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Cotidiano
Segundo especialistas, quando bem aplicado, ensino híbrido pode trazer autonomia, independência, além de estimular o interesse dos alunos
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O ensino híbrido é uma metodologia ativa, que combina momentos de aprendizado virtuais e presenciais | / Rubens Cavallari/Folhapress
“Gente, o que vocês estão achando do ensino híbrido? Aqui em casa está uma loucura!”, “Eu me perco nos dias em que as crianças precisam ir para a escola ou não”, “Na escola da minha filha, ela vai metade da semana presencial e a outra metade assiste às aulas em casa, não tenho certeza se isso é seguro, mas acho melhor do que no ano passado”. As frases ao lado foram retiradas de um grupo de pais e mães no Facebook e são apenas algumas das centenas que pipocam todos os dias neste tipo de grupo, revelando que o ensino híbrido é o assunto do momento.
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Apesar de ter sido adotado pela maior parte das instituições públicas e privadas e de 80% das famílias da rede particular estarem enviando suas crianças para a escola neste formato, segundo dados do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (SIEESP), o modelo ainda divide a opinião de pais e professores.
“O ano passado foi caótico, tendo que me desdobrar em home office, cuidar deles e fazer o papel de professora sem ter a didática e o preparo necessário. Este ano, eu cheguei a enviar os meus filhos para suas respectivas escolas, pois eles sentiam falta das brincadeiras, dos colegas, do carinho dos professores, mas fiquei insegura e desisti. Moro no Capão Redondo e aqui os casos estão aumentando muito. Na escola da minha filha há alunos e professores afastados com suspeita de Covid, então achei melhor mantê-los seguros em casa”, relata a artesã Cristiane Melo, de 42 anos, mãe de Maria Beatriz e João Marcelo, de 12 e 7 anos, respectivamente.
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A interação com outros alunos também foi o principal motivo para que o professor Paulo Gouveia, 48 anos, optasse por mandar o filho Miguel, 7 anos, para a escola. Mas, diferente de Cristiane, Paulo acredita que esta é a melhor opção no momento. “O Miguel é filho único, então, ele estava se sentindo muito sozinho, sem contato com outras crianças há quase um ano. A gente sabe que há um risco, mas confio na escola e instruímos bastante ele sobre os protocolos de segurança. Além disso, vejo que ele está mais interessado nas aulas, mesmo no período on-line. Quando era só o remoto, ele ficava muito disperso”, conta Paulo, que é morador da região central de São Paulo.
Autonomia e interesse
A escola de Miguel, que é particular, dividiu os alunos em dois grupos, que assistem aulas em momentos alternados. Quem vê a aula pela manhã remotamente, encontra o mesmo conteúdo que a turma que irá presencialmente à escola à tarde, mas de maneira adaptada para o ensino on-line. “Acho que os recursos que os professores encontraram estão fazendo toda diferença para manter os alunos motivados, mesmo quando em casa”, avalia Paulo.
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A percepção de Paulo vai de encontro com o que diz Lucas Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann. Para ele, quando bem aplicado, o ensino híbrido traz muitos benefícios. “Para além de ser o modelo mais adequado na situação atual, em que as escolas ainda não conseguem acomodar com segurança 100% dos seus alunos em sala de aula, o Ensino Híbrido permite aos professores intencionalmente desenvolverem maior autonomia dos estudantes, colocando-se em uma postura mais ativa de aprendizado. Quando bem aplicado, reúne as melhores experiências do ensino presencial e virtual”, avalia Rocha.
A conselheira da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), Ivete Palange, concorda. “O ensino híbrido bem implantado facilita a autonomia e a independência do aluno. Estimula o interesse e pode atender às necessidades individuais (...). Eu torço para que seja amplamente adotado mesmo após a pandemia, pois ele permite que o aluno passe a dominar novas tecnologias e o professor torna-se não um veiculador de conteúdo, mas um planejador e mediador de experiências que são significativas para a aprendizagem.”
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Transmissão não é ensino híbrido
O ensino híbrido é uma metodologia ativa, que combina momentos de aprendizado virtuais e presenciais. Porém, durante a pandemia, muitas escolas tem confundido a simples transmissão das aulas com ensino híbrido.
É exatamente desta maneira que a professora de Geografia, Thais Andrade, de 36 anos, tem vivenciado o ano letivo de 2021. Ela, que leciona tanto na escola pública, quanto na particular, conta da dificuldade que é ensinar ao mesmo tempo para quem está em casa e na sala de aula. “Na particular estamos com 50% presencial e 50% on-line. Levo meu notebook e dou a aula com a câmera ligada. A maior dificuldade é perceber se os alunos on-line estão aprendendo, pois a maioria desliga a câmera e não podemos ver a carinha deles. E tem outra dificuldade grande, às vezes parece que estamos tirando água de um barco furado, parece que não dou atenção ao aluno presencial e nem ao que está em casa”, conta ela.
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De acordo com Rocha, “a transmissão de aulas ao vivo simultaneamente para alunos na sala de aula e em casa não configura uma prática de ensino híbrido, por não diferenciar a instrução para esses dois ambientes diferentes”, explica.
“Para envolver uma criança diante da tela e alunos ao vivo o processo é distinto. A atenção diante da tela é diferente e mais limitada que a presencial. A participação dos alunos também é diferente em uma situação e na outra. Quanto mais a aula estiver baseada em conteúdo mais difícil é”, completa Palange.
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