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Cotidiano

USP desenvolve software que promete evitar quedas de árvores e salvar vidas

Software desenvolvido é capaz de escanear e reduzir queda de árvores na capital paulista

Nilson Regalado

29/03/2025 às 06:59  atualizado em 29/03/2025 às 08:50

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Após a tempestade do último dia 12/3, pelo menos 330 árvores caíram na cidade

Após a tempestade do último dia 12/3, pelo menos 330 árvores caíram na cidade | Edi Sousa/Ato Press/Folhapress

As águas de março dão adeus a mais um verão caótico em São Paulo. Só na tempestade do último dia 12, pelo menos 330 árvores caíram na cidade. 

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Um taxista morreu após o táxi em que ele estava ser atingido por uma queda de árvore, na rua Senador Queiroz, no centro histórico, na região da Sé.

Naquele dia, a ventania também derrubou um chichá nativo da Mata Atlântica com mais de 200 anos caiu sobre o Largo do Arouche.

Cupins, fungos, podas erradas, a escolha de espécies inadequadas para calçadas estreitas e o estrangulamento das raízes pelo concreto são as principais causas desses incidentes, que colocam a vida e o patrimônio dos paulistanos em risco, além de provocar quedas constantes no fornecimento de energia elétrica.

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Os transtornos são tantos que cientistas da USP acabam de desenvolver um software capaz de fazer o escaneamento e produzir imagens tridimensionais das árvores, orientando com precisão as podas e reduzindo o risco de quedas.

Com isso, o algoritmo otimiza as podas e a saúde das árvores dos mais de 650 mil elementos de 637 espécies que compõem a floresta urbana.

O software conta com equipamentos a laser e foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), do Instituto de Biociências (IB-USP) e da Escola Politécnica (Poli-USP). O trabalho une biologia, matemática e mecatrônica.

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Segundo os cientistas, o primeiro passo é fazer um escaneamento a laser das árvores para captar em pontos diferentes imagens tridimensionais colocadas em um modelo computacional.

Para fazer a modelagem, o grupo desenvolveu uma combinação de software e chegou a um “algoritmo de poda”, com o objetivo de manter o equilíbrio da árvore.

O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), em parceria empresas privadas e voltado a estudos em bioenergia, agricultura e ciências ambientais para mitigar efeitos das mudanças climáticas.

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“As árvores, assim como outras formas na natureza, são estruturas que utilizam apenas o material essencial em sua configuração física. Se você faz uma poda errada, pode provocar fraqueza nessa estrutura. Com o software que desenvolvemos, conseguimos avaliar as deformações, até mesmo a deflexão das árvores devido aos ventos. Com isso, é possível ter um diagnóstico e orientar a poda de forma mais precisa”, explica Emílio Carlos Nelli Silva, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e Sistemas Mecânicos da USP e vice-diretor científico do RCGI, em entrevista à Agência Fapesp de Notícias.

Pesquisa prática na USP

Nas primeiras análises, realizadas no campus da USP, em São Paulo, os pesquisadores fizeram uma poda de até 20% da copa com base no algoritmo e conseguiram manter o equilíbrio da árvore. Em outro ensaio, com outro tipo de corte, houve aumento dos pontos de fraqueza, com mais possibilidade de queda.

Normalmente, a poda em área urbana é realizada em um plano de manejo ambiental dos municípios para compatibilizar a estrutura do vegetal ao convívio humano, com foco na saúde da árvore, mantendo sua resiliência e equilíbrio.

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A definição de como será a poda em cada árvore é feita por técnicos ou profissional responsável pelo serviço, no limite de 30% da copa.

“O ser humano não tem a capacidade de fazer essa poda tão precisa como conseguimos usando o escaneamento com algoritmo. Ainda não calculamos o porcentual que o software é capaz de evitar de queda de árvores com a poda mais precisa, mas conseguiremos em breve”, salienta Marcos Buckeridge, professor do Departamento de Botânica do IB-USP e vice-diretor do IEA.

