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Mídia Física: muito mais do que um mero disco

Na era dos streamings, o setor ainda continua rendendo descobertas entre seus colecionadores e vendedores

Gabriel Fernandes

20/01/2024 às 07:00

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Locadora Vídeo Paradiso, em Santos, ainda possui um acervo com 22 mil DVDs, 3 mil Blu-Rays e 8 mil VHS

Locadora Vídeo Paradiso, em Santos, ainda possui um acervo com 22 mil DVDs, 3 mil Blu-Rays e 8 mil VHS | Vinícius Barroso Araujo/Reprodução

Numa era em que a mídia física vem sendo substituída pelo streaming, cinéfilos que são colecionadores e comerciantes ainda mostram que o setor consegue ser muito superior em vários aspectos. Um exemplo é a locadora Vídeo Paradiso, localizada no bairro do Boqueirão, em Santos, que ainda possui um acervo com 22 mil DVDs, 3 mil Blu-Rays e 8 mil VHS. Para efeito de comparação, a plataforma da Amazon Prime Video (líder em quantidade de conteúdos) possui apenas 7,6 mil títulos (sendo 5,8 mil filmes e 1,8 mil séries), segundo informações divulgadas pelo último Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil, de 2022.

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Sendo um dos principais pontos de referência cinematográfica na Baixada Santista, a Video Paradiso está há 32 anos carregando esse legado com êxito. Fundada por Marcelo Rosendo Datoguêa, 61, junto de sua esposa Rosana (formada em Administração de Empresas), o local tem um sentimento mágico desde o início, principalmente por conta da ligação com um famoso longa italiano do cineasta Giuseppe Tornatore, “Cinema Paradiso”.

“Temos ele nos três formatos, VHS, DVD e Blu-ray. Pegamos todo o seu histórico de lançamentos, em cada época. Cheguei a conferi-lo duas vezes no cinema: uma antes de inaugurar a locadora e uma depois, já numa reprise”, comentou Marcelo. 

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Conhecida por suas várias raridades, até hoje várias pessoas ainda procuram a Paradiso para buscar algum filme bastante difícil de encontrar. “Esta procura pode ser gerada por necessidade para trabalhos de escola ou faculdade, e sempre são títulos como ‘A Hora da Estrela’ e ‘Macunaíma’. Com isso, percebemos que uma tonelada de filmes não está no streaming, então provam o meu ponto que o acervo de uma vídeo locadora, particularmente a Paradiso, não poderia ser ‘esnobado’, como é pela esmagadora maioria”, completou.

Até hoje, locais como estes também continuam sendo um ponto de descoberta de grandes clássicos e de confraternização entre amigos e clientes. Como é o caso de Pedro Porto, 28, que chegou a trabalhar na própria Vídeo Paradiso.

 “Gosto muito da troca que o espaço físico permite. De tanto ir lá, eu criei uma genuína amizade com o funcionário que fica no balcão, o Vinícius, e com outros clientes também. É um lugar onde me sinto à vontade, e também gosto de apoiar o empreendimento e contribuir para que eles continuem sendo um dos patrimônios culturais da cidade”, comentou Porto, que até hoje não deixou de ser cliente do local.

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Pedro Porto trabalhou na locadora Video Paradiso e continua um cliente fielPedro Porto trabalhou na locadora Video Paradiso e continua um cliente fiel (Pedro Porto)

Lojistas estão encontrando soluções

Com a recente saída de estúdios como Universal, Paramount e Warner deste setor, um vácuo começou a ser montado no mercado nacional. Alguns selos como Obras Primas do Cinema (OP) tem buscado alternativas independentes para comercialização de alguns títulos populares destes grandes estúdios, como “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e “Twister”. 

Com valores oscilando entre R$ 99,90 e R$ 139,90, as edições de luxo em Blu-Ray sempre contém não apenas uma enxurrada de extras, mas também uma luva, cards, um livreto com detalhes dos bastidores do respectivo filme e até mesmo pôster.

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Já em DVD, alguns deles sequer estão disponíveis em streaming, como o clássico “Pagemaster - O Mestre da Fantasia”, estrelado por Macaulay Culkin. Com um forte apelo nostálgico na maioria das vezes, essas edições são mais simples e normalmente apenas acompanhadas de luvas, cards e alguns extras. O preço varia entre R$ 36,90 e R$ 49,90.

