'Vou chegar com muito amor', diz Lia de Itamaracá, que será enredo de escola de samba em SP

A escola de samba Nenê de Vila Matilde, uma das mais tradicionais de São Paulo, localizada na zona leste da capital, irá homenagear a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá, em seu enredo de Carnaval de 2024.

O título do enredo é "Cirandando a vida pra lá e pra cá. Sou Lia, sou Nenê, sou de Itamaracá", a ideia do enredo foi do carnavalesco Fábio Gouveia que tem Lia como referência de ancestralidade. 

Em entrevista exclusiva para à Gazeta, Lia de Itamaracá, que é uma referência da cultura negra e Patrimônio Vivo de Pernambuco, ressalta a alegria de ser homenageada pela escola de samba: "Uma maravilha, eu amei o convite, tô doida pra chegar lá.”

O carnavalesco Fábio Gouveia também comemorou a escolha do enredo: “A muito ansiava por este enredo, e não poderia ser diferente, é ancestral é missão, missão em nome das mulheres pretas que me rodeiam, com a cara das mulheres fortes da Nene de Vila Matilde”.

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Além da escola de samba de São Paulo, a Império da Tijuca, no Rio de Janeiro, também homenageará a artista no Carnaval de 2024. 

Reconhecimento 

Lia recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2005. A artista, considerada a mais célebre cirandeira do Brasil, ressalta a importância do reconhecimento ainda em vida que receberá das escolas de Samba em 2024. 

"Duas escolas de samba maravilhosas e poderosíssimas, eu tô amando e tô dentro. Vou chegar lá com muito amor, muito carinho, muita garra, e muita alegria,”.

Trajetória

Maria Madalena Correia do Nascimento, nasceu em 12 de janeiro de 1944, na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, é patrimônio vivo de Pernambuco, e levou a ciranda pelo país e pela Europa. 

Lia de Itamaracá começou seu envolvimento com a música ainda criança com 12 anos, e ficou conhecida, inicialmente, com uma canção gravada por Teca Calazans, onde, a intérprete entoa os versos “Essa ciranda quem me deu foi Lia,/que mora na Ilha de Itamaracá”. 

No começo dos 20 anos, o interesse pela música e seu dom se tornaram uma realidade. “Gosto muito de ouvir, de quem canta e quem dança. Por gostar disso aí tudinho que eu tô na música. Com 19 pra 20 anos assumi a responsabilidade de me apresentar, de gravar. “, revela Lia. 

O primeiro álbum em LP da artista foi lançado em 1977, intitulado “A Rainha Da Ciranda”. 

O carnaval não foi inicialmente sua grande paixão, mas a festa popular conquistou a artista ao longo dos anos. “Logo no começo eu não gostava tanto de carnaval. Meu marido é porta estandarte e aí tá tudo junto, aí eu amei o carnaval também.”, Lia conta sobre a atuação do marido no carnaval, com quem é casada há cerca de 40 anos. 

A Ilha de Itamaracá não está apenas no nome da cantora, a região onde ela cresceu e vive até hoje é essencial para sua história. "Eu não abandono minha Ilha não, é onde está minha família e as minhas raízes. Não abandono minha Ilha por dinheiro nenhum. Saio, me apresento em outros cantos, no exterior, e volto pra minha Ilha.”

Foto: Ytallo Barreto/Divulgação

O mar também é uma inspiração para compor. "As minhas [músicas] eu escrevo na beira da praia.", revela a artista.

Em 1998, Lia foi uma das atrações do Abril pro Rock, onde começou realmente a seguir sua carreira apenas na música, antes, a artista ainda mantinha a sua profissão em paralelo ao trabalho de merendeira. Esse foi um ponto de virada em sua carreira, a cirandeira foi convidada para participar de apresentações pelo Brasil e no exterior. 

“Apesar de ser diferente da minha praia, aonde eu chego eu sou povão, eu abraço todo mundo. Tem que levar a cultura pro mundo, porque se eu não for pro mundo o mundo não vem a mim. O mundo não vai saber que Lia existe, então Lia ganha o mundo.”, exalta com muita potência e simplicidade sobre suas experiências.

Centro Cultural Estrela de Lia

A cantora desejava um local para fazer sua ciranda e dessa vontade surgiu o Centro Cultural Estrela de Lia, o único espaço cultural da região, que atualmente está em reforma. Lia fala sobre a vontade de ver o espaço reformado e funcionando para promover atividades culturais, e formações para os moradores. 

"Daqui pros meus 80 anos ele já vai tá pronto. Eu queria um local para que pudesse fazer minha ciranda, pra mim é muito importante."

Com anos de carreira, experiências diversas e um legado cultural inesgotável. A cantora no auge dos seus 79 anos, ressalta que abre caminho pra todo mundo que pode. “Eu não faço tudo pra mim, eu sempre tento distribuir pra quem quer aprender. Sempre digo ‘me segue’, aprende, porque Lia hoje não é amanhã.”