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A elite não se mistura com o populacho, tem condições de fugir da cidade em busca de praias e resorts caríssimos e abertos apenas a uma quantidade limitada de fugitivos dos bloquinhos
13/03/2025 às 21:30
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Elite não se mistura com o populacho | Tomaz Silva/Agência Brasil
O povo sonha com seus artistas favoritos participando do carnaval. Não basta entrar na folia, se divertir, chegar ao trabalho na quarta-feira à tarde, extenuado e com dor de cabeça.
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É preciso saber de todas as fofocas que rolaram durante o carnaval e ver as fotos de artistas brasileiros e estrangeiros, socialites, destaques das escolas de samba e os melhores puxadores de samba-enredo.
Os críticos da festa acusam o governo de incentivar a política do pão e circo – distrair a população com festas que desviam a atenção das pessoas dos graves problemas nacionais, como a concentração de renda, a corrupção institucionalizada nas esferas governamentais, das pequenas comunidades à capital de República.
Nesses dias não há partido político, ideologia, diferenças de preferência por este ou aquele governante. É o momento em que o povo esquece suas amarguras e mergulha na farra. É uma festa nacional.
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A população se aglomera em praças, jardins, avenidas e em bares de todo tipo. Para muitos é um desafio a uma sociedade ainda conservadora nos costumes e que não aceita pacificamente os desafios de gênero, etnia ou tradição.
É também um momento de incentivar a economia com os grandes desfiles das escolas de samba e manter os hotéis com cem por cento de ocupação.
Os bares reforçam o estoque de cerveja, que é o refresco preferido por dez entre cada nove foliões. É um momento também em que os políticos tiram vantagem, investindo dinheiro do contribuinte em festas, em vez de saúde, educação e segurança.
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Outros tiram dinheiro do próprio bolso para financiar blocos cujos participantes podem se transformar em futuros cabos eleitorais para perpetuar o doador no poder.
Mas ninguém é mais comprometido com o carnaval do que os banqueiros de jogo do bicho. Todo mundo sabe, e a mídia reforça, qual escola ele controla e por esse gesto de defesa da cultura nacional nunca é preso. É um contraventor do bem.
A elite não se mistura com o populacho. Tem condições de fugir da cidade em busca de praias e resorts caríssimos e abertos apenas a uma quantidade limitada de fugitivos dos bloquinhos.
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No litoral, até há pequenas escolas de samba e bailes em clubes devidamente vigiados e cercados de muita segurança para toda a família, especialmente para os jovens.
Mas parte da elite econômica e política do país não abre mão de participar dos sofisticados bailes de máscaras da capital da República.
Quem não for está arriscado não só a perder os momentos com celebridades, mas ficar fora dos comentários paralelos da folia durante um ano. Isto é imperdível.
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Com muita antecedência é preciso reservar um convite e montar uma caríssima fantasia. O endereço mais cobiçado da elite é o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Artistas nacionais e internacionais se destacam na profusão de lança-perfume, confete e muita, muita champanhe francesa. Um olho no hotel, outro no Teatro Municipal onde ocorre o grande concurso de fantasias.
Os fotógrafos se apinham ao lado da passarela para registrar o campeão das fantasias, Clóvis Bornay. Na década de 1960 e 70 não tem para ninguém – ele leva todos os prêmios.
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A elite se diverte no luxo e na fantasia, só não sabe que Clóvis é um museólogo, lotado no Museu Nacional.
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