Muito conhecido no meio de lojistas e colecionadores, o empresário Valmir Fernandes, 55, é fundador do selo OP e da loja Colecione Clássicos. Presente no mercado de mídia física desde 1989, como vendedor de títulos da empresa de filmes pornôs Buttman, ele começou a mergulhar no universo dos clássicos cinematográficos, durante seus trabalhos para as várias videolocadoras na zona norte de São Paulo.

Valmir Fernandes é o fundador do selo OP e da loja Colecione ClássicosValmir Fernandes é o fundador do selo Obras Primas do Cinema e da loja Colecione Clássicos (Valmir Fernandes)

“Fazia de Guarulhos até Pirituba, toda aquela região. Foram mais de 500  videolocadoras. Neste contexto comecei a aprender a trabalhar neste meio e conheci vários diretores e produtores de títulos convencionais. Inclusive, cheguei a gerenciar a própria Buttman por um período até 2007”, comentou Valmir. “Nesta época comecei a fazer meus contatos com produtores dos estúdios de fora, e em 2008 comecei a trabalhar com a minha loja de filmes clássicos”, declarou.

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Em 2021, com essa experiência no mercado, ele foi o responsável por lançar o primeiro Blu-Ray 4K, na história do Brasil, do clássico longa de Luc Besson, “O Quinto Elemento”. Limitado em mil unidades, e com uma réplica do famoso “Leeloo Dallas Multipass”, o título foi sucesso de vendas. Hoje, ele se encontra apenas por terceiros, com um valor médio de R$ 1.000. 

“O mercado está cada vez mais crescendo, mais pessoas estão começando a descobrir a qualidade destas edições. Você não pode entregar apenas um filme sem nada, mas sim com toda qualidade de som, imagem, extras, cards, livreto e afins. Isso não se encontra no streaming”, completou.

Outro nome bastante popular no meio, é do empresário Fábio Augusto Martins, 47, proprietário da FamDVD, que atua no mercado desde agosto de 2008. Segundo ele, ainda existe muita desinformação sobre o setor, principalmente em questões básicas. 

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Proprietário da FamDVD, Fabio Augusto Martins é um dos nomes mais populares do meioProprietário da FamDVD, Fabio Augusto Martins é um dos nomes mais populares do meio (Fabio Martins)

“O que muitas pessoas não sabem é que os videogames de última geração reproduzem Blu-ray e DVD. Inclusive, ainda se encontra um modelo da LG no mercado para compra. Estamos tentando convencer a TecToy voltar a produzir aparelhos. Seria fantástico”, comentou.

Fábio ainda destacou uma polêmica que vem ocorrendo na indústria cinematográfica, em que os estúdios passaram a mudar algumas obras clássicas, apenas para se adequar ao cenário atual. 

“Nos últimos anos alguns estúdios alteraram cenas de filmes para ser politicamente correto. Como, por exemplo, trocar uma arma do policial do filme ‘ET’ por um rádio, ou até mesmo esticar o cabelo da atriz do filme ‘Splash -

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Uma Sereia Em Minha Vida’, para que não mostrasse parte do corpo da atriz Daryl Hannah. Na mídia física isso não vai acontecer jamais, pois sempre teremos a primeira versão lançada para preservar exatamente o que o diretor do filme queria.”, completou o empresário e cinéfilo.

Influência do Cinema Nacional.

Mas não são apenas os lojistas que vêem a mídia física como algo que deve ser preservado, se tratando de cinema. Responsável pela sucedida comédia nacional estrelada por Glória Pires e Maísa, “Desapega”, o cineasta Hsu Chien, 56, tem como sua base vários filmes assistidos no formato. Proprietário de um acervo com mais de dois mil títulos, entre clássicos e lançamentos, até hoje ele opta por conferir DVDs em casos de estudo na área, antes de começar a conceber seus próximos longas.

