Divertida Mente 2: veja análise de psicólogo sobre novas emoções do filme

Sucesso dos estúdios da Disney Pixar, Divertida Mente retornou com o segundo filme da franquia e com a introdução de novas emoções para a continuação. Tratam-se de: ansiedade, inveja, tédio, nostalgia e vergonha.

A Gazeta conversou com o psicólogo clínico Odair Albuquerque de Freitas Junior (CRP : 06-148620), que fez uma análise profissional sobre os novos sentimentos impostos no filme, especialmente sobre o impacto deles no público infanto-juvenil.

Veja mais abaixo.

O que são as novas emoções do filme Divertida Mente 2?

O especialista fez uma análise individual de todos os novos sentimentos do longa.

Tédio

O tédio é um sentimento caracterizado pelo desinteresse ou falta de entusiasmo em relação a atividades ou experiências e pode ser agravado devido ao tempo livre excessivo e pela pressão crescente do mundo ao seu redor. .

Na adolescência, esse sentimento pode surgir com mais frequência, especialmente durante períodos de rotina e monotonia. O tédio é muitas vezes uma resposta emocional às obrigações diárias e à forma como o adolescente começa a se relacionar com as expectativas da fase adulta. O tédio pode se manifestar como uma sensação de vazio ou insatisfação, onde nada parece interessante ou estimulante.

"Na tentativa de escapar do tédio, muitos adolescentes recorrem a jogos eletrônicos, séries, filmes e ao uso excessivo do celular. Embora essas atividades ofereçam uma fuga temporária, o uso abusivo pode substituir interações sociais reais e atividades produtivas, agravando a sensação de tédio", afirmou Odair Junior.

"É importante que os adolescentes aprendam a se relacionar com o tédio e não apenas a fugir dele, pois enfrentar essa sensação pode levar ao desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e ao crescimento pessoal", concluiu.

Inveja

A inveja é um sentimento de descontentamento ou ressentimento em relação às vantagens, conquistas ou posses de outra pessoa. Na adolescência, um período marcado por intensas comparações sociais, a inveja pode surgir com frequência. Contudo, o especialista afirmou que esta emoção não é totalmente negativa.

"Além de ser muitas vezes vista como uma emoção negativa, a inveja também pode ser um motor de desenvolvimento. Esse sentimento pode incentivar os adolescentes a buscar autonomia, melhorar a si mesmos e fortalecer seu senso de identidade".

Quando canalizada de maneira saudável, a inveja pode motivar os jovens a definir e alcançar seus próprios objetivos, promovendo o crescimento pessoal, a autoestima e ajudar no amadurecimento.

"Ao reconhecer e entender seus sentimentos de inveja, os adolescentes podem aprender a transformar essa emoção em uma força positiva, usando-a como impulso para se desenvolverem e se tornarem indivíduos mais completos e realizados", concluiu.

Vergonha

É um sentimento de constrangimento ou embaraço, especialmente em situações sociais. A adolescência é uma fase em que a percepção dos outros e a autoimagem são extremamente importantes.

"Crescer é complicado, e a vergonha surge da sensação de inadequação perante o social e as mudanças internas e externas. O adolescente, por falta de estruturação e mecanismos internos para lidar com essas mudanças, sente vergonha e não compreende alguns processos naturais do cotidiano", iniciou Odair Junior.

Um exemplo comum apresentado pelo psicólogo é o do constrangimento que o adolescente sente quando os pais o buscam na escola, fazendo-o sentir-se infantilizado, embora isso não seja verdade. Essa reação é uma evidência da vergonha e da busca constante por aprovação externa e interna.

As mudanças corporais e hormonais também têm grande impacto.

"Estas mudanças geram questionamentos frequentes do tipo 'eu era assim, agora estou me tornando assim, será que gosto do que vejo? E os outros, gostam?'. A vergonha, portanto, é um sentimento complexo e natural no processo de amadurecimento, refletindo a luta do adolescente para compreender e aceitar sua nova identidade em desenvolvimento.", finalizou.

Nostalgia

A nostalgia é um sentimento de saudade em relação a um tempo passado, frequentemente associado a lembranças felizes ou seguras. Embora seja mais prevalente em adultos, os adolescentes também podem experimentar esse estado emocional ao recordar a infância.

"O processo de crescimento e a transição da infância para a adolescência podem provocar um luto emocional, e a nostalgia muitas vezes emerge como uma expressão desse luto. Durante a adolescência, os jovens enfrentam diversos desafios e expectativas, tornando essa fase complexa e desafiadora. Nesse contexto, a nostalgia serve como um refúgio emocional, oferecendo uma sensação de segurança e conforto internos", explicou o especialista.

