Entre em nosso grupo
2
Entretenimento
Após permissão, Ilha Anchieta recebe mais turistas em busca de hospedagem em meio a animais selvagens e praias de beleza impressionante
Continua depois da publicidade
Ilha Anchieta, em Ubatuba, recebe impulso no turismo após instalação de hostel | Bruno Hoffmann
A Ilha Anchieta, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, passou a viver um aumento de turistas brasileiros e estrangeiros a partir do fim do ano passado, quando começaram as atividades de um hostel depois de uma concorrência promovida pelo governo estadual. Até então, não havia onde pernoitar no local.
Continua depois da publicidade
A reportagem da Gazeta se hospedou nesta semana em um dos quartos privativos do Green Haven Ilha Anchieta, entre a fauna e a flora do Parque Estadual da Ilha Anchieta, uma Área de Proteção Ambiental (APA) nos moldes de Fernando de Noronha – por isso, é chamada por muitos de Fernando de Noronha paulista.
Ao todo, há três edifícios históricos na Praia do Sapateiro que servem como acomodação e comportam até 70 pessoas de forma compartilhada e privativa, com diárias que variam de R$ 89 a R$ 1.000.
Já o ingresso para entrar na ilha custa R$ 19 para brasileiros, enquanto o transporte de embarcação ida e volta sai por cerca de R$ 150.
Continua depois da publicidade
As atrações naturais e históricas do local são ricas e extensas, com sete praias de beleza impressionante. Por isso, o governo estadual – por meio da Fundação Florestal – fez uma série de exigências à permissionária para valorizar o ambiente sem afetar o patrimônio e as espécies viventes.
A vencedora da concorrência para explorar o ecoturismo do parque foi a empresa Ebram Fiore, que já era responsável por um hostel na praia do Perequê-Açu, também em Ubatuba, considerado um dos melhores do mundo. O acordo se iniciou em abril do ano passado e vale por 10 anos.
“A nossa expectativa é muito alta. Este local é um paraíso, com uma fauna absurda, e temos certeza de que o investimento vai dar certo para a preservação ambiental e histórica e também para o retorno financeiro”, disse, com empolgação, o empresário Vinicius Fiore, um dos sócios do empreendimento.
Continua depois da publicidade
A reportagem da Gazeta avistou uma série de animais soltos na natureza em menos de uma hora ao percorrer as trilhas do local. Entre os bichos estavam arraias, tartarugas-marinhas, cutias, macacos-pregos, quatis e saguis-de-tufos-pretos.
Parte já vivia no local originalmente, e outra foi trazida pelo Zoológico de São Paulo na década de 1980. A medida, porém, causou desequilíbrio ecológico, com aumento rápido demais de algumas espécies e extinção de outras. Já há estudos para controle populacional.
O espaço atrai pesquisadores do Brasil todo. Durante a visita da Gazeta, um grupo de professores e estudantes de graduação e de pós-graduação da USP/Esalq de Piracicaba e de São Carlos, no interior de São Paulo, estava no local para analisar o uso público em áreas protegidas.
Continua depois da publicidade
Para manter o equilíbrio do ecossistema, a Ilha Anchieta não pode receber mais do que 1.020 turistas ao mesmo tempo. Ou seja: em nenhum momento do ano estará lotada de visitantes, o que garante um uso turístico de forma tranquila e equilibrada.
As espécies marinhas são mais vistas no Aquário Natural, uma formação rochosa em que a água fica quase parada e atrai espécies de peixes e outras maravilhas do mar, como cavalos-marinhos.
A poucos metros era possível ver uma tartaruga marinha, nadando tranquilamente. Talvez por saber que a pesca é proibida por lá.
Continua depois da publicidade
Além disso, só são permitidos 256 visitantes por dia no Aquário Natural, e no máximo oito ao mesmo tempo. O período da visita não pode ultrapassar 15 minutos. Só é possível estender esse tempo caso não haja outros visitantes esperando.
Ainda é proibido subir nas rochas, tocar, perseguir e alimentar a fauna, além de utilizar equipamentos como espaguetes, pranchas, colchões infláveis e nadadeiras.
A história cultural do espaço é grande, e há sinais em maior ou menor grau até hoje. A segunda maior ilha do litoral norte paulista era espaço de rituais religiosos do povo tupinambá (liderado, inclusive, pelo mítico cacique Cunhambebe). Depois da chegada dos europeus, se tornou um porto intermediário entre o Rio de Janeiro e São Vicente.
Continua depois da publicidade
O século passado foi especialmente agitado, ao se transformar em 1908 em uma colônia correcional – na prática, um local para encarcerar cidadãos considerados vadios após o fim da escravidão, como capoeiristas e praticantes de religiões afrobrasileiras. O local fechou as portas em 1914.
Em 1926, chegaram 2 mil imigrantes búlgaros à ilha, que não haviam se adaptado ao trabalho no interior de São Paulo. Sem conhecer nada sobre o local, o grupo acabou se alimentando de um tipo de mandioca tóxica, e 151 morreram em pouco mais de 2 meses, a maioria crianças.
Um cemitério no local serviu de abrigo para os corpos. As cruzes ortodoxas estão no local até hoje em respeito às vítimas de origem búlgara e gagaúza (um povo proveniente da região da Gagaúzia, na atual República da Moldávia e do sudoeste da Ucrânia.
Continua depois da publicidade
Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, a ilha voltou a receber um presídio, mas desta vez para criminosos de verdade. Em 1942 passaria a ser um presídio de segurança máxima.
A penitenciária só chegaria ao fim em 1952, após uma rebelião sangrenta e cinematográfica. É até hoje uma das maiores rebeliões de presos da história do Brasil.
As ruínas do presídio ficam atrás do prédio principal. Está tudo ali: as alas dos japoneses que matavam compatriotas por se negarem a aceitar que o país asiático perdeu a guerra, as solitárias para os criminosos mais perigosos, o espaço dos guardas. Hoje, quem entra nas celas são os saguis, cutias e saguis. Melhor assim.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade