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Primeiro cemitério da capital paulista completa 250 anos em 2025 e pouca gente sabe da sua existência
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Sacristia de igreja no Largo de São Francisco é ornamentada com crânio de franciscano | Thiago de Souza/O Que Te Assombra
A região central da cidade de São Paulo tem vários cemitérios oficiais, mas também guarda uma série de locais de sepultamento de mortos desconhecido do grande público. O primeiro cemitério da capital paulista, inclusive, completa 250 anos em 2025 e pouca gente sabe da sua existência.
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Entre os locais que preservam a memória de personalidades paulistanas históricas estão a Praça da Sé, o Largo de São Francisco, o Largo de Santa Cecília e o Mosteiro da Luz.
“Os cemitérios paulistanos guardam as biografias de pessoas que fazem parte do nosso cotidiano, e a população que caminha pelo centro pode passar na frente de um diariamente sem saber”, explicou Thiago de Souza, idealizador do O Que Te Assombra?, um projeto de memória e visitas a cemitérios da Capital e do interior de São Paulo.
Até o século 18, os mortos católicos de classe alta eram enterrados dentro ou em volta de igrejas de São Paulo. Já os corpos dos mais pobres eram largados onde dava. Isso começou a mudar em 1775, quando foi inaugurado o Cemitério dos Aflitos. O primeiro cemitério público da cidade, no bairro da Liberdade.
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O local recebia restos mortais, principalmente de escravizados de origem africana e de imigrantes pobres.
Uma das personalidades mais conhecidas que está no local é Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, um cabo do Exército negro que morreu enforcado em 1821 após participar de uma revolta contra desmandos da corporação. Na Liberdade também funcionava a forca pública da cidade.
Com o tempo, Chaguinhas se tornou um milagreiro popular (como tantos outros que há no País), e até hoje fiéis vão à Capela dos Aflitos para agradecer por graças alcançadas.
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“Trata-se de um cemitério público que traz essa mensagem de pluralidade, de acolhimento, de convergência de etnias e culturas que é muito a cara de São Paulo”, exaltou Thiago, em entrevista à Gazeta.
Recentemente, parte das luminárias referente à imigração japonesa que atrapalhava a vista da capela foi retirada, como uma forma de exaltar a história negra do bairro.
Na Cripta da Catedral da Sé estão sepultados 15 corpos de bispos portugueses e brasileiros que atuaram na cidade de São Paulo.
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Atrás das escadas de acesso está sepultado o cacique Tibiriçá, um dos primeiros indígenas brasileiros a serem catequizado, morto em 1562.
Neste espaço também se encontra o corpo do primeiro bispo brasileiro, Antônio Joaquim de Mello, de 1861.
O local guarda uma espécie de capela cavada debaixo do altar principal. O espaço tem 619 metros quadrados e 7 metros de altura, piso de mármore de Carrara, em preto e branco, e o teto, cheio de arcos com tijolos, parecidos com os da catedral.
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No Largo de São Francisco, há duas edificações vizinhas que guardam restos mortais de importantes personalidades: a Faculdade de Direito da USP e a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco. Veja:
A igreja charmosa que fica no Largo de São Francisco tem um nome pomposo: Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência. A história dela é melhor ainda.
O espaço religioso começou a ser construído em 1676 e só foi fundado mais de um século depois, em 1787. No local foi sepultada uma série de personalidades históricas da Capital. E do mundo.
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Uma calota do crânio de santa Gaudentia, uma santa católica martirizada por Deocleciano, está no local.
O coração do padre Diogo Antônio Feijó, o Regente Feijó, também está guardado numa urna do local.
Além disso, no jazigo estão os restos mortais do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, patrono da Rota, de Genebra de Souza Queirós e de Barão de Souza Queirós, de Ana Blandina da Silva Prado, além de Brigadeiro Luís Antônio, que dá nome a uma das avenidas mais conhecidas da cidade.
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Por fim, a sacristia é ornamentada por um impressionante crânio de um irmão franciscano.