Ainda segundo Odair Junior, ao revisitar memórias felizes do passado, como momentos de apoio familiar ou vivências gratificantes, os adolescentes encontram um meio de lidar com as transformações e incertezas do presente de forma mais equilibrada.

"A nostalgia também desempenha um papel crucial na consolidação da identidade adolescente. Ao reviver experiências positivas e reconfortantes, os jovens reafirmam sua própria identidade e reforçam sua autoconfiança. Isso contribui para enfrentarem os desafios da adolescência com maior resiliência e otimismo, lembrando-se de que, apesar das mudanças inevitáveis, estão em constante crescimento", concluiu o psicólogo.

Ansiedade

A ansiedade é uma reação caracterizada por uma sensação de nervosismo, preocupação ou medo em relação a eventos futuros ou situações desconhecidas. No contexto da adolescência, tal sentimento é frequente devido às múltiplas mudanças e pressões sociais e acadêmicas inerentes a essa fase do desenvolvimento.

"É uma resposta natural do indivíduo diante do desconhecido, buscando segurança e estruturação, uma experiência comum a todos os indivíduos, desempenhando um papel essencial na elaboração de desafios e na construção de mecanismos de segurança individuais", iniciou.

Conforme Odair Junior, durante o processo de transição da adolescência para a fase adulta, e da infância para a adolescência, é esperado que os jovens experimentem a ansiedade de forma mais intensa. Contudo, quando esse sentimento é acolhido e gerenciado de maneira positiva pelos adultos significativos, como pais, familiares e professores, torna-se um processo mais manejável.

"O apoio e a orientação adequados podem auxiliar o adolescente no desenvolvimento de habilidades para enfrentar a ansiedade de modo construtivo, transformando-a em um estímulo para o crescimento pessoal e a adaptação a um ambiente repleto de desafios e incerteza", explicou.

Como saber quando essas emoções deixam de ser normais e se tornam "problemas" ?

De acordo com o psicólogo, antes de tudo, é importante observar o impacto dessas emoções nas atividades diárias do indivíduo. Se elas interferirem significativamente na capacidade de realizar tarefas cotidianas, como trabalho, estudo ou cuidados pessoais, isso pode indicar um problema.

Além disso, se as emoções negativas afetarem negativamente os relacionamentos interpessoais, gerando conflitos constantes ou isolamento social, isso também pode ser um sinal de alerta, apontou Odair Junior.

"É crucial notar que podem se manifestar não apenas mentalmente, mas também fisicamente. Por exemplo, sintomas como dores de cabeça frequentes, problemas gastrointestinais, distúrbios do sono e tensão muscular crônica podem surgir devido ao estresse emocional prolongado", disse.

Ainda de acordo com o especialista, a sensação de paralisia emocional, na qual o indivíduo se sente incapaz de agir, tomar decisões ou enfrentar desafios, também é um indicativo de que as emoções estão se tornando um problema. O mesmo se aplica à evitação constante de situações desafiadoras, que pode limitar o crescimento pessoal e profissional.

A família deve se atentar caso as emoções dos filhos durem muito tempo. "Fundamental observar a duração e a intensidade das emoções, especialmente se elas persistirem por um longo período ou se tornarem cada vez mais intensas. Feedbacks de familiares, amigos ou colegas também podem fornecer informações importantes, pois eles podem perceber mudanças no comportamento, humor ou funcionamento do indivíduo que possam indicar um problema emocional."

Quando esses sinais e sintomas estão presentes e causam sofrimento significativo ou interferem substancialmente na qualidade de vida, é recomendável buscar ajuda profissional.

"Um psicólogo, psiquiatra ou outro profissional de saúde mental pode avaliar a situação de forma mais detalhada, oferecer um diagnóstico adequado e recomendar o tratamento mais adequado, que pode incluir terapia, medicação ou uma combinação de ambos", finalizou Odair Junior,
 

Sobre Divertida Mente 2

Continuação do filme homônimo dos estúdios da Disney Pixar, o longa conta a história das emoções que moram na cabeça de uma garota chamada Riley. Ansiedade, inveja, tédio, nostalgia e vergonha se juntam a alegria, raiva, tristeza, medo e nojinho. Essas emoções são responsáveis por guiar as ações da jovem ao longo de seu cotidiano.