Opinião: a genialidade de Fausto Fanti vive nos detalhes

Pouca gente entendeu tão bem o Brasil real quanto Fausto Fanti. O líder do Hermes e Renato, que morreu há 10 anos em 30 de julho de 2014, construiu uma obra que, além de divertida, desvela tipos nacionais em ritmo fabril. E é para isso que sobretudo serve o humor: revelar como somos patéticos, uma forma da sociedade de se olhar ao espelho. Fausto fez isso melhor do que quase todo mundo.

Os desavisados costumam classificar o H&R como humor apelativo, ou “humor de palavrão”. Não que não tenha apelado por vezes, mas não é isso o que caracteriza o grupo. Boa parte dos quadros que passaram a ser transmitidos pela MTV em 2000 são um tratado cultural e comportamental do povo brasileiro, que beira o irretocável. E a genialidade estava sempre no que não se reparava pela primeira audiência.

• Quem foi Fausto Fanti, líder do Hermes e Renato morto há 10 anos

Legado não está no palavrão 

O maior legado de Fausto e dos seus amigos de trupe não está no grito ou no “p. que pariu”, mas na roupa que usavam, na frase dita rápida e nos nomes que davam aos personagens, aos lugares e às situações. E, por isso, o H&R clássico vai ficando melhor quanto mais se vê. Sempre há algo novo para reparar.

Abaixo, seguem grandes momentos dos pormenores do Hermes e Renato. Só uma parcela, claro, porque a produção é imensurável. Por óbvio, não dá para saber se todos foram escritos por Fausto, e não pelo outros integrantes do grupo. Mas eles juntos eram uma cabeça só. Então, a homenagem se estende a Marco Antônio, Felipe Torres, Adriano Silva, Bruno Sutter, Franco Fanti e Gil Brother Away.

Genialidade nos detalhes

A rua Dalvo Trombeta era para onde os participantes do Portão da Esperança ou os fiéis da Igreja Loucuras de Meu Deus tinham que mandar uma cartinha para participar da atração.

Jackson Gotardo, no Programa do Urso, teve que responder às acusações feitas pelas revistas Uva Roxa, Rouxinol e pelo site Zénenem.com.br.

Claudio Ricardo queria levar os pobres de volta para sua cidade pelo quadro De Volta para Onde Você Nunca Deveria ter Saído.

Palhaço Gozo já trabalhou na extinta TV Tupã e apresentou várias atrações, como Castelinho Ratatá e Turma da Pupunha, voltado aos adolescentes. Na TV Maquete, o palhaço comandou o Turma da Palhaçadinha.

Palhaço Gozo também comandava várias provas em seu programa mais recente: Pemba Maluca, Tapa na Cara, Teatrinho e Corrida de Bigolinhas.

Por fim, Palhaço Gozo teria sido contratado porque o Hermes e Renato precisava recuperar o público original que havia parado de assistir ao programa, que eram “as crianças, os vovôs e os burgueses”.

Uma das atrações do Canal Brazuka era o Ritmos Transudos do Brasil.

Um caipira explicou como Joselito poderia ganhar o prêmio naquelas atrações de tiro de festas juninas: bastava acertar o passarito. Mas Joselito deixou claro que era melhor fazer isso com a arma da Segunda Guerra.

Joselito reclamou por ter tomado uma bolada de um jogador de frescobol, que se justificou: “Marquei o meu ponto”.

Ao vender seu Dogão Sem Noção pelas ruas de Cascatinha, Joselito se deparou com a aparição de um vendedor de sorvete como concorrente. Ele, então, teve que tomar a única solução possível: vender cachorro quente com sorvete. “Vocês não tão com fome? Tá aqui, ó, cachorro quente e sorvete”.

Nomes de bandas e músicos: Coração Melão, Também Sou Hype, Artesanation, Padrinhos do Funk, Marra Pura, Coisinhas da Terra (criado por Seu Feijó da Guitarrada, “um velho muito do transudo”), Axêgo, Vacilito, Traquinasamba (comandado pelo vocalista Band), Marquinhos Aguiar e Diogo Leblon.

Os pedidos do Portão da Esperança: mochila voadora, prato de comida, bolsa de estudos, um quadro antigo do Hermes e do Renato e um copo de suquinho de caju bem gelado

Um psicólogo ensinou qual era a fórmula da pilantragem do povo nacional: má fé + oportunidade + um pouquinho de falcatrua.