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É um romance que, se fosse protagonizado por um garoto e uma garota, pouco teria a acrescentar
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"Heartstopper", da Netflix, é clichê do primeiro ao último episódio | Reprodução/Instagram
"Heartstopper", da Netflix, é clichê do primeiro ao último episódio. É um romance que, se fosse protagonizado por um garoto e uma garota, pouco teria a acrescentar, mas, por tratar da paixão de dois rapazes, acha originalidade.
Quantas vezes as telas já foram tomadas pela garota que se esconde na biblioteca para ter paz e de repente se apaixona pelo garoto que é a estrela do time de futebol da escola?
"Heartstopper" não é diferente. Charlie, sofre bullying por ter sido tirado à força do armário. Às escondidas, ele beija um colega, Ben, que faz parte do grupo dos jogadores de rúgbi homofóbicos e que finge ter uma namorada.
Eis que, depois de uma briga com Ben, Charlie conhece Nick, que também faz parte do time de rúgbi, mas curiosamente não é homofóbico. Entre um trabalho em grupo e uma mensagem escrita e reescrita dez vezes antes de ser enviada, eles se apaixonam.
Nick ainda não sabe se gosta de garotos. Depois de descobrir a resposta, passa a se perguntar se é gay ou bissexual. Ciente de que nada disso importa, no entanto, ele logo se deixa levar pela paixão e começa a namorar Charlie.
É a partir daí que os clichês dão espaço para originalidade. Se já é difícil apresentar à família um namorado que não corresponde aos padrões esperados, apresentar um companheiro do mesmo sexo é mais difícil ainda, o que em "Heartstopper" representa a oportunidade de ver na tela conflitos diferentes dos que estamos cansados de ver.
Enquanto em "Grease" e em "High School Musical" os galãs se questionavam se podiam cantar, com medo de manchar reputação, em "Heartstopper" o conflito é mais profundo.
É uma avaliação que pode parecer exagerada, já que a comunidade LGBTQIA+ tem sido vista em quase toda produção recente de Hollywood. Se avaliarmos tais obras a fundo, no entanto, veremos que não é bem por aí, já que em geral seus dilemas são relegados a pano de fundo.
"Heartstopper" não é só uma história com um personagem gay, caso de sucessos como "Elite" e "Euphoria", para citar apenas dois exemplos de seriados de sucesso recentes. Também não é uma história em que o arco-íris é tratado como cota, com personagens da comunidade LGBTQIOA+ que não podem ter vida própria, como como é visto em "And Just Like That", o revival de "Sex and the City".
Embalada por uma paleta ultracolorida, "Heartstopper" é uma comédia romântica -isto é, de final feliz, sem nenhuma grande tragédia, outro destino comum para gays na ficção-, só que centrada no romance homossexual.
É ainda, e talvez isso seja mais importante, distribuída no circuito mainstream, dentro de uma plataforma de streaming que chega a qualquer casa, até mesmo de uma cidade interiorana onde filmes como "Me Chame pelo Seu Nome" não chegaram ou onde nem sequer há salas de cinema.
Por mais que não seja a primeira história com este propósito, "Heartstopper", baseada nos quadrinhos de sua roteirista, Alice Oseman, encontra poucos paralelos na indústria audiovisual. Nos cinemas, "Com Amor, Simon", que estreou em 2018, é até hoje o único filme de um grande estúdio com a mesma proposta.
O sucesso de "Heartstopper" nas redes sociais, sobretudo no Twitter, onde se tornou o seriado mais comentado da semana, reflete a carência do público por histórias com representatividade de verdade.
Reflete, ainda, um atraso. Não é preciso voltar muitas páginas do calendário. Qualquer jovem gay de 20 e poucos anos nunca se viu representado nas telas durante a adolescência, assim como qualquer jovem lésbica ou bissexual ainda não se vê, já que, para elas, não existe nenhum Simon ou um Charlie.
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Heartstopper
Avaliação Muito bom
Inglaterra, 2022. Criação: Alice Oseman. Direção: Euros Lyn. Com: Kit Connor, Joe Locke, Olivia Colman. Na Netflix. 12 anos
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