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“Sempre fui cinéfilo e consumidor do cinema brasileiro desde criança. Então tive o prazer de conferir boa parte dos filmes nas salas de cinema ou em cineclubes como a Cinemateca do MAM ou Estação Botafogo. Mas rever filmes em DVD como ‘Pixote - A Lei do Mais Fraco’, ‘Bye bye Brasil’, ‘Iracema, Uma Transa Amazônica’ e ‘Gaijin - Terra da Liberdade’, sempre foi um motivo de estudo para mim”, declarou Chien.

O cineasta Hsu Chien tem um acervo com mais de dois mil títulosO cineasta Hsu Chien tem um acervo com mais de dois mil títulos (Hsu Chien)

Ele ainda comentou que está bastante triste com o vazio enorme que o mercado vem enfrentando, pois não existem mais vários lançamentos importantes como antes. “Torço para que filmes clássicos que ainda não tenham saído em DVD, sejam lançados para serem guardados em acervos. Isso evitará que uma tragédia tecnologia aconteça e percamos toda a história do cinema brasileiro, por falta de cuidado, carinho e preservação com a memória”, completou o cineasta, que atualmente está envolvido na co-direção do longa “Querido Mundo”, junto de Miguel Falabella, e está prestes a lançar nos cinemas dois títulos com a atriz Giulia Benite (a Mônica dos dois primeiros filmes de “A Turma da Mônica”), “De Repente Miss” e “Morando com o Crush”, ainda neste semestre.

O colecionismo continua forte, mas a comunidade...

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Colecionador do formato desde os oito anos de idade, o analista financeiro Tiago Brito, 34, continua mantendo sua coleção crescendo na medida do possível, com blu-rays de títulos como “O Máskara” e mais recentemente “O Corvo”, da própria OP. Raramente opta por comprar alguma edição importada, por conta da ausência de áudio e legendas em português.

Mas assim como vários outros colecionadores de mídia física, o desejo de compartilhar e procurar mais títulos na comunidade se transformou em uma tarefa difícil, uma vez que, segundo ele, muitos procuram apenas fortalecer o próprio ego.

Tiago Brito prefere a edição nacional pelos áudios e legendas em portuguêsTiago Brito prefere a edição nacional pelos áudios e legendas em português (Tiago Brito)

“É uma comunidade tóxica, onde influencers levantam uma falsa bandeira de lutar pela mídia física, mas na verdade querem apenas sugar os lojistas pedindo recebidinhos. Quando eles recusam, os tais ‘influencers’ iniciam uma campanha de ódio e cancelamento em cima dos lojistas ou distribuidora”, declarou Brito, que ainda salientou que estes movimentos só ganham força pela falta de informação do público leigo, que apenas está como comprador ou entusiasta no mercado.

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“Participo de várias comunidades de colecionadores de action-figures, cards de ‘Pokémon’, ‘Hot Wheels’ e em nenhuma delas o pessoal perde tempo com estas intrigas e besteiras. Ninguém quer alimentar o próprio ego”, lamentou o analista.

Outro colecionador que também marca presença no mercado é o universitário Lucas da Silva Fiuza, 31, que compra a maioria dos lançamentos do mercado e alguns importados. Com uma coleção contendo quase 4 mil títulos em DVD e Blu-Ray. 

Lucas da Silva Fiuza compra a maioria dos lançamentos do mercado e também alguns importadosLucas da Silva Fiuza compra a maioria dos lançamentos do mercado e também alguns importados (Lucas da Silva Fiuza)

No meio de vários títulos em sua coleção, Fiuza comentou que a edição mais complicada de se encontrar foi o box em Blu-Ray “Cronenberg Essencial” (que continha os clássicos do cineasta David Cronenberg como “Videodrome: a Síndrome do Vídeo”, “Os Filhos do Medo”, “Mistério e Paixões” e “Calafrios”), lançada pela Versátil: “Acabei conseguindo com um amigo meu, depois de quase dois anos procurando em sites e grupos de venda”.

Assim como Brito, ele também reprova o fato de alguns grupos começarem a julgar “o que é certo e errado”, de se ter na prateleira ou como ele é lançado por um lojista. 

“O maior problema da mídia física, hoje, são os próprios colecionadores. Muitas vezes não entendem o que é bom para o mercado, e ficam criando problemas e ódio em cima de alguns lançamentos”, concluiu.  

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