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Cotidiano
Em entrevista exclusiva, deputado Vinicius Poit (Novo) reforça desejo de ser governador de SP, explica propostas e critica Doria e Bolsonaro na condução da crise
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Deputado feral Vinicius Poit (Novo) durante entrevista na redação da Gazeta de S.Paulo | /Daniel Villaça/Gazeta de S.Paulo
Deputado federal em primeiro mandato e líder da bancada paulista no Congresso Nacional, Vinicius Poit anunciou que pretende dar um passo maior em sua recente carreira política: se tornar governador de São Paulo. Para isso, ainda deve ser escolhido como pré-candidato pelo seu partido, o Novo, dentro do que a legenda chama de “processo seletivo” para a escolha dos nomes para disputar cargos eletivos.
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Nesta entrevista à Gazeta, feita na redação do jornal, o deputado explicou por que defende o liberalismo econômico, principal bandeira do Novo. Ele também criticou o atual governador João Doria (PSDB) por aumentar a alíquota do ICMS durante a pandemia, disse que a política precisa de menos "mitadas e lacradas" e afirmou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é "um desastre" na condução da crise sanitária e em relação às propostas liberais. “Esse cara não é liberal, não é a nova política, ele manchou essa ideia”.
O sr. tem desejo de ser candidato do Novo ao Governo de São Paulo em 2022?
O Novo, diferente dos demais partidos, abre um processo seletivo para os filiados do partido colocarem suas intenções para uma pré-candidatura. Seja deputado estadual, deputado federal, governador, senador ou presidente da República para 2022. No meu caso, a minha intenção é ser pré-candidato do Novo ao governo do Estado. Por isso coloquei o meu nome no processo seletivo. A expectativa é que esse processo dure até o meio do ano e, se tudo der certo, serei pré-candidato ao governo do Estado pelo partido Novo. A gente tem que começar a já se preparar, porque se a oportunidade vier você tem que estar pronto.
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Como assim?
A minha ideia não é esperar chegar lá na frente para começar. Já estou estudando um plano de governo, rascunhando, conversando com as pessoas que vão contribuir. Esse não será um plano do governo só do Poit e nem só do Novo, mas uma proposta para São Paulo com gente especializada em cada área. Recentemente me juntei ao Livres, que é um grupo como o RenovaBR e outros, que fomenta a liberdade individual no nosso País, e no Livres eu posso contar, por exemplo, com o conselho do Livres: Persio Arida, [Ricardo] Paes de Barros, Fernando Schüler, Leandro Piquet. A gente vai montar algo parrudo e importante para o estado de São Paulo.
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Quais são as bandeiras que o sr. acha importante implantar em São Paulo?
A bandeira número 1 é o diálogo, ser o governador de todos os paulistas, não só de alguns. Ser um governador que escute, que pise em cada canto do estado de São Paulo e entenda a realidade do empreendedor, da periferia, do cidadão. Não pode ser um governador que governe só para a esquerda, só para a direita ou só para o centro. A partir do momento que se está eleito, você é o governador de todos e precisa agir como tal e dar um exemplo de liderança e de escuta. Hoje na política vemos tudo muito polarizado, muito extremado. A gente teve um governo de esquerda que ficou no nosso país por um longo tempo, com escândalos de corrupção históricos, em níveis mundiais. Aí o pêndulo vem para cá [direita] e temos um governo que também tem os seus problemas, que também tem as suas promessas não entregues. Tem um outro caminho que é o caminho do trabalho. Menos mitada, menos lacrada e mais trabalho para a população. Essa é a principal bandeira.
E as outras?
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Teremos pilares do governo. Precisamos de uma transformação digital na saúde, para ter um foco na atenção primária. Na educação, além de tecnologia, educação a distancia, conectatividade, tem que falar em ensino técnico: Fatecs, Etecs, programação, empreendedorismo, educação financeiras, para sair do ensino técnico já pronto para uma profissão, para as profissões do futuro. Na segurança, na hora que a gente pega o estado que tem o maior efetivo da polícia militar do Brasil, vemos o menor salário e a complexidade maior. Precisa de tecnologia, precisa de inteligência para garantir que a tropa esteja mais segura, mais equipada, com mais capacidade de investigação. Vamos falar de emprego e renda na cidade e no campo. Seria um governo de diálogo e com bandeiras muito claras de tecnologia, de trabalho, focadas no cidadão, focadas em enxugar a máquina e o cidadão ser a prioridade.
