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Cotidiano

Venda de sobras é 'forma criativa de mostrar alternativas', diz associação de supermercados

É 'até uma forma criativa de mostrar alternativas, vamos dizer assim', disse o vice-presidente da Abras

15/07/2022 às 09:30  atualizado em 15/07/2022 às 09:35

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Supermercado vende pele de frango a quase R$ 3 o quilo

Supermercado vende pele de frango a quase R$ 3 o quilo | Reprodução/Twitter

O vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, afirma que a venda de produtos como carcaça, pele de frango e sobras de alimentos, que vem ganhando espaço como alternativas mais baratas diante da inflação, está dentro da lei.

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Em entrevista a jornalistas nesta quinta (14), ele definiu esses produtos como uma forma criativa de mostrar alternativas para quem procura algo diferente.


Questionado se a Abras orientaria os estabelecimentos sobre o tema, Milan declarou que todos os produtos comercializados pelos supermercados estão dentro de legislação regulada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e que esses casos são pontuais.


"Tem algumas medidas que chamamos de coisas pontuais, que acabam ocorrendo em determinadas lojas ou em determinadas regiões, muitas vezes para atender e até uma forma criativa de mostrar alternativas, vamos dizer assim, para aquele consumidor que eventualmente está procurando algo um pouco diferente."

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Para Rodrigo Afonso, diretor-executivo da organização não governamental Ação da Cidadania, a venda de itens que costumavam ser descartados ou doados, como no caso das carcaças, é uma tentativa dos supermercados de lucrar com a fome.


"Você vê pessoas vendendo carcaças, ossos, tudo isso... Por mais que seja pontual, é um absurdo que os supermercados deixem isso acontecer."


Ele diz que a situação piorou com o crescente número de brasileiros passando fome. "As populações não conseguem consumir os produtos que eles vendem, e o pouco que conseguiam usar de sobras, agora estão sendo vendidos também para tentar arrumar alguma maneira de lucrar com isso."

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Reportagem Agência Mural e do jornal Folha de S.Paulo mostrou, por exemplo, o caso de Josefa da Silva, moradora de Osasco (Grande SP), que depende de sobras de feira e doações para alimentar família. Ela conta ter percebido a diferença.


"Aqui perto de casa que já conhecem a gente, pegamos restos de carcaça, de frango, de gordura, quando dão, mas está muito difícil de dar também, porque agora tudo eles colocam para vender."


SITUAÇÃO É REFLEXO DA CRESCENTE DESIGUALDADE SOCIAL

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André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o cenário é retrato da situação econômica do país e seu reflexo no poder aquisitivo das famílias. "Eu não acho isso normal, acho que é retrato de uma situação que a gente tem de mudar, e a mudança vem no combate à desigualdade que se inicia com os investimentos em educação."


Para o economista, o contrário vem acontecendo. "O que a gente vê na propaganda política e mesmo na PEC que saiu agora é combater a inflação com certo artificialismo, redução de imposto, o que deixa esse cobertor cada vez mais curto."


"Como vai ficar a verba para saúde, para educação, com essas reduções, em que as prefeituras e estados terão que arcar com redução de ICMS de telecomunicação, de energia, de gás, de gasolina?", questiona Braz.

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"Imposto na gasolina, cigarro, bebida, em supérfluos ou bens de luxo são bem-vindos em um país desigual como o nosso, exatamente para diminuir a chance de ocorrerem coisas como essa", conclui o economista.


METADE DO VALOR DOS AUXÍLIOS DEVE IR PARA MERCADOS, DIZ SETOR


A Abras estima que cerca de 50% a 60% dos recursos extras disponibilizados às famílias por meio dos auxílios aprovados na PEC (proposta de emenda à Constituição) Kamikaze poderão ser destinados ao setor, ainda que os dados sejam preliminares.

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"A gente acredita que algo em torno de 50%, 60%, desse valor viria para o consumo dos lares", disse Márcio Milan, vice-presidente institucional e administrativo da Abras, nesta quinta-feira a jornalistas.


Os cálculos não estão finalizados, e levam em conta, segundo ele, todos os benefícios acoplados à PEC, como os aumentos do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás e a criação de auxílios a caminhoneiros e taxistas.
Milan também mencionou o fato de bares e restaurantes estarem abertos, o que não ocorreu no auge da pandemia da Covid-19, o que deve gerar demanda adicional destes estabelecimentos.


CRESCIMENTO

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A Abras manteve a estimativa para 2022 de crescimento de 2,8% no consumo dos lares, indicador elaborado pela entidade e que contempla as vendas de todos os formatos de varejo alimentar operados pelo setor supermercadista. Milan disse, porém, que a projeção pode ser revisada em julho.


A PEC eleva o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 mensais até o final do ano e infla ou cria outros programas sociais. Os críticos chamam a atenção para o impacto fiscal estimado de R$ 41,25 bilhões e a proximidade das eleições.


As medidas têm validade apenas até o final do ano e a expectativa é que os benefícios comecem a ser pagos a partir de agosto.

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Milan disse que os supermercados estão realizando "negociações mais planejadas e estruturadas" com a indústria alimentícia para avaliar a necessidade de alguns aumentos de preços. O executivo negou que haja risco de uma escassez ampla de produtos nas gôndolas, ressaltando porém que rupturas individuais são normais da operação do setor.

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