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Entretenimento
Fãs da cantora se reuniram para prestar homenagem há quatros décadas que perduram até hoje nas cidades brasileiras
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Elis Regina | Reprodução/Instagram
Numa noite, alguns dias depois de 19 de janeiro de 1982, Luciano Alabarse apresentou aos amigos do grupo de teatro em que ensaiava, em Porto Alegre, uma sacola com latas de tinta em spray e uma ideia.
Fãs de Elis Regina, eles costumavam se reunir para ouvir discos, iam a shows, alguns tiveram até um contato mais próximo com a cantora. Eles viviam ali o luto pela perda que encerrou a carreira de uma das maiores intérpretes da MPB, aos 36 anos.
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A ideia era se contrapor à cobertura de parte da imprensa que se voltava mais à causa da morte de Elis –overdose de cocaína– do que à sua história, afirmando que "Elis vive".
"Movidos pela indignação, a gente tinha de mostrar que ela estava viva. Naquela mesma noite, saímos pichando muros", diz o diretor teatral.
Manifestações semelhantes, com "Elis vive" e "viva Elis", também apareceram em outras capitais, na mesma época.
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João Marcello Bôscoli, filho mais velho da cantora, conta que chegou a receber fotos de alguns locais. Em São Paulo, lembra, havia um grupo chamado Elis em Movimento, com iniciativa semelhante.
"É uma vitória como filho, mas uma vitória que, permanentemente, a gente tem de defender. Num país onde as pessoas são esquecidas, fico contente de não ter acontecido com ela", diz. "Ela tem uma obra e um carisma que a gente não consegue explicar."
Passadas quatro décadas desde a sua morte, Elis parece nunca ter saído de cena, tanto com a obra, quanto em posições que defendia, como feminismo, aborto, política.
Ela tem 2,2 milhões de músicas tocadas por mês no Spotify, segundo levantamento feito por Arthur de Faria, autor de "Elis: Uma Biografia Musical", da Arquipélago Editorial.
"Tu acreditas em cada palavra que ela está dizendo, quando ouve, por exemplo, 'Como Nossos Pais', ela cantando com aquele ódio, aquela frustração, essa intensidade, que nunca é brega, exagerada, é sempre na medida", diz.
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Na capital gaúcha, onde Elis Regina Carvalho Costa nasceu, turistas e curiosos ocasionais ainda passam pela casa 21, na rua Rio Pardo, num conjunto habitacional feito para industriários durante o Estado Novo, e pelo largo em frente, com o nome dela em uma placa de pedra quase apagada.
Marisa Ramos, de 69 anos, lembra a menina com que cresceu, que via cantar e de quem sempre foi fã. "Quando ela foi embora, foi como se uma irmã fosse embora. Ela venceu, é gratificante, mas a gente sentia muita falta", diz. "Fico pensando como ela seria agora. Gostaria de saber como estaria."
Uma estátua de Elis, inaugurada em 2009, na Usina da Gasômetro, um dos cartões-postais da cidade, se tornou ponto bastante visitado em Porto Alegre. Assim como a sala na Casa de Cultura Mário Quintana, que exibe o maior acervo público sobre Elis no país.
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Durante a semana, o Instagram @ccmarioquintana deve divulgar link com material digitalizado do que há na casa.
Um dos itens é a camiseta com a bandeira do Brasil, na qual o nome de Elis substitui "Ordem e Progresso" –ela foi proibida de se apresentar com ela, em plena ditadura, e foi enterrada vestindo a peça.
"Ela não era um Chico Buarque, mas sempre manifestou repúdio à censura, à própria ditadura. Eram posições muito claras", diz Regina Echevarria, autora de "Furacão Elis", da LeYa, e amiga da cantora.
Elis Vive é ainda o nome de um coletivo de torcedoras do Grêmio, em homenagem à sócia 688 do tricolor gaúcho.
No livro que escreveu sobre os 11 anos, seis meses e 19 dias que teve ao lado da mãe, "Elis e Eu", da Planeta, Bôscoli diz que há anos é questionado a respeito do que se lembra.
"Para quem ama, tudo aconteceu anteontem", diz. "Eu nunca quis ficar triste, porque não queria que a minha mãe ficasse triste, onde quer que estivesse. A saudade não é a ausência de alguém, é a presença."
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