“Cânions urbanos”

“Essa ferramenta vem de uma sequência de trabalhos, que agora conta também com a equipe da engenharia. O próximo passo é uma aproximação com a meteorologia para estudar a velocidade e o direcionamento dos ventos em tempestades. Isso nos ajudará a detectar o lado mais fraco da copa ou se a árvore está em uma área de canalização de vento. Assim, poderemos melhorar a poda e evitar plantio em locais de vento mais forte”, completa Buckeridge.

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Pesquisa publicada em 2024 mostrou que as podas drásticas, juntamente com o estado da madeira e o estrangulamento da raiz pelas calçadas, podem indicar a queda futura de árvores em cidades.

Entre os principais fatores em áreas urbanas que influenciam a queda estão a altura dos prédios no entorno, a idade do bairro, a largura da calçada e a altura da árvore.

Com a verticalização, elas enfrentam condições desfavoráveis nos chamados “cânions urbanos”, ou seja, fileiras contínuas de edifícios altos que alteram a velocidade do vento local, a dispersão da poluição e os padrões de iluminação e microclima, contribuindo com a queda precoce.

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Maçã de Isaac Newton e Lei da Gravidade inspiraram a pesquisa

O professor Emílio Carlos Nelli Silva conta que a ideia do software surgiu durante um almoço com o pesquisador Marcos Buckeridge em um restaurante de São Paulo.

O local abriga em seu interior uma centenária Figueira-de-bengala (Ficus benghalensis), cujo plantio é estimado na década de 1890. Do gênero Ficus, ela tem altura de cerca de 6 metros, com diâmetro da copa de aproximadamente 46 metros.

“Sabia que o Buckeridge trabalhava com essa linha de estudo e eu sempre tive curiosidade sobre as árvores, com estruturas complexas e difíceis de modelar em computador. Então pensamos: por que não usar um algoritmo para restaurar a otimização dessas estruturas por meio da repoda? Foi aí a inspiração da pesquisa”, relembra o professor, especialista em mecânica computacional.

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Nelli Silva explica que a natureza frequentemente inspira estudos de otimização estrutural e frutos como a maçã podem servir de modelo para análises.

“O formato da maçã possui a menor tensão mecânica sujeita a peso próprio. Ela tem uma massa apoiada em um ponto que é o caule. Partimos da ideia de que, se é possível analisar a estrutura otimizada da maçã, seria também com a árvore.”

Na ciência, uma história famosa envolvendo o fruto e que até hoje rende pesquisas e dúvidas é a do físico inglês Isaac Newton, que teria concebido a Lei da Gravitação Universal ao observar a queda de uma maçã de sua árvore.

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Próximos passos 

Ao fazer a modelagem a partir das imagens obtidas pelo equipamento a laser, é possível chegar a uma espécie de “arquitetura” da árvore – etapa que contou com a colaboração do professor da USP Marcelo Zuffo, um dos pesquisadores do projeto “CID-SP Emergências: Centro de Inteligência de Dados em Saúde Pública”, apoiado pela Fapesp.

Nessa primeira etapa, as análises foram realizadas pela copa. O grupo pretende agora inserir informações das raízes.

“A metodologia abre uma perspectiva para fazermos novas simulações computacionais, customizadas para cada espécie. O método é escalável para mapear árvores de uma cidade toda”, conta Nelli Silva.

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Prefeitura e startups 

De acordo com Buckeridge, algumas prefeituras, entre elas a de São Paulo, já procuraram o grupo para viabilizar o uso do software.

“Estamos conectando a ciência ao desenvolvimento da tecnologia para enfrentarmos as mudanças climáticas. Queremos aumentar a velocidade de análise do software e reduzir o custo. Isso abre caminho para startups que queiram ajudar no serviço. Quanto mais árvores tivermos, melhor será a resiliência das cidades às mudanças climáticas”, completa o vice-diretor do IEA.

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) da Prefeitura de São Paulo informou à Agência Fapesp estar “em tratativas para conhecer o software e avaliar sua aplicabilidade nos serviços de manejo arbóreo da cidade” no compromisso com a adoção de tecnologias que aprimorem a gestão ambiental.

A secretaria disse ainda que analisará de que forma a ferramenta pode contribuir com a poda preventiva e a redução do risco de queda de árvores, especialmente durante temporais.

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