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Artista lança primeiro álbum realmente solo da carreira e diz que busca se conectar a culturas 'fora do eixo'; BNegão também fala sobre política, Planet Hemp, drogas e amor por Dorival Caymmi
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O compositor BNegão visitou a redação da Gazeta nesta semana | Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo
Com uma das carreiras mais criativas da história da música brasileira, BNegão acaba de lançar Metamorfoses, Riddims e Afins, álbum que trazia na cabeça há décadas, mas que só agora conseguiu dar vida e movimento.
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O seu primeiro disco verdadeiramente solo – os feitos com a banda Seletores de Frequência eram trabalhos coletivos, afirmou – se trata de uma busca do artista para exaltar os saberes dos povos do Sul Global, que criam e recriam arte longe da aprovação da Europa e dos Estados Unidos.
“A geopolítica para mim é um negócio fundamental. Dentro da minha criação, da minha visão de mundo, tenho muito de Milton Santos, muito de Darcy Ribeiro, nesse negócio de pensar o Brasil e o mundo. A minha ideia foi a de fazer um manifesto do Sul Global”, afirmou, em entrevista Direto da Gazeta, na redação da Gazeta, nesta sexta (7/2).
Na conversa, o artista também fez um mea culpa sobre a demora para conhecer profundamente a produção musical latino-americana, desmanchou-se a artistas brasileiros como Dorival Caymmi e destacou a originalidade do Planet Hemp, grupo do qual é um dos integrantes históricos e que permanece na ativa até hoje.
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Para BNegão, o jeito de um brasileiro conhecer a produção cultural de países da América Latina, da África e da Ásia para por uma ação ativa, já que passivamente só se tem contato com a feita pelos grandes mercados europeus e norte-americanos.
Ele lembrou quando, há muitos anos, ouviu uma banda de ska da Venezuela chamada Desordem Pública, em um festival na Europa, e se sentiu envergonhado por nunca ter ouvido falar. “E, pior, um dos músicos da banda me reconheceu e veio contar que ouvia minhas músicas”, disse.
“Fiquei metade muito feliz, porque o cara acompanhava a minha parada, e a outra metade ficou tipo aqueles desenhos que o cara vai diminuindo. Que vergonha, cara”, lembrou, condoído.
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Desde então, se deu a missão de sempre ir buscar ativamente a produção cultural de todos os povos do mundo “fora do eixo Europa-Estados Unidos”, o que resultou no álbum lançado agora.
Hoje, se revela próximo da cumbia, do afrobeat e de outros gêneros estéticos contemporâneos relacionados aos países em desenvolvimento. “É de uma riqueza enorme”, destacou.
Na sua visão, a mistura de gêneros e a estética propostas pelo Planet Hemp – que mantém até hoje ao lado de Marcelo D2 e outros companheiros – foram revolucionárias para a música popular nacional.
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O artista classificou a banda de "som urbano" que misturava rap, rock, hardcore e ska. Essa mistura de estilos era algo inédito na época, e contribuiu para a criação de um som único e característico do conjunto.
“A banda foi tão revolucionária que causou estranheza em todos os meios quando surgiu. Por exemplo, em São Paulo éramos mais vistos como uma banda de rock do que de rap, em outros era ao contrário”, afirmou.
A popularização do grupo se deu por rádios alternativas cariocas, principalmente a Rádio Fluminense, considerada por ele fundamental para a expansão de conhecimentos artísticos para os jovens da época.
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Ele garantiu, também, que o Planet não se inspirou em nenhuma outra banda da época, seja nacional, seja estrangeira.
“O estilo do Planet Hemp já existia antes do lançamento do primeiro CD do Rage Against the Machine, por exemplo, embora houvesse semelhanças e comparações posteriores”, contou.
A defesa da descriminalização da maconha, característica central da obra do Planet Hemp, também foi importante para aprofundar um debate público sobre o tema. Hoje, ele considera que é muito mais fácil tocar no assunto do que nos anos 1990.
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“Antigamente, só se falava de maconha nas páginas policiais. O mundo avançou, e o Brasil também. Antigamente não existia isso de discutir publicamente sobre o tema”, destacou.
Por outro lado, o artista destacou que permanece uma visão conservadora sobre o tema, o que causa alguns problemas em shows do Planet Hemp até hoje.
Ele também afirmou que nunca pensou em parar de consumir maconha, mas alertou que há pessoas em que o consumo não é indicado, por questões do organismo.
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BNegão destacou um projeto paralelo para cantar canções de Dorival Caymmi. Para ele, Canções Praieiras é o melhor álbum já produzido no País.
“Dorival Caymmi é um dos melhores músicos do mundo. Pode ter alguém igual. Superior, não. Ele é um avatar, algo como um orixá”, disse, encantado.
O projeto BNegão Canta Caymmi vai contar com as músicas de Canções Praieiras e de outras com temas relacionados ao mar.
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“Todos os grandes nomes da música brasileira se reportam a Caymmi. Ele é o maior, o maior”, insistiu.
Veja agenda de shows de BNegão para o primeiro semestre:
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