Entre os estudantes da Faculdade de Direito da Faculdade de São Francisco, da USP, está o mausoléu do alemão Julio Frank, primeiro professor de História e Geografia do chamado Curso Anexo, que era preparatório para os exames de ingresso no Curso Jurídico.
Ele morreu em 1841, com apenas 31 anos, e com o passar do tempo tornou-se um mito para os estudantes da faculdade, principalmente pela sólida formação cultural aliada por ideais de liberdade política e igualdade social.
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Como era protestante, não podia ser enterrado nas igrejas católicas da cidade. Depois de uma longa discussão, um grupo formado por discípulos e professores realizou seu enterro no pátio menor da academia, em frente à sala na qual o professor ministrara suas aulas.
Pouco depois foi providenciado o túmulo, ainda hoje existente.
O crânio e parte dos cabelos de Santa Donata, uma mulher que viveu no norte da África no século 2, estão na Paróquia de Santa Cecília. Isso porque o papa São Pio 10º decidiu dar o presente para São Paulo em 1909, quando a cidade foi elevada a arquidiocese.
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A ossatura da santa foi revestida com uma imagem de cera que reproduz o corpo da mulher, e os cabelos permanecem expostos.
Ao ser fundado, no século 18, o Mosteiro da Luz foi utilizado também como cemitério. A parte interna era reservada às Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição que residiam no recolhimento.
No local está o túmulo de Frei Galvão, oficialmente o primeiro santo brasileiro, o que causa constante peregrinação de romeiros e devotos para o endereço.
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Entre 2008 e 2010, uma equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP encontraram 11 remanescentes humanos de religiosas, com datações entre o fim do século 18 até meados do século 19.
Fora do centro, o Parque Ibirapuera mantém dois locais que funcionaram como cemitério. Um deles para animais.
Dentro do parque, perto da pista de corrida, há uma lápide exposta, com a inscrição: "Ao nosso fiel amigo Pinguim".
O Pinguim em questão não era uma pessoa e nem a ave que vive preferencialmente na Antártida, mas um cachorro. Isso porque o local foi por mais de 100 anos um cemitério voltado a animais de estimação.
No espaço funcionava a sede da União Internacional Protetora dos Animais, que abria o terreno para quem queria dar uma despedida solene ao melhor amigo do homem.
Em 1974, quando a união precisou mudar de endereço, quase toda as lápides foram destruídas. Sobrou a de Pinguim e a de Fiel, um pastor alemão que também teve o seu descanso eterno dentro do Ibirapuera.
Na lápide, mostra a data do nascimento e da morte do Pinguim (5 de março de 1937 e 5 de junho de 1946), finalizada com o nome dos tutores: "Eternas saudades. Dos seus donos Nina e Nice".
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi perdida pelos paulistas, mas se tornou símbolo de orgulho para parte da população. O Obelisco do Ibirapuera, iniciado em 1947 e entregue de vez na década de 1970, se tornou símbolo da cidade. E também repouso eterno para parte dos combatentes que lutaram a favor de São Paulo na ocasião.
O interior guarda o resto mortais de 7013 pessoas, entre as quais estão os jovens Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mortos no dia 23 de maio de 1932 durante uma manifestação popular contra o governo do então presidente Getúlio Vargas.
A sigla MMDC se tornou popular por causa deles, e a avenida 23 de Maio também foi nomeada em homenagem ao quarto.
Além disso, os quatro lados do monumento-mausoléu estão voltados para os pontos cardeais e suas paredes apresentam esculturas e altos-relevos com a história de São Paulo.
Também fora do centro, o Museu do Ipiranga guarda o corpo do imperador Pedro 1º, personagem central da Proclamação da Independência do Brasil.
Além dos restos mortais do imperador, no museu estão expostos os mausoléus da sua mulher, Maria Leopoldina da Áustria, e de Amélia de Leuchtenberg, a segunda mulher.
Uma curiosidade: apesar do corpo dele estar no Brasil, o coração de dom Pedro 1º está em uma igreja de Portugal.
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