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Cotidiano
A reportagem procurou a PF e o MPF neste sábado (30) para confirmar as informações, mas não obteve resposta
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*Foto meramente ilustrativa | Arquivo/Agência Brasil
Os yanomamis estão com muito medo de falar sobre o suposto estupro e morte de uma menina de 12 anos porque foram silenciados e ameaçados, disse à reportagem o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY).
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Foi ele quem trouxe o caso à tona em um vídeo nas suas redes sociais na última segunda (25) e quem visitou a região em Roraima na quarta (27) e na quinta (28), junto a equipes da Polícia Federal, Ministério Público Federal, Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
No primeiro dia, o grupo encontrou um acampamento ilegal de garimpeiros que fica a 500 metros da aldeia. Ele conta que avistou dois helicópteros indo embora quando estavam chegando. Pousaram e, 40 minutos depois, apareceram três adultos e três adolescentes indígenas. Conversaram com dois deles.
"Os yanomamis estavam com muito medo de falar. Eles diziam: 'Não sei, não sei', 'eu sou gerente dos garimpeiros', 'tem pistola, tem pistola'. Aí perguntei onde estava a comunidade e disseram que estava no mato. Eles não falavam absolutamente nada. Foram bem orientados, eu percebi isso", afirma Júnior.
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Um vídeo gravado por garimpeiros dias antes mostra um homem falando com parte desses indígenas: "Estão dizendo que mataram uma índia, estupraram e jogaram, viemos aqui para relatar que isso é uma mentira. Isso é uma verdade ou uma mentira? Aconteceu?", pergunta ele às quatro pessoas, que apenas balançam a cabeça e dizem "não".
Júnior acrescenta que, na quarta-feira, "os indígenas só queriam salvar materiais dos garimpeiros: geladeira, freezer, televisão. O delegado falou que não podiam levar, mas mesmo assim levaram algumas coisas". Durante as duas horas em que permaneceu ali, a PF destruiu parte do ponto de logística.
Segundo ele, havia cerca de seis barracos, pontos de internet, geradores, milhares de litros de combustível para os helicópteros e barcos (que foram inutilizados ou queimados), muitas anotações e documentos, carne e quilos de cassiterita, um minério encontrado na região.
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Apenas cinco a dez minutos de barco e caminhada separam o acampamento da aldeia Aracaçá, para onde a comitiva seguiu no dia seguinte, quinta. Ali, porém, eles só encontraram as casas queimadas, sem ninguém. Antes moravam cerca de 25 pessoas.
"[Não tinha] nenhum sinal dos yanomamis nem de quem apareceu no primeiro dia. Percebi que tinha a marca de cremação de um corpo. Quando um yanomami morre, a gente crema o corpo para ritual, para ficar junto da família. Em seguida abandonaram a comunidade. Estão dentro da mata", acredita Júnior.
A reportagem procurou a PF e o MPF neste sábado (30) para confirmar as informações, mas não obteve resposta. Após a ida à aldeia, os órgãos divulgaram notas parecidas informando apenas que não encontraram indícios de crimes na região e afirmando que as apurações continuariam.
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"É uma situação muito grave. Não pode concluir a investigação com duas horas de visita. Tem que ser continuado", cobra Júnior. "A Polícia Federal só queria ver se o corpo estava lá", acrescenta o líder indígena, que também pede a apuração de outros supostos crimes contra yanomamis.
Ele recebeu informações da comunidade vizinha de que uma criança de cerca de 3 anos da aldeia Aracaçá também caiu no rio na última semana e está desaparecida. Um outro bebê recém-nascido teria sido levado recentemente para Boa Vista por um garimpeiro que alegava ser pai da criança.
Com o medo de denunciar, as informações seguem desencontradas, afirma. "Queremos que o governo federal, o Exército, retire os garimpeiros urgentemente. Estão sujando o rio, retirando tudo, afastando os animais. O povo Yanomami está ameaçado, tomando água contaminada de mercúrio, não consegue mais buscar sua espiritualidade", critica.
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