Acredita que no ano que vem vai haver uma campanha mais madura?
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Infelizmente, não. Eu acredito que a campanha vai ser muito dura. Mas da minha parte você pode esperar uma campanha focada no cidadão, uma campanha sem ofensas pessoais, uma campanha pautada em projetos e ideias.
Qual a sua avaliação do governador João Doria na condução da crise?
Uma coisa a gente tem que falar, que é a vacina do Butantan. Essa é uma das vacinas que vai ajudar o Brasil a sair dessa pandemia, dessa crise não somente sanitária, de saúde, mas também econômica. Após a vacina a gente vai poder ir para a rua e a economia ser retomada. Isso a gente tem que reconhecer do governo estadual. Agora, eu ando muito por esse interior do Estado, eu converso muito com empreendedor, e sinto a realidade dele, seja na lojinha, seja o empreendedor do agro. E o descontentamento e a rejeição desse governo são muito grandes, principalmente pela falta de diálogo, de proximidade e de previsibilidade. Um governo que toma medidas que em algum momento podem ser necessárias, mas tranca, abre, fecha, agora abre num horário, agora fecha. A forma de passarem isso é ruim. É uma forma autoritária e sem diálogo. Por que não chama o empreendedor, explica, conversa, dá previsibilidade? O dono de um restaurante não tem fluxo de caixa para aguentar, ou um cara lá do agronegócio. É um governo que ficou longe da realidade do empreendedor. A rejeição ao governo do estado atual, seja na Capital, seja no Interior, é gigante.
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Há também a questão do ICMS, que causou desgaste ao governador, não?
O cara não quer saber o que o governo está fazendo, se está retirando incentivo ou subsídio: [vê que] está aumentando a carga para o empreendedor no meio de uma pandemia. Onde já se viu? ICMS em produtos básicos, em cestas básicas, em remédios, em carro usado, no agro, no leite, na carne, na comida. Não tem cabimento. Eu sou muito próximo do agronegócio, do pequeno produtor rural, que se organizou, foi para cima, e ele recuou em algumas medidas. Não adianta fazer uma reforma administrativa que só onera o paulista.
Na Câmara, qual proposta o sr. destaca neste momento?
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O projeto mais recente foi o Marco Legal das Startups [Poit foi responsável pela relatoria do projeto]. O que é startup? É uma empresa que está começando, aquele pequeno empresário, pequeno empreendedor. O marco das startups é desburocratizar, é tirar a necessidade de tanto papel, burocracia, alvará, fiscalização, regra inócua, que não precisa, para permitir que o cara monte seu negócio em paz, sem o governo atrapalhando, e gere emprego. Se estou falando que o pequeno e o médio empreendedor são os responsáveis pela maior parte da geração de emprego neste país, tenho que melhorar o ambiente para eles, trazer mais segurança jurídica para quem investe, para quem bota dinheiro em startup, em pequeno negócio. Esse é o Marco Legal das Startups. Aprovado na Câmara, aprovado no Senado, aprovei na Câmara as mudanças que o Senado trouxe. Está nas mãos do presidente da República. Nas próximas semanas ele deve ser sancionado e virar lei.
Na sua visão, quais deveriam ser os próximos passos do poder público para diminuir o efeito da crise econômica aprofundada pela pandemia?
Primeiro, priorizar os recursos públicos. Não existe dinheiro público, existe dinheiro do pagador de impostos. Todo mundo aqui paga imposto, e a gente precisa ver esse dinheiro retornando. E não é retornando via emenda para o centrão ou para entregar trator supostamente superfaturado. Como faz isso? Enxugando a máquina. Essa reforma administrativa tem que ser urgente. As privatizações têm que sair para ontem para enxugar, para fazer caixa, para sobrar dinheiro fazer o que a população precisa. Aí nós vamos conseguir ter uma recuperação econômica. A gente precisa também, quase que ao mesmo tempo, de uma reforma tributária, da desburocratização, para gerar emprego e a economia crescer. É preciso estancar essa sangria do nosso país.
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E a reforma política?
Quando eu fazia campanha para deputado, me perguntavam: “Qual é a principal reforma que você defende?”. As pessoas esperavam reforma da Previdência, reforma tributária, reforma administrativa, que são todas muito importantes. Mas a principal reforma que a gente precisa neste país é a reforma política. A gente não vai ter o país que a gente quer com os políticos que a gente tem.
