos deverá ficar localizado na entrada do sítio aeroportuário, próximo ao atual bolsão destinado a táxis credenciados e ao estacionamento de uma locadora de veículos. Para os motoristas, o projeto prevê que as empresas de aplicativos organizem filas virtuais para uma melhor organização”, informou a concessionária à Gazeta.

Ainda de acordo com a proposta da Aena, a área de espera dos passageiros para embarque nos carros de aplicativos deve permanecer no piso inferior. “O projeto da Aena contempla acréscimo de vagas disponíveis, com o objetivo de reduzir o tempo de espera e aumentar a fluidez do tráfego”, informou.

Facilitar o encontro com o passageiro

A ideia é ainda, revelou a companhia, aprimorar a sinalização do meio-fio com o objetivo de facilitar o encontro entre motoristas e passageiros. Entre as ações previstas, estão a instalação de novos painéis com indicação das vagas e reforço na equipe para orientação aos passageiros e motoristas.

Os estudos para a implementação estão sendo feitos pela Aena em colaboração com a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito.

O que a prefeitura diz

Contatada, a Prefeitura de São Paulo informou que encerrou em março a segunda etapa da consulta pública sobre a questão do embarque e desembarque no Aeroporto de Congonhas, em ação comandada pelo Comitê Municipal do Uso do Viário (CMUV).

A minuta apresentada, segundo a gestão municipal, prevê a criação de uma Zona de Embarque de Aplicativos (ZEA) pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e a criação de filas virtuais de veículos de aplicativos a partir de uma área definida pela concessionária. Ou seja, um bolsão.

As contribuições encaminhadas à consulta pública vão passar, agora, por análise técnica dos órgãos envolvidos para definição do que será incorporado à resolução.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), o efetivo de agentes da CET recebe reforço sempre que ocorre mais movimentação de veículos nas imediações do Aeroporto de Congonhas, para minimizar os impactos do aumento da demanda.

“A fiscalização é feita para todos os veículos que utilizam o viário do Aeroporto e desrespeitam a sinalização, tanto no piso superior quanto no piso inferior”, informou a administração municipal, em nota.

Vereador defende mudanças

Procurado pela reportagem, o vereador Marlon Luz (MDB) – que ganhou as eleições como Marlon do Uber e tem como base política a defesa dos motoristas por aplicativo – disse que acompanha as discussões entre a prefeitura e a Aena para a criação de um bolsão em Congonhas.

“As medidas propostas visam proporcionar mais dignidade aos motoristas, melhorar a dinâmica do trabalho, combater as filas duplas, oferecer maior organização para esses trabalhadores e agilizar os embarques com locais pré-definidos e sinalizados”, disse ele.

“Tenho atuado para pacificar a questão entre concessionária, motoristas de aplicativos e Poder Público. O esforço é para que essas melhorias tragam benefícios significativos para todos os envolvidos, criando um ambiente mais organizado e eficiente no Aeroporto de Congonhas”, completou o parlamentar.

Táxis reorganizados

Em novembro de 2022, a Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quinta-feira que iria reorganizar os pontos de táxi do Aeroporto de Congonhas. A medida, segundo a gestão municipal, melhoraria o serviço prestado aos passageiros "com uma oferta mais ágil de táxis e de evitar filas duplas nas vias de acesso ao local".

A ação atendeu a uma reivindicação dos taxistas que têm licença para trabalhar no aeroporto.

Novos alvarás para taxistas

O prefeito Ricardo Nunes anunciou no último em 20 de abril uma série de novos benefícios aos taxistas da Capital. Entre as novidades, está o sorteio de 3,3 mil alvarás de estacionamento de táxis (remanescentes do edital anterior) e de 3.698 vagas em 1.198 pontos de táxi, inclusive para o Aeroporto de Congonhas, onde haverá 26 novas vagas.

Também serão sorteados 3.330 alvarás de estacionamento de táxi, de licenças remanescentes dos últimos editais de sorteio, realizados no ano passado.

As datas e as regras dos sorteios, além das categorias que terão licenças ofertadas, ainda serão divulgadas.