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Douglas Germano lança Memorial, em que canta o terror, a esperança e a justiça

Em um hino discreto sobre o Brasil de 2021, Memorial se equilibra entre a ira contra o país oficial e a esperança de uma redenção popular

Bruno Hoffmann

23/03/2021 às 00:02  atualizado em 16/04/2021 às 14:09

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Douglas Germano lança a música Memorial

Douglas Germano lança a música Memorial | Divulgação

O compositor Douglas Germano lançou nesta segunda-feira a música Memorial, em que canta sobre “um tempo de silêncio e terror, de aflição, falta de ar”. E de novo o artista paulistano mostra o que tem de mais vivo: a sua ira sobre o Brasil oficial e sua afetuosidade sobre o Brasil real, do povaréu e das miudezas. Esses sentimentos coexistem em sua obra, seja falando de um torcedor do Palmeiras, da Lei Maria da Penha ou de “um tempo de morte que a gana deu norte”.

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Memorial se inicia como um retrato ríspido e soturno sobre os tempos atuais. De cara aparecem um “um messias que comandava o ódio”, a “jus cega” que colabora e uma “prensa venal” que desinforma. Nada parece bom, como nada está.

Porém, tudo pode mudar, como em um contra-ataque aos 45 do segundo tempo, arrependido. Memorial mostra que os sufocados podem conquistar a redenção. E a vingança. “Em tempo de paz e bonança / A morte não torna a viver / Se a gente, pra além da esperança / Jurar que não vai esquecer”.

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O compositor, um dos mais atentos e importantes de São Paulo há anos, lançou a música pelo YouTube, sem fazer barulho, como de costume. Desta vez, porém, ele surge na tela tocando ao menos seis instrumentos ao mesmo tempo, além de cantar. Certamente ele pode garantir que “seguiu todos os protocolos”, ao fazer aparentemente tudo sozinho.

Douglas Germano chega aos 52 anos com uma carreira consolidada, apesar das músicas ainda estarem menos na boca do povo do que mereciam. A sua obra foge dos clichês como foge da inventividade forçada. Ela só quer ser, com começo, meio e fim. E com raiva e amor, com sede de justiça e com sede de vingança. Não há muitos iguais a ele na história da música nacional.

O compositor já lançou três álbuns, e mudou de patamar com Escumalha, o disco de 2019 em que dedica metade das faixas a cantar o nojo a quem esfola o País de geração em geração e metade para demonstrar sua devoção ao povo brasileiro, como no rio de Manaus em que as águas correm lado a lado. Em Memorial, porém, as águas se misturam. E o resultado é forte. É um hino discreto de um ano que é ruim e pode piorar. E depois melhorar.

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Quando este repórter decidiu escrever esta análise sobre a música, achou importante mandar uma DM para o compositor: “Douglas, tudo bem? Vou escrever sobre Memorial. Quer falar algo sobre ela?”. A resposta chegou menos de um minuto depois: “Acho que não tenho muito pra dizer além do que está lá”.

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