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Entretenimento
Compositor relembrou por que se tornou a voz da vida urbana nacional durante as últimas seis décadas, ao cantar as agruras e belezas de ser brasileiro
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Chico Buarque | Reprodução/Instagram
O Brasil tem umas duas dezenas de compositores que podem ser chamados de gênios sem medo do juízo de valor, de Noel Rosa a Mano Brown. O maior deles fez um show nesta sexta-feira, em São Paulo. Durante quase duas horas, Chico Buarque relembrou ao público por que se tornou a voz da vida urbana nacional durante as últimas seis décadas, ao cantar as agruras e belezas de ser brasileiro.
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Poucas vezes na história – talvez nunca, antes ou depois – o povo deste país esteve tão confiante e esperançoso em si quanto no fim dos anos 1950. Havia Pelé e Garrincha, havia a indústria automobilística, havia a construção de uma capital futurista. Havia também João Gilberto, o inventor da moderna música nacional.
Os anos seguintes, porém, culminaram numa série de crises que acarretou na tomada do poder pelos militares, em 1964, que instalariam uma ditadura pelos próximos 21 anos. Nesse período surgiram os "filhos" de João, que conviviam entre o fascínio da inspiração de um Brasil ideal e a realidade bruta que estava sendo solidificada. Naquele cenário nasceu Chico Buarque para a vida artística e, com um talento incomum para criar personagens, se tornou o compositor de uma nação, no mínimo, complicada.
No espetáculo desta sexta, feito no aniversário da entrada dos militares no poder, em 31 de março, e em tempos pós-Bolsonaro e início de governo Lula, o compositor trouxe a carga da sua produção desde os anos 1960, mas preferiu deixar as músicas “mais politizadas” de lado, apelando para sensibilidades mais subjetivas. Ele soube a hora de lançar as canções que deixavam seu público com aplausos mais tensos, como Sob Medida e Samba do Grande Amor – nessas horas, os espectadores deixaram o protocolo de lado para cantar junto com o artista e com Monica Salmaso, que participou de boa parte das músicas.
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O público interferiu com mais barulho quando fazia, por conta própria, alguma associação da letra com a política atual, como quando cantou Bancarrota Blues, em que a letra diz: “Os diamantes rolam no chão / O ouro é poeira...”
Num espetáculo bonito, Chico traz um fiapo de esperança no futuro em tempos duros. Na canção que dá título ao show, Que Tal Um Samba?, o artista pede um samba para espantar o tempo feio, para remediar o estrago. Como se fosse uma lembrança de que o Brasil pode ser bom e generoso, sim. Pelo menos em nossos sonhos. E sonhar não é pouca coisa.
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