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Na nova Lei de Licitações, Bolsonaro vetou artigos que determinam que gestores fiquem desobrigados a publicar valores e contratações públicas pela imprensa oficial e em outros jornais. Qual a visão do sr. sobre o tema?
Nossa defesa pela transparência é total. O presidente veta algo sem entrar no detalhe, e ele pode estar acabando com a transparência em nome de algo que, inclusive, a gente defende: a digitalização, menos papel, menos burocracia e menos custo. Se for para ele diminuir a quantidade de papel e desobrigar aquele custo de publicar, de imprimir, de botar no papel, e poder colocar tudo no digital, sou a favor. Mas se o veto for mais abrangente, se o cara ficar desobrigado de publicar em qualquer lugar, isso não pode acontecer. A gente está fazendo uma análise mais profunda desse veto para ver quais são as minúcias do texto e se a gente vai precisar melhorar essa lei de alguma forma, derrubar esse veto, o que a gente vai fazer. A gente é a favor de mais eficiência e desobrigar a ter gastos e burocracias desnecessárias com essas publicações. Agora, não pode faltar transparência, tem que publicar. Publica no digital, publica no eletrônico. Agora, desobrigar a publicar e a ter transparência para a população não dá.
Qual a visão do sr. sobre o voto impresso, medida apoiada pelo presidente?
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O assunto do voto impresso não pode ser utilizado da maneira como o presidente está utilizando para politizar e para dizer que se não for impresso não tem eleição, ameaçar com atitudes antidemocráticas. O que é isso? Se a gente puder evoluir o sistema de votação no Brasil, ótimo, eu apoio. A gente ter uma maneira de auditar... Tanto que o nome da comissão é voto auditável. Pode ser auditado imprimindo, com um recibinho que caia na urna, pode ser auditado eletronicamente. Não sei, vamos discutir. Pode inclusive ser o tal do voto impresso. Mas como vai funcionar isso? Voto impresso você vota na urna, aí ela imprime, cospe um papelzinho e você pega esse papelzinho e coloca em outro lugar? Olha o problema que pode dar. Ele cai automaticamente? Você vê num vidrinho que foi o seu que passou numa esteirinha e caiu em outra urna? Vai acabar com a urna eletrônica para fazer todos escreverem na mão? Não sei, a gente tem que estudar isso. Qual é o custo disso para o Brasil? Como é o controle? Então, menos politicagem, colocando medo, criando um negócio que não vai ter eleição, que a eleição vai ser uma fraude, e mais foco na solução.
O sr. tem críticas a Bolsonaro. Acredita, de fato, que esse governo prejudicou a imagem na população sobre o que é o liberalismo?
Totalmente, porque de liberal não tem nada. É um esforço hercúleo agora, e em dobro, para mostrar [para a população] que esse cara não é liberal. Esse cara não está devolvendo o poder para o povo. Um cara que defende supersalários, que defende privilégios para uma classe de elite do funcionalismo de militares vai defender o que para o povo? Reforma administrativa que não retira da elite do funcionalismo. Esse cara não é liberal, não é a nova política, ele manchou essa ideia. Ele estragou. Esse cara não sabe o que é ser liberal. E os liberais que ele botou no poder já saíram, já se desencantaram. Os técnicos bons que estavam no governo foram todos embora, ou porque ele tirou ou pediram para sair porque não iam compactuar com isso.
Mas Paulo Guedes se mantém. Por que, na visão do senhor?
Essa é uma grande dúvida: por que Paulo Guedes está lá ainda. Ele não é respeitado, as ideias do Paulo Guedes não são levadas em frente. Paulo Guedes fala uma coisa e o governo faz outra. Paulo Guedes e o Ministério da Economia avisaram do rombo do orçamento, e o os relatores e a base do governo ignoraram, e preferiram dar emenda para o centrão. Então, o que o Paulo Guedes está fazendo lá? Deveria ter saído, assim como saíram Salim Mattar, Paulo Uebel, Vagner Lenhart, e tantas pessoas boas que não aguentaram aquilo lá.
Na gestão da pandemia, qual a sua avaliação de Bolsonaro?
Desastre completo. Falha logística, em articulação, em diálogo, em relações internacionais com quem fornece insumo para a gente, em diálogo com governantes. Faltou o mínimo, que é focar no que nos une, focar na vacina, focar no combate à pandemia. Houve negacionismo. É um negócio que não se acredita. Foi na contramão de tudo que foi feito pelo mundo. Está aí: quase 500 mil mortos e um atraso que vamos demorar algumas gerações para recuperar no País.
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