'Hip Hop Cultura de Rua': Thaide e outros bambas abriram os caminhos do rap nacional

Em meados da década de 1980, o vão livre da estação São Bento do Metrô, no centro de São Paulo, passou a ser ponto de encontro dos aficionados pelo movimento hip-hop, já forte nos Estados Unidos mas ainda engatinhando no Brasil. Dois fatores foram decisivos para a escolha do lugar: localização central e piso ideal para dançar break, enquanto os MCs lançavam as rimas de improviso. Dessa turma que frequentava o espaço saíram os integrantes que produziram o primeiro LP dedicado ao rap brasileiro: "Hip-Hop Cultura de Rua", que ganharia as lojas de disco em 1988.

Quatro grupos fizeram parte das 14 faixas do vinil, lançado pela Eldorado: Código 13, MC Jack, O Credo e, célebres até hoje, Thaide e DJ Hum. Hip-Hop Cultura de Rua trazia um dos clássicos do rap tupiniquim, Corpo Fechado (parceria de Thaíde com Marcos Telésforo), em que o rapper da zona sul versava com cara de mau: Me atire uma pedra / Que eu te atiro uma granada / Se tocar em minha face / Sua vida está selada...

Com boa receptividade, o disco (hoje considerado raríssimo) abriu as portas para o lançamento de outros rappers, como Ndee Naldinho, Consciência Humana, DMN e, fora de São Paulo, Câmbio Negro, de Brasília, e Faces do Subúrbio, do Recife. Logo também surgiria o primeiro LP dos Racionais MCs, o mais cultuado grupo de rap do País. A popularização do gênero mudou a cena cultural de São Paulo. “Se no Rio é o samba, o rap é a grande música popular paulistana”, já disse Mano Brown, líder dos Racionais.

Em 2019, Thaide lançou a música Hip-Hop Puro, em que lembra, com saudade, os momentos vividos na São Bento: "No tempo que nem se pensava em videoclipe / A levada do rap era bem mais simples..."